Bispos da França e Inglaterra saem em defesa do Papa nos casos de pedofilia


26.03.2010 - Os bispos da França expressaram nesta sexta-feira vergonha e pesar ante os atos abomináveis de pedofilia dentro da Igreja Católica, em carta dirigida ao Papa Bento XVI, ao término de sua assembleia geral realizada em Lourdes (sudoeste).

"Todos sentimos vergonha e pesar ante os atos abomináveis cometidos por alguns padres e religiosos", afirmam os bispos franceses, que, na mesma carta, defenderam o Papa contra os ataques que sofreu neste caso.

"Constatamos também que estes fatos inadmissíveis são utilizados em uma campanha para atacar o senhor e sua missão à serviço da Igreja", afirmam os prelados.

Também enviaram "uma cordial mensagem de apoio no difícil período que atravessa nossa igreja".

Os bispos manifestaram adesão às palavras do Papa "destinadas às vítimas dos crimes" e consideraram que as pessoas que cometem esses atos "desfiguram nossa Igreja".

"Mesmo que estes atos sejam resultado de um grupo muito pequeno de sacerdotes - e já é demais - os que vivem com alegria e fidelidade seu compromisso a serviço da Igreja também são afetados", afirma ainda a mensagem.

O chefe máximo dos católicos da Inglaterra e de Gales também negou que a Igreja tenha acobertado os abusos sexuais em um artigo publicado no jornal Times.

O arcebispo de Westminster, Vincent Nichols, considerou inadmissível a atitude das pessoas que abusaram sexualmente de menores.

"O abuso de crianças cometidos dentro da Igreja católica romana e seu acobertamento são profundamente chocantes e totalmente inadmissíveis", afirma o prelado.

"Envergonho-me do ocorrido e compreendo a ira e horror que estes casos produziram", enfatiza.

Bento XVI se encontra no centro de um escândalo ocasionada pela matéria do jornal The New York Times divulgando informações de que, nos anos 90, o então cardeal Joseph Ratzinger encobriu um padre americano suspeito de ter abusado de 200 crianças com deficiência auditiva.

O Vaticano saiu em defesa do Papa afirmando que ele só teve conhecimento dos fatos quando era tarde, quando o idoso sacerdote já estava muito doente.

Segundo o NYT, Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé nos anos 1990, abriu mão de iniciar os trâmites contra o padre acusado de ter abusado de quase 200 crianças surdas em uma escola do Wisconsin (norte dos Estados Unidos) entre 1950 e 1972.

Os documentos, mantidos em sigilo durante muitos anos, revelam uma correspondência de 1996 entre o padre Lawrence C. Murphy e o então cardeal Joseph Ratzinger, que presidia a Congregação para a Doutrina da Fé antes de virar Papa, afirma o Times.

Ratzinger também teria sido alertado sobre as acusações contra o padre Murphy pelo arcebispo de Wisconsin, que teria escrito duas cartas sobre a questão.

Murphy trabalhou na escola para crianças surdas e com deficiências auditivas do estado de Wisconsin entre 1950 e 1974.

Este novo caso, revelado pelo New York Times, diz respeito a julgamentos contra o arcebispo de Milwaukee, iniciados por cinco homens cujos advogados entregam ao jornal documentos referentes ao padre de Wisconsin.

Um julgamento a portas fechadas ante um tribunal eclesiástico contra o padre Murphy foi arquivado depois de uma carta redigida por ele a Ratzinger pedindo que impedisse o processo, acrescenta o jornal.

"Simplesmente quero viver o tempo que me resta na dignidade de meu sacerdócio", escreveu Murphy ao então cardeal Ratzinger. "Peço sua ajuda neste caso", prossegue o religioso americano.

Nenhuma resposta de Ratzinger figura entre esses documentos, e Murphy faleceu dois anos mais tarde, em 1998, quando ainda era padre.

Na resposta ao jornal, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, ressalta em um comunicado que se recorreu à Congregação pela primeira vez no fim dos anos 90, "quando já haviam transcorrido mais de duas décadas desde que os abusos foram denunciados aos dirigentes da diocese e da polícia".

Lombardi recordou que as autoridades civis americanas investigaram o padre Lawrence Murphy nos anos 70, após as acusações das vítimas, mas acabaram abandonando o processo.

Fonte: G1
 


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