Franciscano entre as dezenas de cristãos expulsos do Marrocos


24.03.2010 - “O que serve é o amor com liberdade”, responde o bispo da diocese

Por Patricia Navas

TÂNGER.- Um religioso franciscano de nacionalidade egípcia encontra-se entre as dezenas de cristãos expulsos do Marrocos neste mês de março.

O bispado de Tânger, diocese da qual foi expulso, pediu explicações dos motivos dessas expulsões às autoridades marroquinas. Entretanto, não recebeu nenhuma resposta, explicou seu bispo, Dom Santiago Agrelo, também franciscano.

O religioso foi detido pela polícia no domingo dia 7 de março. Depois de passar um tempo em uma delegacia, foi conduzido até um avião, que o devolveu ao Egito. Estava a quase dois anos no Marrocos.

O jovem havia feito sua profissão religiosa, mas ainda não tinha concluído o período de formação dos candidatos à vida religiosa.

Sua detenção ocorreu durante a reunião que a União Europeia e o Marrocos celebraram recentemente na cidade espanhola de Granada.

“Creio que, nessa diocese de Tânger, nunca ninguém foi expulso por motivos religiosos”, declarou Dom Agrelo, que no momento das detenções estava na Espanha.

O bispo acredita que nessa diocese tenha entre 2.000 a 2.500 católicos, entre seus mais de quatro milhões de habitantes.

Reconhece que não é possível ter um censo dessa comunidade de extrangeiros - somente os muçulmanos podem ser marroquinos -, que está caracterizada pela mobilidade.

A detenção do jovem católico soma-se à de dezenas de cristãos que foram expulsos do Marrocos neste mês de março no marco da “luta que as autoridades marroquinas fazem contra as tentativas de propagação da crença evangélica, destinada a agitar a fé dos muçulmanos”, segundo a agência oficial Maghreb Árabe Press.

Presença histórica

A presença franciscana no país se remonta no ano de 1219, quando foram martirizados em Marrakech os primeiros franciscanos. Durante a Idade Média, permaneceram, com períodos de ausência, atendendo a pequenas comunidades cristãs e comerciantes europeus.

A partir de 1630, quando o beato Juan de Prado fundou novamente a missão, os franciscanos se dedicaram a ajudar os cristãos cativos, acompanharam-nos compartilhando sua vida e cativeiro, fortalecendo-os na fé e também redimindo-os com as esmolas que conseguiam na Espanha.

Em 1861, o padre José Lerchundi foi destinado às missões de Marrocos e, depois de um período de crise, realizou a terceira fundação.

Atendiam cada vez mais comunidades cristãs, criaram escolas, fundaram hospitais e se dedicaram à modernização do país.

O religioso católico expulso neste mês no Marrocos era um dos oito franciscanos da diocese, que, junto aos franciscanos que vivem em outras cidades, são reconhecidos no país por sua bondade e serviço.

“O amor nos torna livres”

“Aqui trabalhamos com os pobres como cristãos; todo o mundo nos tem identificado como cristãos, conhecem nosso trabalho – declarou Dom Agrelo. Acredito que a respeitam muito e esse é o nosso modo de evangelizar”.

Na opinião do bispo de Tânger, “as palavras 'fortes' não servem de nada, nem aqui nem em lugar algum; o que adianta é a caridade, o amor... com liberdade, “nos fazem livres, fortes e cristãos”.

“Eu desejo que todas as pessoas tenham liberdade de consciência e liberdade religiosa, e penso que se os governos podem caminhar nessa direção, essa é uma questão política de grande importância, mas que compete ao governo, não a mim”, afirmou.

“Eu não sou um governo; aqui nem sequer sou cidadão, sim um extrangeiro que é acolhido pela hospitalidade de outro país e, desde o momento em que passo a fronteira do Marrocos, aceito as leis marroquinas”, continuou.

Também destacou o compromisso e o trabalho da Igreja Católica “com os pobres”. “O pão é mais importante que outras coisas – disse,e não se trata somente do nosso, que compartilhamos, mas também dos necessitados.

Respeito às leis

Em Rabat, o arcebispo católico Dom Vicent Landel e o pastor evangélico Jean Luc Blanc emitiram um comunicado diante das notícias dos últimos meses sobre a expulsão dos cristãos extrangeiros de diversas nacionalidades “diante da acusação do proselitismo ou de outros motivos que ignoramos”.

Semelhante a um comunicado que publicaram há quase um ano, após a expulsão de quatro evangélicas espanholas e uma alemã, os dois representantes destacaram seu respeito às leis do país.

“Sempre foi possível exercer nossa responsabilidade, em virtude da liberdade de culto reconhecida aos extrangeiros cristãos”, afirma o comunicado, do último 10 de março.

Explicaram: “nossa responsabilidade é ajudar nossos irmãos cristãos a se encontrar com seus irmãos muçulmanos, aprender a conhecê-los, respeitá-los e amá-los, sem nenhum desejo de proselitismo”.

“Nosso único objetivo é participar na construção de um Marrocos onde os muçulmanos, judeus e os cristãos estejam alegres em compartilhar sua responsabilidade para construir um país onde possa se viver a justiça, paz e reconciliação”, acrescentou.

Católicos em Marrocos

A minoria católica que vive em Marrocos tem reconhecida liberdade de culto, mas não a de consciência e religião, de modo que catequizar ou acolher na comunidade cristã um muçulmano é violação da lei.

A diferença do Marrocos em relação a outros países muçulmanos é que a Igreja Católica goza de um estatuto especial concedido pelo “Dahir Royal” do Rey Hassan II, em 1983, segundo a agência Fides.

Esse estatuto permite exercer pública e livremente suas próprias atividades, em particular as relativas ao culto, magistério, jurisdição interna, beneficência e a educação religiosa de seus membros.

Marrocos é uma monarquia constitucional, democrática e social de tipo teocrática. O Rey Mohammed VI tem o título de Emir dos Crentes no sentido de “defensor do Islã” e tem o poder civil e religioso, contra as mesquitas e a educação dos “Ulemás”.

A presença da Igreja é ativa nas escolas católicas e nos hospitais da Igreja, ainda que também existam religiosas que trabalham nos hospitais do Estado. Não existe uma estrutura no âmbito nacional do episcopado católico. A Conferência Episcopal Regional do Norte da África (CERNA), que agrupa Argélia, Tunísia, Líbia e Marrocos, atua como uma Conferência Nacional.

A CERNA, que tem sua sede na Argélia, depende da Congregação para os Bispos, enquanto que as duas dioceses de Marrocos, Tânger e Rabat, e a Prefeitura Apostólica do Saara Ocidental, dependem da Congregação para a Evangelização dos Povos.

A hierarquia está formada por dois arcebispos, o de Tânger, o franciscano espanhol Santiago Agrelo Martínez, e o de Rabat, o betharramita francês Vicent Landel.

Os católicos em Marrocos dão testemunho do catolicismo da Igreja que une as pessoas respeitando sua identidade cultural.

Fonte: www.zenit.org

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Diz na Sagrada Escritura:

"Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações". (Mt 24,9)

"Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada?" (Rm 8,35)

"Pois todos os que quiserem viver piedosamente, em Jesus Cristo, terão de sofrer a perseguição". (2Tm 3,12)


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