26.08.2010 -
por frei Cleiton Robson, OFMConv.
A primeira leitura, do livro do profeta Isaías (cf. Is 66, 18-24), por sua terminologia e seu estilo apocalíptico, parece uma composição bastante tardia e reúne o melhor de todas as aspirações messiânicas. O advento messiânico se caracterizará pela reunião de todos os povos no templo do verdadeiro Deus. O exclusivismo judaico será totalmente superado pela participação de todos os não-judeus no culto e no sacerdócio. O sentido da unidade entre os povos é confirmado por um confronto entre Gn 10 e o v. 19; os povos enumerados aqui são elencados também em Gn. Isso indica que o tempo messiânico reconstituirá a unidade pela torre de Babel (Gn 11).
Já na segunda leitura, à luz da fé os sofrimentos que o cristão deve suportar para imitar o Mestre, são parte da pedagogia paterna de Deus para conosco, seus filhos. Através das provações da vida, Ele nos chama à sua santidade. Por outro lado, tendo-nos poupado a vida, pode exigir pelo menos a submissão aos sofrimentos. É normal sentir tristeza, mas nós, cristãos, devemos ver na ação providencial de Deus e na nossa preocupação em apoiar os fracos; (o coxo = cristão que vacila na fé), motivos eficazes de confiança e de força.
O trecho do Evangelho de hoje, sobretudo se posto em relação com Mt 8, 11-12; 25, 10-12, é claramente marcado pela polêmica da rejeição dos judeus e da admissão dos pagãos na Igreja; em qualquer caso, porém, Lucas pretendeu aqui atualizar também o ensinamento de Jesus para os discípulos do seu tempo (DV 19). Os que, na qualidade de discípulos, têm familiaridade com o Senhor e ouvem seus ensinamentos, propõem-se uma pergunta crucial: Nós, cristãos, nos salvaremos? As palavras de Jesus dão uma resposta. O ser cristão não é um meio mágico de salvação; ela é o resultado do encontro entre o esforço humano e o dom de Deus!
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Quando alguém nos ama realmente e nos fala chamando-nos por nosso nome, descobrimo-nos a nós mesmos e não estamos mais sozinhos. A vitória sobre a solidão gera a alegria; viver, então, é uma festa. O reino de Deus é comunhão; seu advento inaugura, por isso, um tempo de alegria. É festa que não acaba, definitiva. Festa a que são convidados todos os homens.
A verdade da comunhão exige que estejamos juntos em torno de uma “mesa”, na alegria de uma “ceia”, na abundância de um “banquete”. A alegria de estarmos juntos nos leva a uma refeição comum, a uma partilha que significa aquilo que somos. O reino é simbolizado por um banquete, um lugar de encontro e de comunhão. Ele nos é oferecido, somos convidados, mas devemos ir a ele. É dom gratuito, mas deve ser recebido. E esta “mesa” é a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo; o Patíbulo no qual foi O Cordeiro sem mancha é imolado por nós!
O povo de Israel, devido à sua história e seu passado, se acreditava privilegiado com o poder de gozar incondicionalmente desse convite. O profeta, que penetra profundamente nos acontecimentos, reconhece que o privilégio não é incondicional nem exclusivo. Os homens estão diante de Deus como uma única humanidade. Nenhum povo, nenhum homem é excluído do encontro com ele. Todos os irmãos, porque uma relação radical os liga ao mesmo Pai. O privilégio de Israel tinha um significado: o de proclamar a todos os homens que não é a unidade de origem que fundamenta a igualdade entre os homens, nem a pertença a uma raça ou classe que justifica uma riqueza ou liberdade. Todos os homens devem ter as mesmas possibilidades, porque todos têm um mesmo fim: encontrar-se com o Pai, contemplar a mesma glória, e, portanto, trabalhar para uma convergência e uma igualdade universais (1ª leitura).
O fundamento de nova igualdade e de novas relações entre os homens está baseado num apelo que Deus dirige a todos os homens. Todos devemos chegar ao reino, entrar na casa do Pai, sentar à mesma mesa. Todos caminhamos, na história, para o mesmo futuro, a mesma terra prometida. Se há uma só meta, há também uma só porta de entrada. O universalismo entrevisto pelos profetas é levado à plenitude por Jesus. Para os seus compatriotas, fechados em seus privilégios, ele diz a parábola da porta estreita. Está nascendo um mundo novo, no qual judeus e pagãos se encontrarão juntos à mesma mesa, porque a impureza dos pagãos, que impedia os judeus de se sentarem à mesa com eles, está definitivamente anulada. A seleção à porta do banquete não consistirá na separação entre Israel e os pagãos, mas na escolha de quem respondeu ao convite com solicitude e praticou a justiça, quem quer que seja.
Jesus, com sua ressurreição, é o primeiro convidado; entrou e já assentou à mesa do banquete; foi o primeiro que conquistou o reino. Esta é a prova de que o convite do Pai é real e espera verdadeiramente a todos nós. Cristo, com sua morte, demonstrou que a entrada no reino não é privilégio para ninguém. O convite é para todos.
Mas foi passando pela morte que ele entrou; pela porta estreita. Só quem tiver dado a vida como Jesus poderá entrar na sala e sentar-se à mesa. A tradição, o parentesco de nada adiantam para a salvação, nem as palavras, a cultura. Somente a dedicação à construção de um mundo que manifeste visivelmente a realidade do reino.
O convite ao banquete das “núpcias do Cordeiro” tem uma única resposta: dar a vida a exemplo de Jesus Cristo!
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/