26.03.2010 - ROMA - O Vigário Emérito do Papa para a Diocese de Roma e Ex-presidente da Conferência Episcopal Italiana, Cardeal Camillo Ruini, explicou em uma recente entrevista que os graves casos de abusos sexuais cometidos por alguns membros do clero têm sua gênese na chamada "revolução sexual" dos anos 60 que fez que a sociedade estivesse "invadida pela exaltação da sexualidade".
Em uma entrevista concedida ao jornal liberal Il Foglio, dirigido pelo agnóstico Giuliano Ferrara, o Cardeal assinalou que "em minha opinião a campanha difamatória contra a Igreja católica e o Papa executada pelos meios de comunicação é parte da estratégia que está sendo executada há séculos e que Friedrich Nietzsche já teorizava com o gosto dos detalhes".
O Cardeal indica na entrevista comentada pelo vaticanista Sandro Magister que para "Nietzsche o ataque decisivo ao cristianismo não pode ser realizado no plano da verdade mas no da ética cristã, que seria inimizade da alegria de viver".
Então, prossegue, "queria perguntar a quem lança os escândalos de pedofilia principalmente contra a Igreja Católica, possivelmente mencionando o celibato dos sacerdotes: não seria possivelmente mais honesto e realista reconhecer que certamente estas e outras separações ligadas à sensualidade acompanham toda a história do gênero humano, mas também que em nosso tempo estas separações são ulteriormente estimuladas pela tão aclamada ‘liberação sexual’?"
O Cardeal Ruini indica logo que "quando a exaltação da sexualidade invade todo espaço da vida e quando se reivindica a autonomia do instinto sexual de todo tipo de critério moral, torna-se difícil explicar que determinados abusos são absolutamente condenáveis".
Em realidade, precisa, "a sexualidade humana desde seu início não é simplesmente instintiva, não é idêntica à dos animais. É, como todo o homem, uma sexualidade 'impregnada' com a razão e com a moral, que pode ser vivida humanamente, e fazer verdadeiramente feliz, somente se é vivida deste modo".
Este extrato da entrevista é citado por Sandro Magister em seu comentário "Gênese de um delito. A revolução dos anos Sessenta", sobre a carta pastoral do Papa Bento XVI aos católicos da Irlanda.
Nele, Magister assinala que "o escândalo da pedofilia existiu sempre, mas o giro cultural de meio século atrás o fez aumentar. Isso escreve Bento XVI em sua carta aos católicos da Irlanda".
O vaticanista italiano explica a seriedade e rigorosidade com a que o Santo Padre tratou este tema: estabelecendo um ano completo de penitencia para a Igreja na Irlanda, adoração constante ao Santíssimo, visitas apostólicas a diversas dioceses e congregações, assim como um ano de missão para todos os sacerdotes e religiosos.
"Quanto aos acusadores de primeira fila, os mais armados de pedras contra a Igreja, nenhum deles está sem pecado. Para quem exalta a sensualidade como instinto puro, livre de todo vínculo, é difícil que logo possa condenar cada abuso que se desprenda disto", assinala.
Para Magister, "a tragédia de alguns sacerdotes e religiosos, escreveu Bento XVI na carta, foi também a de acreditar em ‘modos de pensar’ similares, muito difundidos, que chegam a justificar o injustificável".
"Um abrandamento que não se pode imputar a Ratzinger, bispo e Papa, nem sequer pelo mais enfurecido de seus adversários, se é que é honesto", conclui.
Fonte: ACI