02.07.2010 - No calendário antigo, o dia 1º de julho é dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo (o Salvem a Liturgia! publicou uma série de textos interessantes sobre a festa). É recomendável a leitura da carta apostólica de João XXIII, Inde a primis, justamente sobre o assunto.
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“Porquanto, se infinito é o valor do Sangue do Homem-Deus, e se infinita foi a caridade que o impeliu a derramá-lo desde o oitavo dia do seu nascimento, e depois, com superabundância, na agonia do horto (cf. Lc 22, 43), na flagelação e na coroação de espinhos, na subida ao Calvário e na crucifixão, e, enfim, da ampla ferida do seu lado, como símbolo desse mesmo Sangue divino que corre em todos os sacramentos da Igreja, não só é conveniente, mas é também sumamente justo que a ele sejam tributadas homenagens de adoração e de amorosa gratidão por parte de todos os que foram regenerados nas suas ondas salutares.”
- João XXIII, Inde a primis, n. 10
30 de junho de 1960
A fé da Igreja na Redenção por Jesus é a base do culto de adoração ao Seu Preciosíssimo Sangue. “Vós sabeis que não é por bens perecíveis (…) que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver (…), mas pelo precioso sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum” (1 Pd 1, 18-19). Foi pelo precioso Sangue de Cristo que fomos resgatados. Por Seu Sangue podemos experimentar a graça de ser herdeiros da glória celeste.
É essa a fé da Igreja. Não é, no entanto, a mesma proposição da doutrina do espiritismo kardecista. Segundo Allan Kardec, o homem deve passar por um processo de “autorredenção” através de sucessivas reencarnações. E o Sangue de Cristo? “O sangue, mesmo de um Deus – diz Leão Dénis -, não seria capaz de resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se a si mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal. Nada de exterior a nós poderia fazê-lo.”
A frase do escritor espírita Leão Dénis é extremamente perversa, mas é apenas uma amostra da crença do espiritismo na autossuficiência do homem, uma crença que está em choque com a doutrina do pecado original. Se o homem pode resgatar-se a si mesmo, sem nenhuma ajuda sobrenatural, toda a narração bíblica da queda do homem, toda a fé dos cristãos de que, assim como por um homem – Jesus Cristo – a graça veio ao mundo, assim, também, por um homem – Adão -, entrou no mundo o pecado, é desprezada. A doação de Cristo na Cruz, para o espiritismo, não vale absolutamente nada. E é de se lamentar que muitos católicos – que se dizem “ecumênicos”, como se isso significasse traição ao Evangelho de Cristo – ainda queiram dizer que “entre espiritismo e catolicismo há pouquíssimas diferenças”. A Redenção de nossos pecados pelo Sangue de Nosso Senhor é, por acaso, um fator irrelevante?
Nessa festa na qual celebramos o Preciosíssimo Sangue de Cristo, possamos recordar com alegria o mistério da nossa Redenção. Com alegria e, ao mesmo tempo, com temor. Diz São Boaventura: “Quanto mais (…) reconheço os benefícios da redenção, tanto mais graves são os pecados da minha ingratidão!” Possamos, pela graça de Deus, vencer as tentações que se apresentam a nós e agradecer a Deus o Seu admirável auxílio, prestando ao Sangue de Nosso Senhor “homenagens de adoração e de amorosa gratidão”.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com