09.09.2010 - Dizem muitos e graves teólogos que uma alma virtuosa produz um ato de virtude, em intensidade igual ao hábito que possui, cada vez que corresponde às graças atuais que de Deus recebe. Adquire assim, vez por vez, um novo e duplo merecimento que é igual à totalidade de todos os méritos adquiridos até então. Esse aumento, dizem eles, foi concedido aos anjos durante o tempo de sua provação. Ora, se os anjos possuíam semelhante graça, quem ousará sonegá-la à Divina Mãe, enquanto viveu na terra, principalmente no mencionado tempo de sua existência no seio materno, no qual foi certamente mais fiel que os anjos, em corresponder à graça? Durante ele duplicou a cada momento aquela graça sublime que possuía desde o começo. Pois, correspondendo-lhe com todas as forças e perfeitamente, duplicava por conseguinte seus méritos a cada ato que fazia, em todo instante. Só por aí podemos avaliar que tesouros de graça, de merecimentos e de santidade trouxe Maria ao mundo, quando nasceu.
Alegremo-nos, portanto, com a nossa amável menina, que nasce tão santa, tão cara a Deus, e cheia de graça. E alegremo-nos não só por ela mas também por nós. Pois veio ao mundo enriquecida de graça tanto para a glória como para o bem nosso. Adverte S. Tomás que de três modos foi cheia de graça a Santíssima Virgem. Na alma, porque desde o princípio sua bela alma foi inteiramente de Deus. No corpo, pois que de sua puríssima carne mereceu revestir o Verbo Eterno. Finalmente o foi em nosso comum benefício, para que todos os homens pudessem participar da sua graça. Alguns santos, ajunta o Doutor Angélico, possuem tanta graça que não só lhes basta a eles, como é suficiente para salvar a muitos, ainda que não a todos os homens. Só a Jesus e a Maria foi dada tão abundante graça, que seria suficiente para salvar a todo o gênero humano. Por isso S. João diz de Jesus Cristo: Nós todos temos recebido de sua plenitude (Jo 1, 16). De Maria afirmam também a mesma verdade. S. Tomás de Vilanova, por exemplo, escreve: Ela é cheia de graça e de sua plenitude recebem todos. E assim – afirma Pacciucchelli – não há quem não participe da graça de Maria. Quem existiu jamais no mundo, pergunta ele, a quem Maria não tenha sido tão benigna, ou não haja dispensado alguma misericórdia? É preciso notar, porém, que recebemos a graça de Jesus Cristo, como de seu autor, e de Maria como medianeira; de Jesus como Salvador, de Maria, como advogada; de Jesus, como fonte, de Maria, como canal.
Eis o motivo porque S. Bernardo diz que Deus constituiu Maria qual aqueduto das misericórdias, que quer dispensar aos homens. Encheu-a de graça, para que de sua plenitude cada um recebesse sua parte. À vista disso o Santo exorta-nos a considerarmos com que amor quer o Senhor que honremos essa grande Virgem, na qual colocou todos os tesouros de sua riqueza. Fê-lo assim, a fim de que quanto temos de esperança, de graça e de salvação, tudo agradeçamos à nossa amantíssima Rainha. Pois tudo nos provém de suas mãos e pela sua intercessão. Infeliz da alma que, descuidando-se de se recomendar a Maria, se fecha assim a este canal de graças! Holofernes, quando quis apoderar-se da cidade de Betúlia, procurou cortar-lhe os aquedutos. E isto faz também o demônio quando quer tomar posse de uma alma: fá-la abandonar a devoção a Maria Santíssima. Fechado este canal, perderá ela facilmente a luz, o temor de Deus, e enfim a salvação eterna.
[Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, p. 2, tratado 1, II, Maria foi fiel à divina graça; pp. 268-269, Editora Santuário, 20ª edição, Aparecida, 1989]
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com