18.04.2010 - Artigo adicionado www.raihamaria.com.br
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15.04.2010 - Talvez alguns podem pensar que a evangelização tornou-se mais difícil que nunca. Com que cara nos vamos a apresentar ao mundo, a um mundo que nos associa talvez ao crime da pedofilia? Apresentemo-nos mais que nunca com rosto de ressuscitados. Porque a nossa lógica não é a do mundo. É a da cruz. Os ultrajes e as flagelações não intimidavam os Apóstolos. Antes pelo contrário, davam-se conta de que se tratavam de ocasiões privilegiadas para uma maior fecundidade. Deus ama vencer quando parece ser o mais fraco e o perdedor. O que os cálculos do mundo não podem supor, isso sucederá.
A segunda leitura, do livro do Apocalipse apresenta-nos a glorificação do “Cordeiro que foi imolado”, glorificação levada a cabo por “miríades de miríades e milhares de milhares” de anjos. Estes dizem em coro, com voz que supera o fragor dos oceanos: «Digno é o Cordeiro que foi imolado de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor!» Mas não são somente eles a proclamarem a glória de Cristo. “E ouvi”, ajunta São João, “todas as criaturas que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e o universo inteiro, exclamarem: «Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro o louvor e a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos».
O universo inteiro está chamado a cantar os louvores do Salvador. Como parecemos estar longe disso! No entanto, estejamos certos que, inexoravelmente, o nosso universo lacerado por tantas iniquidades se encaminha nesta direcção. Os homens podem esbracejar contra Deus, opor-se aos seus planos, mas parecem crianças que levantam uma muralha de areia, esperando poder parar deste modo a subida da maré. Em Cristo ressuscitado, Deus já venceu. Por isso, São João, já no prólogo do Apocalipse escreve: “Feliz quem ler e felizes os que escutarem as palavras desta profecia e põem em prática as coisas aqui escritas. Porque o Tempo é próximo”. Sim, o Tempo é próximo, é sempre próximo. A vitória de Cristo está já a actuar nos corações com grande poder e ninguém a pode deter.
Mas hoje em dia tantos meios parecem veicular uma mensagem totalmente oposta à fé! Aqui em Roma, quando filmaram “Anjos e demónios”, um filme inspirado num romance de Dan Brown, muito crítico com relação à Igreja, um sacerdote americano disfarçou-se de turista e introduziu-se no grupo dos actores, dos técnicos e dos que em geral dirigiam o filme. Estavam almoçar numa pizzaria. Como se pode imaginar choviam as críticas contra a Igreja. “Daria tudo para que desaparecesse da superfície da terra!”, exclamou um deles, repetindo, ao parecer, um frase do próprio Dan Brown. Então perguntou-lhe o falso turista: “Mas como será possível conseguir isso?”
“Claro que sim será possível!”, respondeu outro, exaltado. “Em 20 anos, as igrejas por aqui estarão todas vazias. Temos tudo na mão: a prensa, a rádio, a música, o cinema, o mundo da política, a economia, a ciência. Todos transmitem o mesmo discurso. Nunca teríamos pensado há 50 anos que tal domínio fosse possível!”
Sim, como podemos ainda atrever-nos a falar de vitória de Cristo? Como atrever-se ainda a falar de Cristo diante de altifalantes contrários tão poderosos? Na verdade, basta abrir a Bíblia para encontrar a resposta. Na Bíblia repete-se quase incansavelmente uma mensagem. É quase uma espécie de refrão. O homem que confia nas suas forças, no poder dos seus cavalos, na valentia dos seus guerreiros, na vantagem da sua situação, acaba derrotado. O David piedoso e de coração sincero, embora seja fraco e sem experiência, termina derrotando o Golias bem treinado mas presunçoso. A “fraqueza de Deus” é mais forte que a força dos poderosos e é precisamente através da fraqueza que se expande a invencível graça de Deus. Quem se crê forte já não pode ser um veículo eficaz da salvação.
Em realidade, a nossa força não pode ser outra que a aparente fraqueza do amor. É precisamente essa força, ou se quisermos, essa falsa fraqueza, que Cristo pede a Pedro no Evangelho deste domingo. Não lhe pergunta se é sábio, se será um grande planeador, um homem hábil ou eficaz, um líder capaz…Somente lhe pergunta se o ama realmente. O poder da Igreja não residiu nunca na sua fama. Os cristãos foram muitas vezes considerados canibais e assassinos no tempo dos romanos. Tampouco na sua capacidade de resposta. Somos atacados através da manipulação da informação, mas não podemos usar este tipo de armas. É toda uma gama ampla e rica de armas astuciosas, que não poderemos nunca utilizar, pois queremos permanecer fiéis ao amor. Mas aí está: o nosso poder é precisamente e somente o amor, ou seja, o Espírito Santo.
“Pedro, amas o Senhor?” É essa a pergunta decisiva acerca de um Papa. “Bento XVI, amas Cristo?” Sabemos que sim pelo martírio que está a sofrer com paz e com fé. Ainda hoje assisti à catequese que sempre dá às quartas feiras. Parece que nada lhe tinha sucedido nas semanas anteriores. Mas sim, muitas coisas sucederam que paradoxalmente tornam o seu ministério mais fecundo.
E mais que nunca também a nossa palavra pode ser fecunda. Quando tudo parecia ter-se tornado mais difícil em Jerusalém, os apóstolos e fiéis elevaram essa oração ao Senhor: “…verdadeiramente nesta cidade aliaram-se Herodes e Pilatos com as noções e os povos de Israel contra o teu servo Jesus, que ungiste para realizar o que, com o teu poder e sabedoria, havias pré-determinado que sucedesse. E agora, Senhor, tem em conta as suas ameaças e concede aos teus servos que possam pregar a tua Palavra com toda a valentia”. Acabada sua oração, tremeu o lugar onde estavam reunidos, e todos ficaram cheios do Espírito Santo e pregavam a Palavra de Deus com valentia.
Padre Antoine Coelho, LC
Homilia do III Domingo da Páscoa
Fonte: http://www.deuslovult.org