Santo Afonso de Ligório: O humilde consentimento de Maria


26.03.2010 - Ora, pois, que se espera? Senhora, espera o anjo a vossa resposta, mais a esperamos nós já condenados à morte, diz S. Bernardo. Eia, ó querida Mãe, já se vos oferece o preço da nossa salvação, que será o Verbo Divino em vós feito homem. Se o aceitais por Filho, seremos imediatamente livres da morte. O mesmo Senhor nosso, pelo muito que está enamorado de vossa beleza, muito deseja o vosso consentimento, por cujo intermédio determinou salvar o mundo. Respondei, Senhora, depressa; não retardeis mais ao mundo a salvação, que de vosso consentimento agora depende.

Mas eis que Maria já responde ao anjo, dizendo-lhe: Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra. Eis a resposta mais bela, mais humilde e mais prudente, que nem toda a sabedoria dos homens e dos anjos juntamente teria podido inventar, se nela pensassem por um milhão de anos! Ó resposta poderosa que alegraste o céu e trouxeste à terra um mar imenso de graças e de bens! Resposta que, apenas saída do humilde coração de Maria, atraíste ao seio do Eterno Pai o Unigênito Filho, para fazê-lo homem no seio puríssimo da Virgem. Com efeito, mal foram pronunciadas as palavras “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, e já o Filho de Deus passou a ser também Filho de Maria. “Ó poderosa, ó eficaz, ó augustíssima palavra! – exclama S. Tomás de Vilanova. – Com um fiat criou Deus a luz, o céu, a terra, mas com este fiat de Maria um Deus se tornou homem como nós”.

Mas não nos desviemos do nosso ponto e consideremos, primeiramente, a grande humildade de Maria nessa resposta. Bem conhecia ela quanto fosse excelsa a dignidade de Mãe de Deus. O anjo acabava de assegurar-lhe que era essa feliz Mãe, escolhida pelo Senhor. Nem com tudo isso, porém, vemo-la se adiantar na estima de si mesma, ou demorar-se em vãs complacências. Considerando de um lado o seu nada, do outro a infinita Majestade de Deus que a escolhia por Mãe, reconhece-se indigna de tanta honra. Entretanto em nada se quer opor à sua vontade. Assim, pedindo-se-lhe o seu consentimento, que faz? que diz? Toda humilhada em si mesma, toda inflamada por outra parte do desejo de unir-se assim mais com Deus, responde num completo abandono de si própria à vontade divina: Eis aqui a escrava do Senhor, obrigada a fazer o que o Senhor ordena. E queria dizer: Se o Senhor elege por Mãe a mim, que nada tenho que me pertença, é porque tudo quanto possuo dele o recebi. Quem jamais pode pensar que ele me eleja por merecimento meu? Eis aqui a escrava do Senhor! Que merecimento pode ter uma escrava, para ser feita Mãe do seu Senhor? Seja, pois, louvada somente a bondade do Senhor, e não se louve a escrava. Pois que é tudo sua bondade, pôr os olhos numa criatura tão baixa como eu, e exaltá-la tanto.

Ó grande humildade de Maria, que a faz pequena a seus olhos, mas grande diante de Deus! exclama Guerrico, abade; indigna no seu conceito, e tão digna aos olhos daquele Senhor imenso, que não cabe no mundo! Mais beleza ainda há nas palavras de S. Bernardo, na quarta alocução sobre a Assunção de Maria. Aí admira a humildade desta Virgem, nos seguintes termos: Senhora, como pudestes unir no vosso coração conceito de vós mesma tão humilde, com tanta pureza, com tanta inocência e tanta plenitude de graça, como possuís? E como, ó Virgem Santa, se pode arraigar em vós essa humildade, e tanta humildade, quando tão extraordinariamente honrada e exaltada por víeis por Deus? Lúcifer, vendo-se dotado de grande beleza, aspirou a elevar o seu trono sobre as estrelas e fazer-se igual a Deus. Ora, que diria e que pretenderia o soberbo, se se visse ornado dos dotes de Maria? A humilde Maria não fez assim. Quanto mais se viu exaltada, tanto mais se humilhou. Ah! Senhor, por esta tão bela humildade (conclui o Santo), vós vos fizestes digna de enamorar vosso Rei com a vossa beleza; digna de atrair, com a suava fragância de vossa humildade, o eterno Filho, do seu repouso no seio de Deus, ao vosso puríssimo ventre. Por isso, diz Bernardino de Busti que mais mereceu Maria com aquela resposta, do que não poderiam merecer todas as criaturas com todas as suas obras.

[Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, p. 2, tratado I, IV, O humilde consentimento de Maria; pp. 287-289, Editora Santuário, 20ª edição, Aparecida, 1989]

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/


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