15.05.2010 - Tudo isto digo agora, para que saibamos que Deus não levará com paciência o descuido daqueles por quem Ele tanto se preocupa. Porque não é possível que uma pessoa tenha tão grande empenho por alguém e, ao mesmo tempo não se importe que o mesmo seja depreciado. Não, não se despreocupará Deus, mas se ofenderá e se irritará veementemente, como os próprios fatos demonstraram. Por isso o bem-aventurado Paulo nos exorta dizendo: “Pais, criai vossos filhos na disciplina e correção do Senhor” (Ef 4, 6).
Porque se a nós ordena zelar por suas almas como quem há de prestar contas por elas (Hb 13, 17), com maior razão o pai que os gerou, os criou e que convive constantemente com eles. E como o pai não tem escapatória nem desculpa de seus próprios pecados, assim tampouco em relação aos pecados de seus filhos. E isto foi também o bem-aventurado Paulo quem nos manifestou. Efetivamente, ao dar o Apóstolo leis sobre as qualidades que deverão ter aqueles que hão de mandar nos demais, entre todas as outras que indubitavelmente deverão adorná-los, exige também esta do cuidado dos filhos (1 Tim 3, 4), dando a entender que não teremos perdão se eles se perderem.
E com muita razão. Porque se a maldade chegasse aos homens pela lei da natureza, poderíamos nos acolher em alguma razoável defesa; mas como somos bons ou maus pelo livre arbítrio, que razão de boa aparência pode alegar o que deixa que se extravie e se corrompa aquele a quem ama sobre tudo o mais? Dirá que não quis fazê-lo bom? Mas não haverá pai que diga semelhante coisa, pois a própria natureza é estímulo bastante para despertá-lo para isso. Dirá que não pôde? Tampouco, porque o fato de tomar a criança quando ainda branda cera e ser sobre ele o primeiro e único poder e tê-lo sempre em casa, são coisas que fazem fácil e totalmente praticável seu governo. De sorte que não se pode achar outra origem para o extravio dos filhos que o louco afã das coisas terrenas. O não olhar senão para elas, o não querer que nada seja considerado acima delas, obriga a se descuidar tanto da própria alma como também da dos filhos. A estes pais (e que ninguém pense que é a ira que inspira as minhas palavras) eu não teria dificuldade em qualificar como piores que os assassinos de seus próprios filhos. Os assassinos, apesar de tudo, só separam a alma do corpo; mas os pais negligentes lançam juntos corpo e alma na fogueira do inferno. E a morte do corpo é necessidade inevitável da natureza; mas a da alma, se não fosse acarretada pela negligência dos pais, seria evitável. Ademais, a morte do corpo ficará rapidamente reparada com a chegada da ressurreição da carne; mas a perdição da alma não admite consolo possível, pois já não a espera mais salvação alguma, mas terá que sofrer, forçosamente, os tormentos eternos. De modo que, não sem razão, podemos afirmar que tais pais são piores que os assassinos de seus filhos. Não, não é crime tão horrível aguçar a espada, armar a destra e umedecê-la na própria garganta do filho, quanto perder e corromper uma alma, pois nada temos comparável a ela.
[São João Crisóstomo, Contra os Impugnadores da Vida Monástica; Discurso III, a um pai cristão; capítulo 9: Os pais são culpados dos pecados de seus filhos.]
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com
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