Cardeal John Newman: Resisti com o melhor de minhas forças ao espírito do liberalismo na religião


Adicionado ao  www.rainhamaria.com.br  em 26.09.2010 -

12.05.1879 - "… alegra-me dizer que me opus desde o começo a um grande mal. Durante trinta, quarenta, cinquenta anos, resisti com o melhor de minhas forças ao espírito do liberalismo na religião. Nunca a Santa Igreja necessitou de defensores contra ele mais urgentemente que agora, quando infelizmente é um erro que se expande como uma armadilha por toda a terra! E nesta ocasião, em que é natural, para quem está em meu lugar, considerar o mundo e olhar a Santa Igreja tal como está, e seu futuro, espero que não seja considerado fora de lugar se renovar o protesto que fiz tão frequentemente.

O liberalismo religioso é a doutrina que afirma que não há nenhuma verdade positiva na religião, que um credo é tão bom quanto outro, e este é o ensinamento que vai ganhando solidez e força diariamente. É incongruente com qualquer reconhecimento de qualquer religião como verdadeira. Ensina que todas devem ser toleradas, pois todas são matéria de opinião. A religião revelada não é uma verdade, mas um sentimento ou gosto; não é um fato objetivo nem milagroso, e está no direito de cada indivíduo fazer dizer tão somente o que impressiona sua fantasia. A devoção não está necessariamente fundada na fé. Os homens podem ir a igrejas protestantes e católicas, podem aproveitar de ambas e não pertencer a nenhuma. Podem se confraternizar juntos com pensamentos e sentimentos espirituais sem ter nenhuma doutrina em comum, ou sem ver a necessidade de tê-la. Se, pois, a religião é uma peculiaridade tão pessoal e uma posse tão privada, devemos ignorá-la necessariamente nas inter-relações dos homens entre si. Se alguém sustenta uma nova religião a cada manhã, a ti o que importa? É tão impertinente pensar sobre a religião de um homem como sobre seus rendimentos ou o governo de sua família. A religião em nenhum esntido é o vínculo da sociedade.

O caráter geral desta grande apostasia é um e o mesmo em todas as partes, mas em detalhe, e em caráter, varia nos diferentes países…”

Discurso do Cardeal John Henry Newman em Roma ao receber o Biglietto em que lhe era anunciada sua designação cardinalícia pelo Papa Leão XIII (12 de maio de 1.879)

Fonte: http://fratresinunum.com/

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Lembrando...

O Papa Bento beatifica o Cardeal Newman: Vida cristã é chamado à santidade

19.09.2010 - LONDRES Na multitudinária Missa na que beatificou o Cardeal John Henry Newman, o Papa Bento XVI explicou que o lema deste sacerdote "cor ad cor loquitur" (o coração fala ao coração), "nos dá a perspectiva de sua compreensão da vida cristã como uma chamada à santidade, experimentada como o desejo profundo do coração humano de entrar em comunhão íntima com o Coração de Deus".

Depois de expressar seu profundo gozo porque o Cardeal Newman foi declarado beato e logo depois de recordar que também hoje se recorda o 70º aniversário da Batalha da Bretanha realizada em 1940, o Santo Padre assinalou que a Inglaterra tem uma longa tradição de Santos como São Beda, Santa Hilda, São Aelred, o Beato Duns Scoto, entre muitos outros.

"No Beato John Newman, esta tradição de delicada erudição, profunda sabedoria humana e amor intenso pelo Senhor deu grandes frutos, como sinal da presença constante do Espírito Santo no coração do Povo de Deus, suscitando copiosos dons de santidade", disse o Papa.

Seguidamente indicou que o lema do Cardeal Newman, "o coração fala ao coração", também "nos recorda que a fidelidade à oração vai nos transformando gradualmente à semelhança de Deus. Como escreveu em um de seus belíssimos sermões, ‘o hábito da oração, a prática de procurar Deus e o mundo invisível em cada momento, em cada lugar, em cada emergência – eu lhes digo que a oração tem o que se pode chamar um efeito natural na alma, espiritualizando-a e elevando-a. Um homem já não é o que era antes; gradualmente... se vê imbuído de uma série de idéias novas, e se vê impregnado de princípios diferentes’".

O Papa explicou logo que o Beato John Henry Newman ensinou com sua vida que Deus tem uma tarefa específica para cada um, um "serviço concreto" confiante sempre a cada qual de maneira particular: "Tenho minha missão’, escreve, ‘sou um elo em uma cadeia, um vínculo de união entre pessoas. Não me criou para um nada. Farei o bem, farei seu trabalho; serei um anjo de paz, um pregador da verdade no lugar que me é próprio... se o fizer, manter-me-ei em seus mandamentos e servirei a Ele em meus afazeres".

Bento XVI indicou também que "o serviço concreto ao que foi chamado o Beato John Henry incluía a aplicação entusiasta de sua inteligência e sua prolífica pluma a muitas das mais urgentes ‘questões do dia’. Suas intuições sobre a relação entre fé e razão, sobre o lugar vital da religião revelada na sociedade civilizada, e sobre a necessidade de uma educação esmerada e ampla foram de grande importância, não só para a Inglaterra vitoriana".

"Hoje também seguem inspirando e iluminando a muitos em todo mundo. Eu gostaria de prestar especial homenagem à sua visão da educação, que fez tanto por formar o ethos que é a força motriz das escolas e faculdades católicas atuais. Firmemente contrário a qualquer enfoque redutivo ou utilitarista, procurou obter umas condições educativas nas que se unificasse o esforço intelectual, a disciplina moral e o compromisso religioso".

Ao falar da formação dos professores de religião, o Papa Bento recordou novamente algumas das palavras do Cardeal sobre isto: "quero um laicado que não seja arrogante nem imprudente na hora de falar, nem desordenado, mas homens que conheçam bem sua religião, que aprofundem nela, que saibam bem onde estão, que saibam o que têm e o que não têm, que conheçam seu credo a tal ponto que possam dar contas dele, que conheçam tão bem a história que possam defendê-la" e pediu a intercessão do novo beato por aqueles que trabalham no ensino e na catequese.

Na parte final de sua homilia o Papa fez uma reflexão sobre a vida sacerdotal do Cardeal Newman, quem tinha uma visão profundamente humana do ministério sacerdotal que ele mesmo viveu "em suas insônias pastorais pelo povo de Birmingham, durante os anos dedicados ao Oratório que ele mesmo fundou, visitando os doentes e os pobres, consolando o triste, ou atendendo os encarcerados. Não surpreende que à sua morte, tantos milhares de pessoas se amontoassem nas ruas enquanto seu corpo era transladado ao lugar de sua sepultura, a não mais de meia milha daqui".

Ao concluir, o Papa Bento XVI elevou uma oração a Deus do Cardeal Newman como ação de graças e expressão da alegria dos milhares de fiéis presentes: "Seja louvado o Santíssimo no céu / seja louvado no abismo / em todas suas palavras o mais maravilhoso, o mais seguro em todos seus caminhos".

Fonte: ACI


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