Artigo de Everth Queiroz Oliveira: Separação definitiva, comunicação impossível


Adicionado ao  www.rainhamaria.com.br  em 26.09.2010 -

O Evangelho deste 26ª domingo do Tempo Comum nos propõe a parábola do rico e Lázaro. É uma mensagem essencialmente escatológica. Os personagens dessa história são um homem rico, que não se preocupava com a situação miserável na qual viviam aqueles que circundavam a sua mesa, e Lázaro, um pobre faminto cujas feridas eram lambidas pelos cães (cf. Lc 16, 21).  Que situação terrível vivia Lázaro. Que compaixão deve suscitar em nós a sua miséria! Mais do que compaixão, no entanto, pelo personagem evangélico, é preciso que nos solidarizemos com aqueles que padecem de fome na nossa sociedade. Aludimos aqui não só à fome material, mas principalmente à fome espiritual, anseio por felicidade. Não podemos nos esquecer que a matéria tem o seu fim; a alma, no entanto, após a morte, permanece viva.

O rico da parábola se esqueceu disso. Jesus narra a morte dos dois homens de dois modos distintos, inclusive. Para aquele que se preocupou excessivamente em adquirir bens terrenos, mostrou o destino do corpo; para aquele que não tinha do que se fartar materialmente neste mundo, mostrou o destino da alma. “Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado” (Lc 16, 22). O destino do corpo é o mesmo, para os dois. Por isso diz-se que a morte nivela todos os homens. Ricos e pobres, seus corpos o mesmo fim terão. Tanto o corpo do rico avarento quanto o corpo do pobre miserável serão consumidos. A alma, porém, dois destinos diferentes tem pela frente. Céu ou inferno, consolação ou tormento, alegria ou eterna penúria. Na situação apresentada por Nosso Senhor, vai o rico para o inferno e o pobre para a vida eterna. “Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado” (Lc 16, 23).

Mas, pode, por acaso, o condenado um dia ir para o Céu ou o salvo descer algum momento ao inferno? Pode ser alterada a justa sentença do Altíssimo acerca do destino eterno dos homens? “Há um grande abismo entre nós; por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós” (Lc 16, 26). E pode uma alma atormentada voltar à Terra para comunicar-se com os vivos e contar-lhes o que se passa no plano sobrenatural? A insistência do rico condenado também nos mostra que essa comunicação não é possível. Não se pode confundir evocação dos mortos, que é uma prática espírita severamente condenada pela Igreja, com a comunhão dos santos, que é a comunicação de bens espirituais entre os membros do Corpo Místico de Cristo. Admitir a comunicação com os mortos como fonte de revelação seria considerar insuficiente a obra redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo, seria aderir à perversa doutrina dos espíritos de Allan Kardec.

Para complementar aquilo que já falamos sobre a rejeição do espiritismo pelo próprio Evangelho, nos utilizamos de comentários de frei Boaventura Kloppenburg escritos no livro Espiritismo – Orientação para católicos *:

O rico avarento é condenado ao inferno. A diferença entre os dois, depois da morte, é grande. O falecido rico gozador implora: “Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama”. Mas a separação entre ambos é definitiva e a comunicação, impossível. A resposta do céu é clara e dura: “Entre vós e nós existe um grande abismo, de modo que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o podem, nem tampouco atravessarem os de lá até nós” (v. 26).

O falecido epulão insiste num pedido com filantrópica proposta: “Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até a casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que ele os advirta, para que não venham eles também para este lugar de tormento”. Era uma sugestão que parecia muito boa. Estabelecer-se-ia um útil intercâmbio entre os do além, com seus novos conhecimentos, e os da terra, sempre necessitados de esclarecimento e orientação. No entanto, a resposta do céu é seca: “Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam!” (v. 29).

Mas o proponente insiste, com uma justificação: “Não, pai Abraão, se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se converterão”. A razão parecia óbvia. É a solução proposta também pelos atuais movimentos espiritistas. Se é verdade que as almas dos falecidos sobrevivem conscientemente e que elas continuam solidárias conosco, afirmações que são corroboradas pela Bíblia e ensinadas pela Igreja católica, por que não poderia o Criador escolher esta via para trazer revelações úteis do além? A resposta do céu, entretanto, segundo Jesus, é sem rodeios: “Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão” (v. 31).

É a rejeição pura e simples da via espiritista. Deus certamente “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2, 4). Ele não quer deixar-nos na ignorância. Mas o Criador dos homens escolheu outra Via para instruí-los sobre o sentido da vida e o destino eterno. (…) Depois de Moisés e dos Profetas, Deus nos enviou seu Filho, o Verbo eterno que ilumina todos os homens, para que habitasse entre os homens e lhes expusesse os segredos de Deus (cf. Jo 1, 1-18). Com Jesus recebemos a plenitude da revelação necessária para a nossa salvação.

As palavras do Santo Evangelho nos ajudem a rejeitarmos de todo o nosso coração todas as práticas que nos afastam dos mandamentos da lei do Altíssimo e nos motivem a termos movimentos de sincera compaixão e solidariedade para com o nosso próximo. Contemplando a imensa Misericórdia de Deus, possamos temer também obstinarmo-nos no pecado e rejeitarmos Sua Bondade que salva.

Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!

* O texto de cor verde, transcrito do livro do frei Boaventura Klopperburg, se encontra na pg. 29 da edição da obra em PDF.

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com

 


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