06.08.2010 - A Igreja nos convida neste dia a, com grande júbilo, celebrarmos a Festa da Transfiguração do Senhor. Jesus que resplandece gloriosamente diante dos seus discípulos.
Não podendo ser diferente, a Liturgia nos propõe para este dia as leituras de Daniel ou de São Pedro (já que estamos em dia de semana) e o Santo Evangelho que é extraído de São Lucas.
Mas gostaria de dar início às nossas reflexões com a leitura extraída da Carta de São Pedro. Verdadeiramente assim nos escreve o apóstolo: “não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade” (2Pd 1, 16). Esta afirmação incide em tempos tão consternados, onde a sociedade secularizada tende a afirmar que Cristo é uma estória, e que o Cristianismo está a basear-se em um ser fictício. Esta afirmação de São Pedro, no entanto, derruba completamente estas ideologias de mentes pervertidas, que não seguem os ensinamentos do Santo Evangelho, não desejam aderir a sua mensagem salvífica, não querem aderir a mensagem da Santa Igreja transmitida em unidade com os apóstolos, fecham-se à eficácia redentora da Eucaristia, e não querem que outros possam desfrutar de tais méritos concedidos a nós, indignas criaturas.
Esta Festa de hoje poderia mostrar-nos um Jesus que, aparecendo em sua glória, tende-se cada vez mais a, como Filho de Deus e Todo-poderoso, afastar-se das faltas humanas e transviar seu olhar dos nossos pecados e de nós, pela nossa condição indigna. Mas não! Deus rebaixou-se à nossa condição humana para poder elevá-la. E felizes são os homens porque por eles, e somente por eles, o Senhor derramou o Seu Sangue purificador para nos limpar dos nossos pecados. A Redenção nos vem pelo Filho de Deus. Ao dizer que “a cruz é a ‘elevação’ de Jesus, e que a sua elevação não se realiza de outro modo senão na cruz” (Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré, pag. 261), São João, mais do que afirmar um ponto do mistério da salvação cristã, faz-nos um incessante convite a inserirmo-nos neste mesmo “caminho”. Se a cruz elevou Jesus, e sua elevação não poderia dar-se de outra forma senão por meio da cruz, nós cristãos tornamo-nos mais convictos ainda que: só poderá contemplar a glória quem souber abraçar a cruz. Não estou me equivocando ou sendo duro, mas estou apenas apontando o caminho que Cristo propõe ao cristão (propõe, não impõe!). “Per crucem, ad lucem” — “Pela cruz, chegaremos à luz”
E quantas são as cruzes que hoje temos que abraçar? Mas para quem foi redimido pela Cruz de Cristo, e nela encontra o lenho salvador, não lhe será difícil abraçar as cruzes cotidianas. Mesmo com nossa fraqueza temos que compreender: apesar da fraqueza ser algo que faz parte da condição humana, mas ela nunca poderá sobrepor-se se antes depositarmos nossa confiança em Cristo. E só a partir desta realidade poderemos “transfigurar-nos”. Só a partir deste reconhecimento dos nossos pecados e a confiança na misericórdia do Senhor, poderá o ser humano transcender verdadeiramente. Sem Cristo esta “transcendência” não passa de um sonho que jamais alçará voo, pois, assim como um avião não pode alçar voo sem um motor, não pode o homem transcender sem Cristo.
No Evangelho somos tomados por uma imagem do dia em que Cristo manifestou sua glória aos três discípulos: Pedro, Tiago e João. “Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante” (Lc 9, 29). A oração é o cerne da vida de Jesus. Ele sempre encontrava-se em oração antes de alguma atitude importante, ou de algum milagre. Com a transfiguração não é diferente. Ela “é um acontecimento da oração; torna-se claro o que acontece no diálogo de Jesus com o Pai: a mais íntima penetração do seu ser com Deus, que se torna pura luz” (Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré, 264). Penetrarmos no mais íntimo do Pai: assim veremos a eficácia da nossa oração. Devemos colocar-nos em constante atitude de oração. Uma oração sincera, que seja acolhida por Deus e que una-nos mais ainda a Ele.
Jesus irradiava uma luz forte, com suas vestes tão alvas que, como diz são Marcos “nenhuma lavadeira sobre a terra as poderia branquear assim” (9, 3). São Mateus ainda nos diz que “O seu rosto resplandecia como o sol, e os seus vestidos tornaram-se brancos como a luz” (17, 2). Ora, recordo-me aqui de Moisés que, “enquanto descia do monte, ele não sabia que a pele do seu rosto irradiava luz, porque ele tinha falado com o Senhor” (Ex 34, 29-35). E dirá o Papa Bento XVI, em sua já citada obra: “Por meio do diálogo com Deus, a luz de Deus brilha sobre ele e o torna também brilhante. Mas é, por assim dizer, um brilho que vem de fora sobre Moisés, que faz que ele também brilhe. Porém Jesus brilha a partir do interior, Ele não só recebe a luz, Ele mesmo é luz da luz” (Ibid.).
“Efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia: ‘Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer’. Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele no monte Santo” (2Pd 1, 17-18). São Lucas nos diz: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (9, 35). As duas formas divergem apenas no final; no entanto, possuem elas os mesmos sentidos. Tais palavras ressoam fortemente ainda hoje, e nos apresentam uma mensagem fundamental: é preciso escutar o Cristo; é preciso tornarmo-nos portadores da Boa Notícia que nunca envelhece, mas sempre nos rejuvenesce, isto é característica peculiar daqueles que se doam por Cristo.
A mensagem de Jesus tem perdido espaço na sociedade. Os seus ensinamentos têm sido, muitas vezes, interpretados de maneira errada e, por vezes, equivocada. Não obstante as ações da Igreja na sociedade, ainda assim muitos renegam a mensagem de Jesus para alienar-se a supostas “soluções” terrenas.
Muitos, assim como os discípulos, assustam-se com a voz de Deus que ecoa mesmo em nossos dias (Lc 9, 34). E ela sempre nos trás esta mensagem que, apesar de perpassados dois mil anos, é sempre renovada.
“Pedro disse a Jesus: ‘Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias’.
Pedro não sabia o que estava dizendo” (Lc 9, 33). Em Pedro vejo refletidas pessoas do mundo atual. Muitos desejam apenas reter-se à contemplação, e esquecem que devem agir, e este é também um passo essencial. A oração é fundamental, mas a ação também é, e o próprio Jesus releva este valor ao descer da montanha e não escutar o pedido “mesquinho” de Pedro. Não apenas eles, mas todos são chamados ao Reino de Deus. Todos são chamados a subirem a montanha com Cristo, para assim serem “transfigurados”.
Que Maria, que permitiu a ação de Deus em sua vida, nos ajude a tornarmo-nos sempre mais abertos à mensagem do Evangelho.
Saudações em Cristo Jesus e Maria Santíssima!
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/