Artigo de Ivan Chudzik: Dois pesos e duas medidas


02.10.2010 - Ao tirar a fundamentação objetiva da Fé, o Modernismo passa do subjetivismo ao vazio, pois a consciência individual nada pode garantir de uma doutrina recebida de si mesma. Alicerçados em Fé morta, seria natural que os padres agissem como se não cressem em nada, e neste sentido a busca de interesses mundanos é consequência óbvia quando se perde a relação com o sobrenatural.

Consequentemente, o oportunismo político tem sido característica constante para altos membros da hierarquia como também para várias organizações católicas, com interesses obscuros, fora da doutrina e moral da Igreja e que não visam a glória de Deus e salvação das almas.

Tal atitude de interesses mundanos, alheia à missão dada por Cristo ao fundar a Sua Igreja, evidentemente se repete em ano eleitoral. Com efeito, enquanto alguns poucos Bispos resolvem bradar diante dos inimigos da Religião e denunciar a sua patente malícia, a fim de defender a moral católica contra os assaltos do secularismo e do relativismo, temos, por outro lado, um silêncio criminoso e hipócrita, que usa de dois pesos e de duas medidas.

Várias Dioceses no Brasil tem enfatizado que não apóiam e nem combatem nenhum candidato, mesmo os sabidamente comunistas e abortistas, tudo em nome da postura “apolítica” da Igreja, transformada pelos Bispos diocesanos em verdadeira apatia, cujo indiferentismo só favorece o lobo perante as ovelhas sem pastor que as defenda. Preferem assim respeitar a absoluta liberdade de escolha do crente-cidadão em detrimento da defesa da Fé, e para tanto, as orientações dadas pelos órgãos da Igreja se limitam a elencar critérios vazios que deixam a cargo do próprio eleitor escolher o candidato que bem lhe aprouver, sem que a doutrina e a moral católica esteja em questão.

Entretanto, não raro as mesmas Dioceses que se abstém de condenar os comunistas e abortistas promovem oficialmente determinados candidatos, tidos por católicos, mas que é bem mais provável que recebam apoio justamente por estarem comprometidos com algum interesse particular de uma Diocese ou segmento católico.

Este oportunismo hipócrita está pautado em dois critérios de julgamento: por um lado, nega-se condenar ou combater qualquer candidatura, em nome do apartidarismo da Igreja e da liberdade de consciência; por outro lado, a Diocese apóia oficialmente certos candidatos, mas cujas razões nem envolvem questões de Fé e moral.

Para tanto, uso como exemplo a Diocese de Guarapuava, Paraná, que oficialmente manifesta adesão à candidatura de um deputado federal e estadual. O apoio parte do próprio Bispo, D. Antônio Wagner da Silva, como também de boa parte do clero. As razões, contudo, são escandalosas. Ambos os candidatos se dizem católicos praticantes e atuantes; porém, são fruto da “Escola de Fé e Política” (sic), promovida pela mesma Diocese, ou seja, sofreram doutrinação marxistóide pela Teologia da Libertação. Não seria de se estranhar, portanto, que um clero sem Fé apostasse em candidatos à vida pública, quando os padres mesmos já não esperam nada de Deus, mas da política.

Um cartaz com o apoio aos candidatos foi posto no mural da Catedral e Paróquia Nossa Senhora de Belém, e o mesmo está reproduzido em seu material publicitário. Nota-se a pobreza intelectual e espiritual do apelo dirigido aos católicos eleitores, pois insinua-se que o fim último de todas as instituições terrenas seria dar vida material abundante e igualitária a todos os homens. Nesta perspectiva, o pão é tido por “sinal de vida”, e saber que há membros do clero apoiando os referidos candidatos nos faz pensar o quão comprometida estaria a Fé dos clérigos na doutrina infalível e imutável da Igreja sobre a Santíssima Eucaristia, quando a mesma poderia também não passar de símbolo de uma luta social pelo bem comum.

Só lamento que padres e leigos idôneos, iludidos e enganados pela “oficialidade” do apoio da Diocese, acreditem realmente na catolicidade das candidaturas, pois se o Bispo indicou estes nomes para seus fiéis, por que também não denunciou outros tantos nomes incompatíveis com a Fé católica? Neste oportunismo político há dois pesos e duas medidas, onde cada órgão da Igreja observa os seus interesses particulares sem a unidade da Fé, e não raro as Dioceses tem orientações conflitantes para seus fiéis, como se não pertencêssemos todos à mesma Igreja Católica. De fato, o Modernismo é tão auto-destrutivo que mesmo os que ainda acreditam em uma Fé subjetiva agem exatamente como os que não tem Fé nenhuma.

Abaixo, a transcrição do apelo que consta no cartaz fixado no mural da Catedral:

“UM PROJETO PELO BEM COMUM.

NÓS FAZEMOS PARTE”

“Eu vim para que todos tenham VIDA, e VIDA plenamente”

VIDA plena é ter saúde, casa, alimento, educação. E todas essas decisões relacionadas a VIDA passam pela POLÍTICA. Pois uma pessoa é um ser espiritual dentro de uma estrutura física, que tem fome, frio, sede. E a Igreja que procura dar uma contribuição a cidade tornando-a um lugar bom para viver (cfe. Doc. Aparecida 509 a 519), que se preocupa com a dignidade da pessoa humana, que busca transformar a sociedade onde o PÃO que é sinal de VIDA seja NOSSO chama-nos para fazermos POLÍTICA séria. É preciso se envolver, não dá mais pra ficarmos indiferentes. Com coragem e ousadia contribuindo para resgatar a dignidade da POLÍTICA resolvem propor e acompanhar candidatos com postura firme, pautados nos princípios cristãos, com ficha limpa e comprometidos com o BEM COMUM. Nesta eleição apresentamos o currículo de dois candidatos que consideramos pessoas boas, que alicerçam seus atos na vida em comunidade e no Ensino Social Cristão.

Fonte: http://fratresinunum.com

 


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