Jesus é o consagrado por Deus e dado à humanidade. Ele vai à casa de Seu Pai, e não seria errado dizermos: Ele vai à Sua casa. Na fragilidade da criança contempla-se a luz que irradiaria em meio a um mundo tenebroso. Por isso, a Liturgia hodierna convida-nos a contemplarmos também a luz, símbolo que, de certa forma, assume hoje uma característica peculiar. Detenhamo-nos agora na primeira leitura, sendo que nos é apresentado Malaquias e Hebreus (por ser dia de semana faz-se apenas uma), nos deteremos neste ano na profecia de Malaquias.
“Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; logo chegará ao seu templo o Dominador, que tentais encontrar, e o anjo da aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; e quem poderá fazer-lhe frente, no dia de sua chegada? E quem poderá resistir-lhe, quando ele aparecer?” (3, 1-2).
Chegará o Dominador. Sim! A apresentação de Jesus já havia sido prefigurada por Malaquias. Ele é o Dominador que tudo tem sob Si, o “Senhor dos exércitos”. Mas seu domínio não é comparado aos dos reis e soberanos deste mundo. Seu poder não é de escravidão! Ele não domina para Si, apesar de ser Deus. Pelo contrário: O Domínio de Jesus consiste sobretudo na verdade e na justiça; no amor e na compreensão.
Mas encontramos nesta leitura algo que dirige o nosso olhar também para a escatológica vinda do Senhor. Assim como há mais de dois mil anos, também na Sua vinda ninguém poderá resistir-lhe e fazer frente aos seus desígnios. Somos chamados a um renovado apelo de vivência e experiência da santidade, para que, na vinda do Senhor, sejamos também nós convidados a participarmos do seu banquete. Também a sua Onipotência é confirmada pelo salmista que leva-nos a cantar: “O rei da glória é o Senhor onipotente” (Sl 23). E hoje, ao contemplarmos nosso mundo dilacerado pela violência, pela falta de fé, por uma cultura desregrada da sexualidade, por uma aparente autossufuciência, queremos também elevar a Deus uma oração de súplica: Senhor concede paz aos nossos dias. Dá-nos a Tua paz, e não a paz passageira que o mundo aparentemente oferece. Faz com que o clarão da vossa luz salvífica brilhe sobre todos os homens, sobretudo aqueles que se enveredam pelas estradas da escuridão. Que a vossa glória seja plenamente manifestada Senhor! Que a nossa humanidade reconheça em Ti o Senhor da glória, que nos liberta de toda a tentação e obscuridade dos nossos olhos da fé!
Estando no Templo concretiza-se a profecia que nos foi citada na primeira leitura. Ao ver o Menino que era ofertado, Simeão faz duas afirmações que caracterizam as ações messiânicas e toda a vida de Jesus. Estavam, por assim dizer, intrínsecas a sua missão. Elas relacionam-se com a sua Paixão e Ressurreição. Temos dois adjetivos atribuido-Lhe: “luz das nações” e “glória do povo de Israel” (Lc 2, 32). A luz que Jesus não apenas simboliza, mas realmente É, encontra pleno ápice na sua Ressurreição, de onde a humanidade, revigorada por tão grande mistério de amor, é imersa nesse profundo clarão, que investe, com toda sua força, contra os poderes maléficos. Por isso, a procissão das luzes feita hoje remete-nos ao glorioso sábado em que Cristo passa da morte à vida.
E agora encontramo-nos diante da afirmação: “Glória do povo de Israel”. Talvez muitos que ali estivessem pensassem: como poderia na fragilidade de uma criança residir a glória de todo o povo? Mas, precisamente naquela fragilidade, Deus mostra o Seu poder. Ele não precisa se manifestar nos poderosos deste mundo, e nem quis fazê-lo, senão por meio de uma criança, aparentemente frágil e indefesa, mas que carregava em Si toda a glória e salvação do povo, dos pagãos de Israel, e de todos nós, que fomos beneficiados com o sacrifício redentor.
Agora dirijo-me a todos os consagrados e consagradas, e cumprimento-os pelo vosso dia. Que o Senhor, neste dia especial, vos estimule em vossas caminhas, e vos torne cada dia mais fiéis ao seu Evangelho e à sua Igreja. Ainda quando parece ser difícil a caminhada, a certeza de que o Senhor caminha ao nosso lado jamais nos deixa desanimar ou exitar de nossa missão. Que possais ser sinal da presença de Cristo em nosso mundo. E que sejais revigorados pelas bençãos divinas que sempre vos acompanham.
A todos reforço o convite: Sejamos luzes em nossos dias turbulentos! Não deixemos apagar em nós a chama da fé que deve irradiar esperança aos que hoje estão desesperançados; amor aos que hoje não sentem-se amados; fraternidade aos que vivem no egoísmo; fé aos que vivem na incerteza e na dúvida. Enfim, que possamos cumprir a missão a nós confiada, por aquele que é a Luz por excelência.
Que Maria Santíssima e São José nos ajudem a apresentarmo-nos diante de Deus, e a Ele oferecermos todos os nossos sacrifícios e a nossa vida