30.06.2010 - Na primeira leitura é narrado um episódio específico que mostra a intervenção do Senhor para libertar Pedro da prisão; na segunda, Paulo, com base em sua extraordinária experiência apostólica, diz-se convencido de que o Senhor, que já o havia libertado “da boca do leão”, o libertará “de todo o mal” abrindo-lhe a porta do Céu; no Evangelho, por sua vez, já não se fala dos Apóstolos individualmente, mas da Igreja como um todo e de sua segurança com relação às forças do mal, entendidas em sentido amplo e profundo. De tal modo vemos que a promessa de Jesus – “os poderes do inferno não prevalecerão” sobre a Igreja — compreende sim a experiência histórica de perseguição sofrida por Pedro e Paulo e por outras testemunhas do Evangelho, mas vai além, querendo assegurar a proteção sobretudo contra as ameaças de ordem espiritual; como o próprio Paulo escreve na sua Carta aos Efésios: “A nossa batalha, de fato, não é contra a carne e o sangue, mas contra os Principados e Potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos do mal que habitam os lugares celestes” (Ef 6,12).
Com efeito, se pensarmos em dois milênios de história da Igreja, podemos observar que — como havia preanunciado o Senhor Jesus (cf. Mt 10,16-33) – não faltam nunca para os cristãos as provações, que em alguns períodos e lugares assumiram o caráter de verdadeiras e próprias perseguições. Estas, no entanto, apesar do sofrimento que causam, não constituem o mais grave perigo para a Igreja. O maior dano, de fato, ela sofre dos que corrompem a fé e a vida cristã dos seus membros e de suas comunidades, danificando a integridade do Corpo Místico, enfraquecendo a sua capacidade de profecia e de testemunho, obscurecendo a beleza de sua face. Esta realidade é atestada já no epistolário paulino. A Primeira Epístola aos Coríntios, por exemplo, responde a alguns problemas de divisões, de incoerência, de infidelidade ao Evangelho que ameaçam seriamente a Igreja. Mas também a Segunda Carta a Timóteo – da qual ouvimos um trecho — fala dos perigos dos “últimos tempos”, identificando-os com atitudes negativas que pertencem ao mundo e que podem contaminar a comunidade cristã: o egoísmo, a vaidade, o orgulho, o apego ao dinheiro, etc. (cf. 3,1-5). A conclusão do Apóstolo é reconfortante: os homens que fazem o mal — escreve ele – “não vão muito longe, porque a sua insensatez será manifesta a todos” (3,9). Há, portanto, uma garantia de liberdade assegurada por Deus à Igreja, liberdade seja dos laços materiais que procuram impedir ou coagir a missão, seja dos males espirituais e morais, que podem afetar sua autenticidade e credibilidade.
O tema da liberdade da Igreja, garantida por Cristo a Pedro, tem também uma ligação específica com o rito da imposição do Pálio, que hoje renovamos para trinta e oito arcebispos metropolitanos, aos quais dirijo a minha mais cordial saudação, estendendo-a com afeto a todos aqueles que quiseram acompanhá-los nesta peregrinação. A comunhão com Pedro e seus sucessores, na verdade, é a garantia de liberdade para os Pastores da Igreja e para as próprias comunidades a eles confiadas. O é sobre ambos os planos colocados em destaque nas reflexões anteriores. Sobre o plano histórico, a união com a Sede Apostólica assegura às igrejas particulares e às conferências episcopais a liberdade para com os poderes locais, nacionais ou supranacionais, que em certos casos podem dificultar a missão da Igreja. Além disso, e mais essencialmente, o ministério petrino é garantia de liberdade no sentido da plena adesão à verdade e à autêntica tradição, de modo que o Povo de Deus seja protegido dos erros concernentes à fé e à moral. O fato de que a cada ano os novos metropolitas venham a Roma para receber o Pálio das mãos do Papa deve ser compreendido em seu significado próprio como gesto de comunhão, e a questão da liberdade da Igreja nos oferece uma chave de leitura particularmente importante. Isso aparece claramente no caso das igrejas marcadas pela perseguição, ou sujeitas a ingerências políticas ou a outras duras provas. Mas isso não é menos relevante no caso de comunidades que sofrem a influência de doutrinas enganosas ou de tendências ideológicas e práticas contrárias ao Evangelho. O Pálio, portanto, torna-se, neste sentido, um penhor de liberdade, analogamente ao “jugo” de Jesus, que Ele convida cada um a tomar em seus ombros (cf. Mt 11:29-30). Como o mandamento de Cristo – embora exigente — é “suave e leve” e, em vez de pesar sobre quem o carrega, o alivia, assim o vínculo com a Sé Apostólica – embora exija empenho – sustenta o Pastor e a porção da Igreja confiada a seu cuidado, tornando-os mais livres e mais fortes.
Fonte: http://fratresinunum.com