Artigo de Ian Farias: Escolher o último lugar


29.08.2010 - As leituras deste domingo mais uma vez exortam-nos a uma virtude da humildade, indispensável na vida do cristão. É preciso que nossa vida esteja integralmente submetida a Deus, sem “porém”.

Na primeira leitura somos colocados imediatamente em relação profunda com a humildade. “Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus mistérios. Pois grande é o poder do Senhor, mas ele é glorificado pelos humildes” (Eclo 3, 20-21). Diversas vezes os textos dominicais nos colocaram a questão da humildade, e hoje, mais uma vez, vemo-la como uma riqueza e uma essencialidade na vida do cristão. Quem poderá ser mais rico do que aquele que é mais humilde? E Jesus foi o primeiro a dar-nos o exemplo da servidão, da humilhação. Esta teve sua plena consumação na cruz, com sua morte. Ali, quando parecia vencido, abatido pelo fardo que foi obrigado a carregar, o Senhor manifesta gloriosamente o seu poder. Pela morte de Cristo nos-é dada a redenção. E que grande vitória parte da humilhação!

Deparamo-nos na hodierna sociedade, principalmente no âmbito social, mas também no religioso, com pessoas que buscam famas, prazeres, e querem reconhecimento já neste mundo, feito de efemeridades. A estes servem as palavras da primeira leitura; mas também a nós, para que não incorramos neste erro.

Há! Os Santos! Que grandes pessoas foram! Doutores, místicos, eremitas, abades, Papas, Bispos, reis, rainhas… e nunca se envaideceram de tais honras. Nunca buscaram gloriar-se, senão gloriar unicamente a Cristo, como bem recorda-nos o apóstolo: “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6, 14).

No Evangelho Jesus não dá uma aula de comportamento, mas ensina a submetermo-nos aos desígnios de Deus, e aceitá-los humildemente. O evangelista diz-nos que “Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares” (Lc 14, 1.7). Aqui se encaixa exatamente o perfil da sociedade atual: a sede de prazer, de estar sempre à frente, de ocupar os primeiros lugares. Em outras palavras: uma busca desenfreada pela autossuficiência, onde Deus já não é o objetivo central, mas é subjugado pelo homem. Desta forma deixa-se de transcender para o bem e acaba por lançar-se à própria sorte, caindo no mesmo erro de Satanás, a soberba, e esvaziando-se do verdadeiro sentido de humildade.

Se se é humilde apenas na aparência, mas o espírito está repleto de ganância, em vão será esta aparente humildade.

E Jesus diz mais: “Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: ‘Dá o lugar a ele’. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar.

Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado” (Lc 14, 8-11).

Jesus se utiliza da comparação de um casamento. Sobre esta simbologia o Pe. Tuya escreve: “O banquete de casamento ao qual Jesus faz menção é o Reino Messiânico [...]. Ali, os primeiros lugares estão reservados para os que forem mais humildes” (Bíblia comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v.II, p.864). Não busquemos ocupar os primeiros lugares, pois poderemos ser mandados para os últimos. São condições que Jesus apresenta-nos para entrarmos no Reino do Céu. É necessário escolhermos o último lugar, e só assim poderemos chegar ao primeiro. E ocupemo-los com amor e espírito de serviço, para assim agradarmos ao Senhor.

São Beda, o Venerável, assim afirmou: “Todo aquele que, convidado, venha às bodas de Jesus Cristo e da Igreja, unido pela fé aos membros da Igreja, não se exalte como se fosse superior aos outros, nem se glorie por seus méritos; mas ceda seu lugar àquele que, convidado depois, é mais digno e progrediu mais no fervor dos que seguem a Jesus Cristo, e ocupe com modéstia o último lugar, reconhecendo que os demais são melhores do que ele em tudo quanto se julgava superior” (Fonte: Site Arautos).

“Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos” (Lc 14, 13-14).

Há! Estas palavras de Jesus! Como fazem uma diferença tremenda em nosso meio. Como elas foram tão duras aos ímpetos orgulhosos, materialistas e egocêntricos homens, que circundavam aquela mesa. Vivemos em um mundo que sempre busca retribuições e ações interesseiras. Jesus, porém, ensina-nos a nada pedirmos em troca, para que tudo possamos ganhar no dia da ressurreição.

Assim, São João Crisóstomo, Doutor da Igreja, bem escreveu: “Não nos perturbemos, pois, quando não recebermos recompensa pelos nossos benefícios, mas sim quando a recebermos; porque se a recebermos aqui, nada receberemos depois; mas se os homens não nos pagarem, Deus nos pagará” (Fonte: Site Arautos).

Que a Virgem Maria, nos proteja, e nos ensine a sermos humildes, assim como Ela foi. Celebrando a Festa do Martírio de São João Batista, queremos também nós, pedirmos o dom do serviço e do verdadeiro anúncio da verdade.

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com


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