Enquanto o disfarce de muitos, com o recente discurso do Santo Padre aos bispos do Brasil, vem abaixo, o partidarismo presente no discurso de alguns religiosos permanece.
Agora quem enfatiza seu apoio à candidatura de Dilma é Dom Luiz Carlos Eccel, bispo de Caçador, Santa Catarina. Em artigo intitulado O papa e a política, o pastor catarinense afirmou que “o Santo Padre foi muito oportuno e feliz nas suas colocações, porque o Estado Brasileiro é laico, mas seu povo é religioso, e isto precisa ser respeitado.” A frase pode parecer uma resposta à reação anticlerical de eleitores do Partido dos Trabalhadores às palavras de Bento XVI. Mais adiante, no entanto, Dom Luiz escreve:
“Como Bispo da Igreja Católica, e como cidadão brasileiro, fico feliz por saber que nosso Presidente tem defendido a vida, e sempre se pronunciou contra o aborto. Nesses últimos anos o Brasil tem crescido e melhorado em todos os aspectos, de maneira especial no respeito à vida e a valorização da dignidade humana. Esta é a Vontade de Deus! E as pessoas, em plena posse de suas faculdades mentais, vão reconhecer esta verdade.”
As afirmações do bispo de Caçador parecem estranhas, especialmente quando vamos examinar os fatos. O Presidente da República, em conformidade com a agenda abortista de seu partido, por diversas vezes defendeu a descriminalização do aborto. Daremos aqui apenas alguns exemplos, para refrescar a memória de Dom Luiz Eccel e do eleitor brasileiro.
- No livro Entrevistas e Discursos, protagonizado por declarações de Luís Inácio Lula da Silva, o senhor Presidente faz uma defesa apaixonada da legalização do aborto: “Eu sou a favor do aborto. Primeiro porque eu acho que a pessoa pode cometer um erro. Às vezes, nascer a criança é muito mais prejudicial do que praticar o aborto. (…) O ideal seria que não precisasse ninguém abortar, mas, como existe essa necessidade, o aborto deveria ser legalizado” (citado por Percival Puggina em Lula e a punição aos fetos e por Pe. Luiz Lodi da Cruz em José Serra e Lula: qual o mal menor?).
- Em 2004, Lula assumiu como compromisso de governo o Plano Nacional de Política para as Mulheres. Uma das propostas do referido Plano seria “revisar a legislação punitiva que trata da interrupção voluntária da gravidez”.
- Em abril de 2005, o Presidente Lula enviou à Organização das Nações Unidas documento no qual se comprometia a descriminalizar o aborto no Brasil. “Outro assunto que deve ser considerado é a questão dos direitos reprodutivos. O atual governo brasileiro assumiu o compromisso de revisar a legislação repressiva do aborto para que se respeite plenamente o princípio da livre eleição no exercício da sexualidade de cada um.”
- Em agosto de 2005, Luís Inácio Lula da Silva enviou aos bispos do Brasil uma carta na qual se assumia cristão: “Quero, pela minha identificação com os valores éticos do Evangelho, e pela fé que recebi de minha mãe, reafirmar minha posição em defesa da vida em todos os seus aspectos e em todo o seu alcance. Nosso governo não tomará nenhuma iniciativa que contradiga os princípios cristãos“. Um mês depois, Lula entregou à Câmara dos Deputados um projeto de lei que revogaria todos os artigos do Código Penal que definem como crime qualquer tipo de aborto, redefinindo a prática como um direito e tornando-a legal durante toda a gravidez.
Após todas essas amostras descaradas de abortismo, é impossível sustentar que Lula “sempre se posicionou contra o aborto” ou que “nesses últimos anos o Brasil tem crescido e melhorado em todos os aspectos, de maneira especial no respeito à vida e a valorização da dignidade humana”. Se houve uma pessoa que lutou para legalizar a prática do aborto no Brasil, essa pessoa foi o Presidente Lula.
Desvendadas as mentiras presentes nesse trecho do artigo, partamos ao final do texto. O bispo catarinense afirma que Dilma “já provou ser coerente, competente e comprometida com a vida”. E, no final, faz um alerta: “O dragão devastador não pode voltar ao poder.”
Parece difícil acreditar, mas são essas as últimas palavras de Dom Luiz em defesa da candidata Dilma. Se o PSDB, não fechando posição sobre a questão da descriminalização do aborto, já é considerado dragão pelo pastor, que vamos dizer do Partido dos Trabalhadores, que, nos últimos anos, tem se comprometido com a defesa da legalização da prática em nossa nação?
O dragão devastador não pode continuar no poder. Como bem lembrou o padre Paulo Ricardo, “é inútil apelar para um currículo de progressos sociais e de defesas dos oprimidos do Partido dos Trabalhadores, quando seu ‘projeto político’ está tão empenhado em eliminar os seres humanos mais fracos e indefesos no ventre das mães”. Os verdadeiros dragões a ser combatidos aqui são o aborto e a injustiça de buscar descriminalizar essa prática hedionda. Mas, como o PT insiste em abraçar essa causa infernal, realmente não dá para aderir à sua candidata sem antes pecar contra o Altíssimo.
Sigamos rezando para que Nossa Senhora Aparecida livre nossa Nação do flagelo do comunismo e da maldição do aborto. E que o “dragão devastador” seja vencido o quanto antes, para a maior glória de Deus, para a edificação da Igreja e para a salvação das almas.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!