Artigo de Dom Orani João Tempesta: A quem servimos


Adicionado ao  www.rainhamaria.com.br  em 26.09.2010 -

Nestes domingos, a Palavra de Deus nos mostra questões importantes com relação ao ensino social da Igreja e também com relação ao sentido último de nossa vida, perguntando-nos a quem queremos servir. Isso devido ao desenfreado encaminhar da vida para a posse de bens como se fosse a razão única da vida humana.

Todos nós somos envolvidos por grandes preocupações diárias. O acúmulo das horas para o acúmulo de dinheiro é uma constante em nossas vidas. Mas será esse o destino final da vida? A correria para ganhar e acumular bens, como nos ensina a sociedade, e ao mesmo tempo vendo que a ideologia atual tem levado a grandes insatisfações e ao crescimento da violência. O fim último de nossa vida tem que ir além disso tudo.

Devemos notar que o nosso senso de justiça está sempre envolto em nossas próprias preocupações. O nosso senso de justiça é individualizado. Temos muita dificuldade em nos sentirmos em coparticipação. Há toda uma atmosfera de egoísmo que nos envolve, que toma conta de nós. A divulgação por todos os meios desse tipo de sociedade leva as pessoas a encaminharem toda a sua existência para esse tipo de vivência.

As preocupações com o dinheiro e o poder tomam conta de nossas vidas e ocupam a maior parte de nosso tempo. A vida é muito mais do que o acúmulo progressivo e constante do dinheiro, da propriedade, do conhecimento ou mesmo do prazer. Esta busca incansável ocupa nossa vida e nos deixa em estado de agitação e de angústia existencial. É claro que temos necessidade de possuir, crescer no conhecimento, progredir – a diferença está em quem colocamos a razão do nosso viver.

Claro que o esforço é necessário para alcançarmos o que a sociedade nos oferece como ideais de vida, mas este esforço não nos conduz ao grau de satisfação que buscamos. A dinâmica da vida vem antes da busca pela riqueza, pelo poder e pelo prestígio. Esses acabam por transformar a existência numa busca sem fim e nunca nos satisfazem por completo.

Jesus quer que não nos acomodemos com esta busca desenfreada, mas que ganhemos a experiência da vida plena em Deus. Esta sede infinita que tenta se satisfazer pela posse não é exclusiva de uma classe social ou mesmo de um sistema econômico, mas encontra-se no SER do homem. O sistema em nossa volta tem, entretanto, o poder de nos seduzir. Os apelos pelo TER desenvolvem essa tendência pelo acumular. Aí, sim, entra em choque o nosso discernimento.

Queremos preencher um vazio interior do sagrado pela posse das coisas. A ganância e a ânsia pelo ter são drogas aprovadas, socialmente falando. Embriagam-nos e nos entorpecem, impedindo-nos de ver a realidade do transcendente em nossa vida. Jesus nos quer atentos a isso.

Numa sociedade onde a busca monstruosa pelo dinheiro é predominante, não há espaço para Deus. Só para os clientes, para a venda, pelo mercado, pelo sucesso, pelo lucro fácil. Não percebemos a riqueza em Deus, mas somente a riqueza na conta bancária.

Devemos acreditar que hoje o mais urgente é a vida plena que Deus quer nos proporcionar. O nosso trabalho justo e honesto não pode ser uma busca apenas pelo ter, um desespero exagerado pelo acúmulo de coisas, dinheiro, prazeres. Nosso trabalho deve ser humanizado. Não pode ser apenas baseado no sucesso comercial, mas no crescer como pessoa. Somente um mecanismo de sucesso deve nos mover: alcançar a plenitude do ser humano aos olhos de Deus.

Evidentemente que a situação que hoje vivemos vem de longe. Vide, por exemplo, a situação ambiental na degradação total do meio ambiente, o desaparecimento de florestas, a poluição da atmosfera, a extinção de espécies biológicas. Chega um momento em que o homem quer “derrubar celeiros e construir outros ainda maiores”. A situação ambiental é sinal, é reflexo desta busca desenfreada e desmedida pelo ter.

Temos que abrir espaço para Deus em nossa vida. Ao final, seremos julgados pelo nosso bem ao outro e não pelo dinheiro armazenado, acumulado. Pensemos nisso. O que vamos dizer a Deus quando chegarmos a sua presença e nos apresentarmos? As mãos vazias de amor ou o dinheiro inteiro que conquistamos? Viver com os olhos voltados para o transcendente nos faz mais justos e felizes desde agora.

Não podemos ficar “em cima do muro”. Não podemos servir a dois senhores. Pensemos muito sobre isso, e façamos uma reflexão a respeito do primeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas!

Dom Orani João Tempesta  - Arcebispo do Rio de Janeiro

Fonte: Jornal do Brasil

Enviado pelo amigo Alex Borges

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Lembrando também...

Dom Orani João Tempesta: O que é o ser presbítero hoje?

05.08.2010 - Comentário do Arcebispo do Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO – “Neste mundo confuso e até preconceituoso com a figura do Bom Pastor, que deve ser todo ministro do altar”, o que é o ser presbítero hoje?

É a pergunta que propõe o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, em artigo enviado a ZENIT nessa quarta-feira.

“Como deve agir o padre, hoje, na cena deste mundo em grande transformação?”, questiona ainda o prelado.

O presbítero – afirma Dom Orani –, “antes de tudo, é o homem da Palavra de Deus, o homem do sacramento, o homem do ‘mistério da fé’”.

Os padres “têm o dever primário de proclamar o Evangelho de Deus a todos os homens”, explica, citando a Presbyterorum Ordinis. Mas nesta proclamação “está o dever também de levar cada homem e cada mulher deste mundo a um encontro pessoal com Jesus”.

Dom Orani considera que hoje, mais do que antes, “devemos nos empenhar para que cada pessoa possa fazer esta experiência do encontro com Deus, o devemos fazer com uma renovada esperança, mesmo nas adversidades de um mundo extremamente secularizado, liberal, ateísta e até cético”.

“As pessoas devem perceber no sacerdote ‘Aquele’ a quem ele está a serviço: o que chamamos na teologia da configuração com Cristo.”

“Nesta dimensão, encerra-se a sua vital presença na celebração eucarística, ápice da vida espiritual da Igreja, em que o sacerdote age na pessoa de Cristo. Em suma, o Sacerdote deve ser um homem em contato com Deus, e que nos leva a fazer esta mesma experiência de santidade.”

“A mais sublime missão do sacerdote hoje – afirma o arcebispo – é, sem dúvida, ser um Cristo agora, pois ‘Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre’”.

Porém – prossegue Dom Orani –, o padre “deve avançar com o tempo, com a história, mas não deve ter uma atenção superficial sobre tal ‘modernidade’. É chamado a ser crítico e também vigilante com a realidade que se lhe apresenta”.

“O grande salto qualitativo na vida de qualquer padre seria uma autêntica renovação, que é possível e necessária, e ao mesmo tempo uma grande afeição a uma plena e radical fidelidade à Palavra de Deus e à tradição da Igreja, aos quais ele serve no seu ministério. A sua primeira e fundamental vocação é a da santidade, juntamente com a de toda a Igreja”, afirma o arcebispo.

Dom Orani assinala que o sacerdote “é chamado a ser capaz de se entreter com cada pessoa, acreditando que o outro vale à pena; a ser uma pessoa mística e que, ao mesmo tempo, se interessa pelas coisas do mundo, pela vida do homem, nas suas angústias e alegrias, para que elas se tornem algo sagrado e agradável ao Senhor”.

“O sacerdote é também aquele que procura uma nova linguagem para se comunicar com o mundo de hoje, principalmente neste mundo da multimídia.”

De acordo com o arcebispo do Rio de Janeiro, o sacerdócio ministerial “é entrega, é imolação, é doar-se integralmente, é cruz. Tomar a cruz significa comprometer-se para derrotar o pecado que impede o caminho rumo a Deus, acolher cotidianamente a vontade do Senhor, aumentar a fé, sobretudo diante dos problemas, das dificuldades, do sofrimento”.

Fonte: www.zenit.org
 


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