04.08.2010 - “Se compreendessemos bem o que um padre é sobre a terra, morreríamos: não de susto, mas de amor.” A frase é de São João Maria Vianney, cura de Ars, cuja santidade é celebrada pela Liturgia no dia de hoje, 4 de agosto.
Ao fazer uma breve reflexão sobre alguns aspectos da vida deste grande santo da Igreja, não poderia ser deixada de lado a sua terna admiração pelo grande dom que é o sacerdócio. E esse amor pelo sacramento da Ordem é facilmente explicado: dizia ele que “é o padre que continua a obra da Redenção sobre a terra”.
E é verdadeiramente nisso que cremos. O Concílio de Trento, que foi responsável pela reafirmação da doutrina católica frente à heresia protestante, decretou que no divino sacrifício “que se realiza na Missa, se encerra e é sacrificado incruentamente aquele mesmo Cristo que uma só vez cruentamente no altar da cruz se ofereceu a si mesmo”. Ora, pelo Sacrifício da Cruz, fomos remidos; por suas chagas, fomos curados (cf. Is 53, 5). São João Batista se refere ao Cristo como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). Aquele que é oferecido em sacrifício nos altares de nossas igrejas é o próprio Jesus, o filho do Deus vivo. E é o sacerdote o responsável pela celebração desse santo Sacrifício. É o sacerdote que aquele que continua a obra de Redenção sobre a terra, pois, ao repetir as palavras de Jesus na última ceia, revela a íntima ligação existente entre aquele sagrado banquete e a sua crucificação, pela qual somos salvos.
A Santa Missa é um mistério grandioso. E o santo cura de Ars reconhecia essa verdade: “Todas as boas obras reunidas não igualam o valor do sacrifício da Missa, porque aquelas são obra de homens, enquanto a Santa Missa é obra de Deus.” Reconhecia, ao mesmo tempo, que “a causa do relaxamento do sacerdote é porque não presta atenção à Missa”.
Importante são as considerações de Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja, sobre a tibieza dos sacerdotes que celebram de qualquer jeito o Santo Sacrifício da Missa:
“Que lágrimas, que lágrimas de sangue se deveriam chorar, quando se pensa no modo como a máxima parte dos padres celebram a missa! Causa pena, digamo-lo, ver o desprezo com que Jesus Cristo é tratado por tantos padres, até religiosos, e pertencentes a Ordens reformadas! Ao ver-se a negligência com que esses padres de ordinário dizem a missa, bem se lhes poderia fazer a censura que Clemente de Alexandria dirigia aos sacerdotes pagãos: que faziam do Céu um teatro, e de Deus o objeto da sua comédia.”
- Santo Afonso de Ligório
A Selva, edição em PDF, pg. 64
As palavras de Santo Afonso são duras: fazem do Céu um teatro, e de Deus o objeto da sua comédia. Quanto devem essas exortações inflamar o zelo dos sacerdotes em celebrar mais devotamente os Santos Mistérios! Quanto devem refletir a sua vocação e a sua dignidade os padres que fazem de seu ministério uma simples profissão, como todas as outras!
A dignidade sacerdotal é coisa demasiada grande para ser tão banalmente tratada pelos do mundo e até por aqueles que estão na casa de Deus. Para explicar a grandeza do ministério do sacerdote, São João Maria Vianney ensinava:
“Sem o sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem O colocou ali naquele sacrário? O sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso na vida? O sacerdote. Quem a alimenta para lhe dar a força de realizar a sua peregrinação? O sacerdote. Quem a há-de preparar para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no sangue de Jesus Cristo? O sacerdote, sempre o sacerdote. E se esta alma chega a morrer [pelo pecado], quem a ressuscitará, quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o sacerdote. (…) Depois de Deus, o sacerdote é tudo!”
- Santo Cura de Ars
citado por Bento XVI na carta de proclamação do Ano Sacerdotal
Os pensamentos do santo cura de Ars sobre o sacerdócio são realmente riquíssimos. E a simplicidade de suas afirmações não é fruto de uma mente intelectual brilhante ou de uma pesada bagagem de estudos. São João Maria Vianney era um homem realmente muito simples. Sobre a sua atuação no seminário escreveu Daniel Rops: “O seu cérebro, maravilhosamente capaz de fixar os fatos da vida prática e de penetrar nos seres, era radicalmente incapaz de armazenar as declinações latinas e as mais elementares noções de dogmática!”
Mas foi justamente na simplicidade desse pároco que Deus fez uma maravilhosa obra de santidade. O Santo Cura de Ars é considerado um dos maiores santos dos tempos modernos. Em um tempo onde o sacerdócio e a própria religiosidade perdiam força na Europa, esse pequeno padre conduziu à fé um número incontável de pessoas, mostrando, assim, fidelidade ao compromisso de levar almas para Deus.
E o que representa para nós, hoje, a celebração da memória litúrgica desse pároco francês? Sem nenhuma sombra de dúvida – e a própria proclamação do Ano Sacerdotal pelo Papa Bento XVI teve como motivo o 150º aniversário do Dies Natalis de São João Maria Vianney -, o seu exemplo de vida, as suas palavras acerca da grandeza do sacerdócio, são um convite. Precisamos valorizar mais o sacerdócio, dom de Deus! Sem sacerdote, não há Eucaristia; sem Eucaristia, não há Igreja. Sem sacerdote, não há o sacramento da Penitência; sem o perdão dos pecados, os pecadores não podem se salvar. “Como é grande o sacerdócio!”, exclamava o Cura de Ars. E como é grande a estima que os fiéis devem ter pelo sacerdote!
Recentemente a mídia vem noticiando casos de abusos sexuais cometidos por clérigos, que são realmente uma ferida para a Igreja, um motivo de muita tristeza, uma oportunidade de penitência, de reparação. A queda de uns, no entanto, não pode desmotivar o nosso amor pelo grande dom de Deus que é o ministério sacerdotal! Todos esses escândalos envolvendo membros do clero não mudam o fato de que a Igreja é edificada pela Eucaristia, sacramento que nos é oferecido justamente pelos sacerdotes. Além disso, deixar de lado a nossa gratidão pelos sacerdotes seria aderir ao movimento anticlerical midiático. Por que eles dão tanta ênfase aos pecados cometidos por alguns padres? Ora, o demônio tem consciência da importância do sacerdócio para a vida da Igreja; por isso, insiste em atacar a figura do sacerdote.
O modelo do santo Cura de Ars seja a força de todos os sacerdotes. Possam os leigos se unir em oração pela santificação dos ministros do mundo inteiro, para que sejam fiéis ao compromisso que firmaram diante de Deus e possam, a exemplo de São João Maria Vianney, conduzir ao redil de Nosso Senhor tantas ovelhas que se perderam por caminhos estranhos.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/