Solenidade do Natal do Senhor: Et Verbum caro factum est!


24.12.2010 - Celebramos a partir da noite santa de hoje a grande Solenidade do Natal do Senhor, a segunda maior da Igreja. Após a preparação meditativa proposta pelo tempo do Advento, hoje podemos experimentar e reviver a grande graça que vem a nós e rebaixa-se a nossa condição. Jesus faz-se homem! Eis a grande novidade. Como Deus pode humanizar-se? Como Ele pode assumir as nossas fraquezas? Por que Ele fez isso? Porventura somos dignos de tão grande maravilha?

Não somos! Mas Deus, unicamente por amor e misericórdia, volta-se para nossa pobre condição, compadece-se de nós e vem ao nosso encontro para nos redimir, e todo o mistério da Redenção inicia-se precisamente na encarnação. O profeta Isaías já afirmava que “o amor apaixonado do Senhor dos exércitos é que há de fazer tudo isso” (9,6). E este Amor é que torna-se visível. “Por sua vontade, nasceu hoje para nós no tempo, a fim de nos conduzir à eternidade do Pai. Deus se fez homem para que o homem se tornasse Deus. Para que o homem comesse o pão dos anjos, o Senhor dos anjos se fez homem” (Santo Agostinho).

Ele não quis habitar unicamente em luz inacessível, mas veio estar ao nosso lado, consolar-nos e dar-nos a certeza de que confiando n’Ele poderíamos encontrar a salvação. “Tudo o que Nosso Senhor realizou, ele o fez por nenhuma outra razão a não ser para que Deus esteja conosco que nós sejamos um com ele; e por isso Deus se tornou homem” (Sermões do Mestre Eckhart, p. 99).

Mediante uma cultura consumista, que tende a fazer desaparecer os valores religiosos do Natal, a Igreja nos convida a olharmos para a simples gruta de Belém. Ali, e não em palácios, nasceu o Salvador. Seus primeiros visitantes foram simples pastores, e Ele foi aquecido por animais que se encontravam no estábulo. Pobre veio o Senhor; pobres também devemos ser em nosso interior e, na medida das nossas possibilidades, também no exterior. Não queiramos luxo e riqueza; não busquemos prestígio e poder, mas simplicidade e pureza de coração, pois a Onipotência manifesta-se pela humildade. Ademais a verdadeira felicidade não está no supérfluo, mas no eterno. E só o eterno pode nos dar aquilo que ninguém nos pode tomar. Só neste Eterno, que justamente por ser eterno não tem limites, a humanidade pode descansar segura, sem temer os vendavais que, por vezes, abatem-na. Só neste Eterno a “transcendência” tão desejada pelo homem pode ser plenamente cumprida, sabendo que esta não é supérflua, vã e vazia, mas é cheia, cheia do Amor de Deus e do Amor que é Deus.

Em sua homilia para o Natal de 2005, escreveu o Santo Padre Bento XVI, de feliz reinado:

“Logo a seguir, porém, surgem as perguntas: como podemos amar Deus com toda a nossa mente, se nos custa encontrá-lo com a nossa capacidade metal? Como amá-Lo com todo o nosso coração e a nossa alma, se este coração consegue entrevê-Lo só de longe e contempla tantas coisas contraditórias no mundo que velam o seu rosto diante de nós? Neste ponto se encontram os dois modos com os quais Deus «abreviou» a sua Palavra. Ele não está mais longe. Não é mais desconhecido. Não é inalcançável para o nosso coração. Fez-se menino por nós e, com isto, dissolveu toda ambigüidade. Fez-se o nosso próximo, restabelecendo também deste modo a imagem do homem que, com freqüência, se nos revela tão pouco amável. Deus, por nós, fez-se dom. Doou-se a si próprio. Perde tempo conosco. Ele, o Eterno que supera o tempo, assumiu o tempo, atraiu a si próprio para o alto o nosso tempo. O Natal veio a ser a festa dos dons para imitar Deus que por nós doou-se a si próprio. Deixemos que o nosso coração, a nossa alma e a nossa mente fiquem tocados por este fato!”

As leituras nos revelam esta manifestação amor-misericórdia de Deus. Na primeira leitura Isaias escreve: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz, para os que habitavam na sombra da morte uma luz resplandeceu” (9,1).

E em que dia resplandece melhor a luz senão no Natal e na Páscoa? Enquanto uma resplende ainda ofuscada pelas trevas, a outra já não mais poderá ser ofuscada, pois já dissipou as trevas do mundo; e onde habita Jesus as trevas já não mais terão lugar. Onde há luz, não mais imperam as trevas!

O povo andava sobrecarregado pelos pecados e pelo peso da Lei; ainda hoje, o pecado tenta oprimir a sociedade, que muitas vezes deixa-se corromper por ele; Jesus, porém, vem dar novo vigor a humanidade, vem dizer-nos que Ele nunca nos abandona; Ele caminha conosco! E, ao olharmos para o presépio, de onde irradia a luz do mundo, ali devemos ver um caminho verdadeiro e próspero para os homens. Quem se deixa guiar por Cristo jamais poderá perecer pelas forças do mal.

A leitura também é uma exortação para os poderes opressores. Não aqueles que oprimem meramente em sentido econômico, mas sobretudo aqueles que oprimem a fé do povo; aqueles que se põem como Deus e desejam fazer valer todas as suas vontades. Nenhum poder poderá subsistir senão estiver unido a Cristo. Unamo-nos a Cristo, amados irmãos, e não pesará sobre nós o seu poderoso braço; pelo contrário: o Senhor mostrará seu incomensurável Amor, que se derrama sobre homens.

O menino-Deus vem instaurar a paz, onde já não haverá mais limites e as guerras não terão vez (cf. 8,6). E  esta consumação se inicia com o Evangelho, pois a Parusia está próxima! O que os anjos disseram Isaías já havia profetizado. E este tempo novo dá-se em Cristo, Senhor e Juiz da História.

A vida de Jesus, às vezes, parece um paradoxo: Como um Rei – sabendo ainda que se trata de Deus – pode nascer num estábulo? Como pode alguém trazer a paz se todos os que O seguem sempre foram e serão perseguidos? Jesus refere-se a um sentido escatológico; o próprio nascimento foi voltado para a escatologia. A grandeza de Jesus está na humildade, e a glória da Igreja e do cristão está na perseguição.

Apparuit enim gratia Dei salutaris omnibus hominibus – Manifestou-se a graça salvadora de Deus a todos os homens” (Tt 2,11). Jesus manifesta-se! Ele é a graça salvífica do Pai destinada a todos os homens. Todos são chamados a experimentarem e mergulharem neste mar de benevolência. Manifesta-se Cristo para que os homens não silenciem-se. Sempre repetimos: Vinde Senhor Jesus! Ele veio! Ele está conosco! Seja louvado o Deus que desce para elevar a nossa mísera condição. E tudo isso Ele faz por Amor. Amor! Palavra doce que ecoa tão suave em nossos ouvidos. E onde poderíamos achar maior doçura do que em Jesus?

Ainda hoje clamamos para que o Senhor se manifeste. Manifeste-se o Senhor e dissipe o mal da nossa sociedade. Manifeste-se e quebre os poderes opressores do pecado que dominam muitos dos vossos filhos. Manifeste-se e toque no coração daqueles que vos esqueceram; daqueles que já não mais Vos buscam; daqueles que procuram salvação onde não há; daqueles que deixam-se seduzir pelas concupiscências e desejos carnais. Vivamos neste mundo como peregrinos, e elevemos nossos olhos aos imperecíveis bens celestiais. Deixemo-nos pertencer ao Senhor; sejamos d’Ele, e só d’Ele!

O Evangelho de São Lucas lido na Santa noite de Natal nos diz que, após ser rejeitado nas casas, o Senhor nasce em um estábulo, numa gruta, em uma noite fria, ao lado de animais. Não encontrou o Senhor abrigo em sua primeira vida, e ainda hoje continua a ser rejeitado por aqueles que deveriam acolhê-lo. Procura um lugar para nascer, mas as portas se fecham para Ele, ou, muitas vezes, lhe oferecem uma gruta fria.

Após seu nascimento São Lucas vai afirmar que haviam alguns pastores na região, aos quais apareceu um anjo avisando do nascimento do Senhor. E, de repente, juntou-se uma grande multidão da milícia celeste e entoaram: “Gloria in altissimis Deo, et super terram pax in hominibus bonae voluntatis – Glória a Deus nas alturas, e paz na terra as homens de boa vontade” (Lc 2,14). E os pastores foram imediatamente a Belém. A Igreja nos aponta o Menino-Deus, vamos também nós em direção ao presépio. Deixemo-nos impelir por esta fragilidade fortalecedora. Aquele bebê parece pequeno e frágil como todos os outros, Mas sua fortaleza perpassa também por esta aparente pequenez. E ali em Jesus repousa a verdadeira paz, que a humanidade só encontrará quando deixar-se envolver por seu abraço.

O Senhor veio! Despertem! Não estejais cansados, mas revigorados pela sua força regeneradora. Maria Santíssima e São José nos ensinem a caminharmos ao encontro do Salvador que jamais nos abandona.

Santo Natal a todos!

Por Ian Farias

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com

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