07.10.2010 - Sem manifestar preferência partidária, o cardeal arcebispo de São Paulo, d. Odilo Pedro Scherer, defendeu hoje que os candidatos à Presidência da República tenham um “posicionamento claro” sobre a questão do aborto e avaliou como parte “do jogo democrático” a presença do tema na campanha eleitoral. Na opinião do religioso, é importante que o assunto seja debatido pelos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), posto que é “uma das questões que os eleitores querem saber”.
“Eu acredito que é bom que a questão do aborto seja também levada em consideração dentro dos debates políticos. É uma questão que merece consideração política. Ou a vida humana seria tão desprezível que não merece consideração política?”, afirmou o cardeal em coletiva sobre a “Semana Nacional da Vida”, no Amparo Maternal, em São Paulo. “Acho que é desejo dos eleitores que os candidatos tenham posições claras e coerentes com aquilo que de fato pretendem levar adiante”, acrescentou.
D. Odilo se esquivou de responder, entretanto, se são transparentes as posições de Dilma e Serra sobre a questão. Segundo ele, suas considerações foram feitas “em linhas gerais”, e lhe faltaria conhecimento específico sobre as posições dos candidatos para comentar. Questionado se a questão poderá definir a eleição, o cardeal disse que é o “conjunto de questões e de propostas que os eleitores irão levar em consideração” na hora do voto.
As declarações foram feitas em meio à polêmica causada pelas supostas contradições na posição de Dilma sobre o tema. A disseminação de e-mails dando conta de que, no passado, a candidata petista teria defendido a descriminalização da prática é apontada como um dos motivos para o fato de ela não ter vencido já no primeiro turno.
CNBB. Embora tenha reiterado a posição da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que é contrária à manifestação partidária por parte dos membros da Igreja Católica, d. Odilo minimizou a atuação do bispo de Guarulhos, Dom Luiz Gonzaga Bergozini, que tem defendido o voto em Serra. “A posição da Igreja é de que não declaramos nem partido, nem candidato. Agora, se alguém faz isso por responsabilidade própria, não é a posição oficial.”
Segundo o cardeal, a função da Igreja no debate deve ser no sentido de dar subsídios para que o fiel tome sua decisão por conta própria. “A Igreja e a CNBB se propuseram a não indicar partidos, nem candidatos. Mas a apontar critérios e princípios em relação à escolha, que deve ser livre e autônoma dos próprios eleitores. E esta também é a minha posição”, disse.
D. Odilo descarta, no entanto, uma eventual punição aos religiosos que contrariarem a determinação da CNBB, uma vez que “eles são livres para se manifestar”. Para o cardeal de São Paulo, é “legítimo” que haja divergência de posições dentro do episcopado brasileiro, mas isso não acarreta prejuízo para a unidade da entidade. “Não há divisão na CNBB. Evidentemente que nós somos mais de 400 bispos católicos no Brasil, membros da CNBB. Temos cabeças diferentes, e muitas vezes posições diferentes.”
Fonte: http://blogs.estadao.com.br