Há uma visível divisão no episcopado brasileiro. De um lado, temos os bispos que declaram a impossibilidade de um cristão votar em Dilma sem contradizer os ensinamentos aos quais deve obediência pelo Batismo; de outro, temos aqueles que unem suas vozes às dos militantes petistas e esperneiam insistindo que dizer que o Partido dos Trabalhadores é abortista é uma “campanha caluniosa” contra a candidatura de Dilma. Na carta assinada por vários lideres e leigos cristãos, faz-se alusão a essas supostas calúnias que estariam sendo feitas em torno da imagem de Dilma Rousseff.
Mas essa não foi a única manifestação feita por lideranças cristãs que critica a postura anti-PT tomada recentemente por vários bispos brasileiros. “Estamos apenas tentando eleger um Presidente para o Brasil. Estamos discutindo propostas e projetos para uma boa administração do Brasil. Aborto, gueisismo, pílula, camisinha não é prioridade do momento.” As afirmações estão contidas no artigo de um pároco paulista e foram divulgadas recentemente na rede. “O que vem se praticando em meios religiosos no momento, é o aborto da eleição, da democracia, da Constituição e do bom senso”, escreve o sacerdote.
A dura posição que vários bispos tomaram recentemente se manifestando contra o voto em candidatos do Partido dos Trabalhadores é realmente intolerância. Mas, quem disse que não deve haver intolerância na fé cristã? Por acaso o direito à vida é negociável? Por acaso devemos tolerar o aborto, que é um atentado à vida humana? Devemos tolerar a descriminalização desta prática, que seria a manifestação visível de uma injustiça?
É preciso diferenciar a complacência que o cristão deve ter para com o pecador e a intolerância que deve ter para com o pecado, inconformidade justa, já que não há verdadeiro amor pelo bem sem que haja, ao mesmo tempo, ódio pelo mal.
No contexto dessa sadia intolerância, que revela a face de um Deus que se indigna com a injustiça, condenar a colaboração, com o voto, em candidatos que são favoráveis à legalização do assassinato de embriões humanos não é “o aborto da eleições, da democracia, da Constituição” e muito menos do bom senso. É, pelo contrário, a preocupação de pessoas de bem com o futuro da sociedade, com a perpetuação dos valores morais e éticos mais essenciais. É, ao mesmo tempo, a discussão de um assunto que é prioridade, pois saúde, educação, alimentação e moradia só podem ser conquistados na medida em que o ser humano adquire – ou, nesse caso, mantém – o direito de nascer. Esse brado satânico – vindo de um sacerdote! – se referindo à questão do aborto como tema secundário é o grito de indiferença e menosprezo diante de uma realidade de opressão cruel e desumana que é a eliminação de crianças nos próprios ventres de suas mães.
Quanto a Dilma Rousseff não ser favorável à descriminalização do aborto – que é o que defendem Dom Demétrio Valentini, Dom Pedro Casaldáliga e outros -, basta investigar na rede as declarações da candidata sobre o assunto, inclusive as atuais. Ela sugere tratarmos o aborto não como um caso de polícia, mas como uma “questão de saúde pública”. A tradução é: o aborto não deve ser tratado como crime. Ou seja, o aborto deve ser descriminalizado!
Dilma não mudou; apenas maquiou seu discurso para tentar ganhar votos do eleitorado cristão brasileiro. O mais triste é constatar que ela está atingindo seu objetivo…