14.04.2010 - A ONU detectou 390 casos de desaparecimento, roubo e contrabando de material nuclear desde 1993.
Em 14 de dezembro de 1994, graças a uma denúncia anônima, a polícia da Checoslováquia recuperou em um carro estacionado nas ruas de Praga uma caixa carregada com 2,7 quilos de urânio enriquecido a 87,7%, um grau de pureza equiparável ao das ogivas atômicas do Pentágono. Seis meses depois, as forças de segurança checas interceptaram outros 500 gramas do mesmo material na capital e uma amostra de 17 gramas em um local no sul do país. Vários cidadãos russos e um físico nuclear tcheco foram detidos, aparentemente sem ter conseguido vender seu produto, em um dos episódios mais horripilantes de contrabando atômico já revelados.
Cerca de 25 quilos desse tipo de material radiativo equivalem à bomba de Hiroxima. A obscura trama tcheca é apenas um fragmento do amplo mosaico dos tráficos nucleares ocultos. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) enumera em sua base de dados 18 roubos de urânio ou plutônio refinados a níveis idôneos para fins militares desde 1993. Incluindo furtos ou desaparecimento de material na indústria civil - menos enriquecido, mas também perigoso -, já houve 390 casos.
"Mas essa é só a ponta do iceberg, porque os governos geralmente são muito reticentes a divulgar as perdas de material tão delicado", afirma em conversa telefônica Leonor Tomero, diretora do Departamento de Não-Proliferação do Centro para Controle de Armas de Washington. A Cúpula sobre Segurança Nuclear representa agora um grande "passo adiante", afirma Tomero.
"Ninguém que tenha examinado as provas abriga dúvidas de que grupos terroristas - incluindo a Al Qaeda, separatistas chechenos e (o paquistanês) Lashkar-e-Taiba - demonstraram interesse e deram passos para adquirir material e equipamento. O urânio altamente enriquecido necessário para montar uma bomba nuclear elementar poderia ser escondido em uma bola de futebol", escreveu no "New York Times", Mohamed El Baradei, diretor da AIEA até dezembro passado.
Ninguém conseguiu isso até agora, e o contrabando nuclear consistiu em uma série de furtos cometidos por trabalhadores do setor com a mera intenção de tirar partido econômico e sem fins ideológicos.
A batalha para evitar um ato nuclear terrorista é travada em duas frentes. Por um lado, além de garantir a segurança das mais de 20 mil ogivas dos arsenais dos nove países que possuem armas atômicas, trata-se de blindar todos os centros de enriquecimento de urânio militares e civis, os laboratórios de pesquisa e os armazéns de combustível. Todos os roubos registrados até hoje afetam esses centros, e não os arsenais.
O principal desafio é impedir que os funcionários das instalações estratégicas ofereçam informação técnica ou apoio a Estados que têm programas nucleares encobertos ou a grupos terroristas. As andanças do cientista Abdul Qadir Khan, o pai da bomba atômica paquistanesa, foram durante muitos anos um dos piores pesadelos dos serviços secretos ocidentais. Khan e sua rede facilitaram entre os anos 1980 e 90 material e informação para países como Líbia, Coreia do Norte e Irã. Ainda hoje, não está claro se Khan atuou por conta própria ou sob ordens da cúpula militar, da espionagem ou do governo de seu país. A simples suspeita de que tenha atuado livremente desenha cenários horripilantes.
"É um problema que se deve levar muito a sério", afirma em entrevista telefônica Daniel Nord, diretor adjunto do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz, em Estocolmo. Nord indica um fenômeno que complica a situação: a previsível crescente utilização de energia nuclear nos países emergentes, e a consequente proliferação de centros e materiais suscetíveis de ser saqueados. "Estou convencido de que a questão do acesso à tecnologia será - mais que o desarmamento - o eixo da conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação nuclear que se realizará em maio", afirma Nord.
Embora projetar uma ogiva atômica seja muito complicado, fazer explodir uma "bomba suja" - uma carga convencional com um pacote de urânio enriquecido - não é tanto. A explosão teria uma magnitude muito inferior à de uma ogiva atômica, mas seu impacto na história sem dúvida seria tremendo.
Fonte: UOL noticias
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Bomba Suja: a perigosa arma nuclear dos pobres
04.03.2008 - PARIS - O vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos Calderón, declarou nesta terça-feira em Genebra que a guerrilha das Farc "estaria negociando a obtenção de material radioativo para fabricar armas sujas de destruição e terrorismo".
Essa informação supostamente era citada em textos encontrados no laptop do número dois da guerrilha, Raúl Reyes, morto no sábado em uma operação da Colômbia em território equatoriano.
Seguem algumas informações sobre esse explosivo:
A bomba radioativa ou "bomba suja" é composta por materiais utilizados normalmente para fins civis, principalmente em medicina e na construção civil (como pregos), combinados com explosivos convencionais.
Relativamente fácil de fabricar, a "bomba suja" é considerada uma arma terrorista por excelência, porque além das vítimas da explosão, a radioatividade dispersa pelo ar contaminaria amplas áreas que não ficariam sem poder ser habitadas durante anos. Daí seu nome: bomba suja.
A bomba radioativa artesanal pode ser combinada com explosivos clássicos, como a dinamite. Ao explodir a carga, a substância radioativa se espalha.
É chamada também de "bomba nuclear dos pobres" porque seus materiais podem ser encontrados sem se gastar muito dinheiro. Além disso, é considerada pelos especialistas a forma mais certeira de se disseminar deliberadamente uma substância radioativa.
Contudo, até hoje nenhum grupo terrorista usou uma bomba suja e, desta forma, "não podemos saber verdadeiramente a eficácia real de um artefato semelhante", segundo George Le Guelte, pesquisador do Instituto de Pesquisas Internacionais e Estratégicas (IRIS) de Paris.
Este tipo de bomba não deve estar necessariamente combinado com um explosivo, porque a simples disseminação da substância radioativa poderá contaminar grandes áreas e provocar, por exemplo, câncer nos habitantes.
Os materiais radioativos que poderiam ser utilizados podem ser encontrados em hospitais e em setores da indústria e da construção.
Em sua aplicação industrial, são utilizados para medir a espessura dos metais e plásticos, assim como para radiografar as soldaduras, para verificar a solidez. Nos centros médicos, esses materiais são utilizados para esterilizar materiais.
O impacto de uma bomba suja é ainda maior caso sejam utilizados materiais nucleares, como o plutônio, urânio e cobalto.
Por exemplo, uma bomba convencional conectada a um fragmento de cobalto radioativo de apenas alguns centímetros de diâmetro e de 30 cm de comprimento poderia contaminar uma grande área de uma cidade, provocando aumentos dos riscos de câncer e obrigando os habitantes a abandonar suas casas por décadas.
Fonte: Terra notícias