06.11.2010 - Jornal La Stampa- Itália
Evangelho de sangue. O século XX foi o século com o maior número de mártires cristãos.
O século XXI corre o risco de ser o da descristianização de quadrantes inteiros do planeta. “Existe o perigo de que um mundo de convivência desapareça”, admite Mario Marazziti, porta-voz da Comunidade de Santo Egídio, “diplomacia laica” da Igreja. “Já desapareceu em parte nos Bálcãs, em Argel e Casablanca, em Istambul. O Oriente Médio empobrece, mesmo que milhares de cristãos emigrantes (filipinos, indianos) possam se tornar a salvação para as antigas Igrejas cristãs árabes”.
Não há alternativa para a arte do conviver e para o diálogo (”mais difícil quanto mais necessário”), indica Marazziti: “Descontemos a década do 11 de setembro e da guerra, que tornou mais difícil a vida dos cristãos. E essa globalização com grande crise social e financeira. Mas não há alternativa”. Demonizar o outro, no fim, “sempre é um bumerangue, até porque o radicalismo islâmico é um perigo também para o Islã”. O diálogo faz mais mal à Al Qaeda do que qualquer outra estratégia.
A religião mais atingida
“O futuro dos cristãos é aleatório, a sua fuga dos países islâmicos é um dado irreversível, mesmo que a Santa Sé não cesse de se comprometer para que eles permaneçam nas suas terras”, adverte o ministro da Imigração do Vaticano, Antonio Maria Vegliò.
“Muitos, principalmente no Líbano, Síria, Iraque, Irã, Egito, Líbia, Israel, Palestina, abandonam sua pátria porque a guerra e a situação social, econômica e política os levam para outros lugares, em busca de um destino melhor”. O quadro é “inquietante”.
Na Argélia, o proselitismo é proibido.
Na Bielorússia, os textos religiosos são censurados.
Na China, entre os 70 milhões de cristãos, as Bíblias circulam clandestinamente.
Na Coreia do Norte, é proibida qualquer forma de religião e exceção da ideologia ateia.
Na Índia, a conversão é proibida por lei.
“A convocação no Vaticano do Sínodo especial para o Oriente Médio expressa a preocupação do Pontífice com o êxodo e a emigração forçada dos fiéis”, explica o cardeal Achille Silvestrini, ex-ministro do Exterior da Santa Sé. “O cristianismo é, no mundo, a religião que paga o preço mais alto pela perseguição“. Mas “o sangue dos mártires, há 2 mil anos, é semente de nova fé e ainda será assim”, evidencia o teólogo Gianni Gennari, que lembra as palavras de João XXIII no começo do Concílio: “É apenas o início”. Da mesma forma que, naquele momento, “muitos pensavam erroneamente que o futuro seria curto e adverso”, hoje “a intolerância parece prevalecer, mas a esperança não irá desiludir”.
Expansionismo islâmico
O expansionismo islâmico, indica Gennari, “é um fato devido também à emigração e à pobreza injusta em que muitos interesses reduzem grandes massas de povos orientais”. A fé em Jesus é contrastada por jihadistas asiáticos e africanos, comunistas ateus, fanáticos hindus ou nacionalistas budistas: da Nigéria ao Vietnã, do Iêmen à China, da Argélia à Indonésia.
“É preciso liberdade religiosa e diálogo para remediar, com a convivência de família de credos religiosos diversos, o empobrecimento do tecido civil que alimenta violências e conflitos”, afirma o cardeal Silvestrini, monitorando os cristãos martirizados no Iêmen, perseguidos no Sudão, mortos no Afeganistão.
“Em San Bartolomeo, na Ilha Tiberina, em Roma, está o único memorial do mundo dos mártires contemporâneos, cristãos de todas as confissões”, destaca Marazziti. “Enquanto isso, no Iraque, se olha para a planície de Nínive como zona neutra entre curdos e muçulmanos. Há um radicalismo muçulmano, hindu, que começa os ataques.
No Oriente Médio, os cristãos estão mais acostumados a viver entre tradições, antigos mundos orientais e modernidade”. A situação não é melhor com o nacionalismo budista. No Estado do Himalaia do Butão, os cristãos são encarcerados, torturados e, se não renegam a fé, expulsos.
As distorções da mídia
Afirma Marazziti: “Enquanto isso, no Ocidente, os cristãos não se cansam de estar na modernidade, mas também de unir os pedaços de sociedades pluralistas, como em Londres. Os católicos, considerados ‘estrangeiros’ e perigosos, se tornaram uma ponte e um forte elemento de construção social. Um modelo para a comunidade islâmica inglesa”.
Além disso, observa Gennari, há mais uma perseguição: “É o preconceito constante e unidirecional da mídia. Muitas vezes, as palavras do Papa e as intenções da Igreja são mutiladas, mal entendidas, distorcidas”. No “famoso discurso de Regensburg”, reforça Gennari, “o Papa havia citado uma opinião sobre Maomé e sobre o Islã do imperador da época, com a acusação de violência intrínseca, e havia dito logo depois que não estava de acordo, porém, os meios de comunicação estouraram uma polêmica mundial que também provocou vítimas”.
Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio
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