Artigo do Padre José do Vale: O Santo Sacerdócio


09.03.2010 -“Cristo é a origem de todo sacerdote: pois o sacerdote da [Antiga] Lei era figura dele, ao passo que o sacerdote da Nova Lei age em sua pessoa”.
Santo Tomás de Aquino (122-1274)  - Doutor da Igreja

O ofício do sacerdote é o sinal indelével ou caráter impresso na alma do sacerdote pela recepção do Sacramento da Ordem.
O sacerdote é o homem escolhidos dentre os homens, para representá-los em suas relações para com Deus.
No tempo dos patriarcas, Deus não tinha ainda escolhido homens para esta função. Os sacrifícios eram oferecidos pelo chefe de família, como Noé (Gn 8,20), Abraão (Gn 22,13), Jacó (Gn 31,54), ou pelo chefe da tribo, como Melquisedec (Gn 14,18) ou Jetro (Ex 18,12).
No tempo da lei mosaica, Deus estabeleceu uma jerarquia de três ordens: I) os levitas que eram varões da tribo de Levi, não descendente de Aarão. Alguns assistiam os sacerdotes oficiantes, outros se encarregavam da música durante a cerimônia e outros eram os porteiros superintendentes. Só lhes era permitido entra no pátio interior do Templo não porém no Templo, pois não era sacerdotes 2) os sacerdotes que eram os descendentes masculinos de Aarão, distribuídos em 24 classes (1Cr 24, 1 – 9) para servir semanalmente, por turnos, no Templo , onde deviam oferecer o sacrifício diário, no altar dos holocaustos (Ex 29,38; Hb 7,27; 10,11), queimar o incenso pela manhã e á tarde no “Santo” do Templo (Ex 30,7; Lc 1,9),e cuidar dos pães da proposição (Lv 24,5-9; Mt I2,4; Lc 17,13). 3) o sumo sacerdote, que era a autoridade suprema em matéria de religião. Aarão foi o primeiro sumo sacerdote, devendo o cargo passar aos primogênitos, dele descendente em linha reta. O cargo era vitalício. Pouco antes de Cristo porém, os sumo sacerdotes passaram a ser eleito e demitidos á vontade de Horodes e depois á dos procuradores romanos. Só o sumo sacerdote podia oferecer o grande sacrifício da expiação (Ex 30,I0; Lev I6; Hb 9,7) e somente ele podia entra no Santo dos Santos, no Templo. Era investido no ofício por unção ou por um pó imposição das vestes próprias e sagradas do sumo sacerdote. O sacerdócio judaico cessou com a instituição do verdadeiro sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo, do qual não era outra coisa senão a imagem e, finalmente, desapareceu no ano 7o d.C. com a destruição do Templo de Jerusalém.

No tempo do Novo Testamento, em que estamos, Cristo é o sumo sacerdote (Hb 5,10), e eterno sacerdote, consagrado pela encarnação do verbo. Exerceu seu sacerdócio na intuição da Eucaristia (Mt 26,26,-29; Lc 22,15,-20; ICor 11,23-25; Hb 9,22) e na sua morte sacrifical sobre a cruz (Hb 7,27;9,12.25s). Por suas santas palavras: “Fazei isto em memória de mim” ( Lc 22, I9; I Co 11, 24s) conferiu o sacerdócio aos apóstolos, habilitando-os a oferecer o sacrifício da Santa Missa, porquanto, cada sacerdote é ordenado para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados (Hb 5, I). Os apóstolos, por sua vez, ordenaram outros sacerdotes, para cumprirem a ordem de Cristo: “Fazei isto em memória de mim” e para perpetuar a aplicação dos méritos da Paixão e Morte de Cristo a todos os homens (At I4,22; Tito I,5). O sacerdote é, por seguinte, um ministro de Jesus Cristo (I Cor 4,I), representando-O junto do povo e representando o mesmo povo diante do bom Deus. Os fiéis participam do sacerdócio de Cristo num sentido lato, mas não no sentido estrito da jerarquia sacerdotal. Nós somos um povo sacerdotal(I Pd 2,5; Ap I, 6).

ALTO CONCEITO DO SACERDÓCIO

O poeta, bispo e Doutor da Igreja São Gregório Nazianzeno (330-389), Tinha altíssimo conceito do sacerdócio e aceitou ser ordenado somente para ir ao encontro das necessidades urgentes da Igreja e seguindo os conselhos insistentes dos amigos, fugindo de todo sentimento de vanglória ou de poder. Por si mesmo, considerava-se indigno, porque o sacerdócio exige pureza de coração e entrega total. Por isso, ele escreveu: “Ninguém é digno da grandeza de Deus da Vítima e do Sacerdote, a não ser que já se tenha oferecido a si mesmo a Deus como hóstia viva e santa... a menos que já se tenha imolado a Deus em sacrifício de louvor e com espírito humilde, as únicas coisas que o autor de todos os dons pede que lhe ofertemos”.
O alto conceito do sacerdote para o padroeiro dos sacerdotes do mundo inteiro São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, ultrapassa a de qualquer autoridade terrestre e até mesmo a dos santos: “A Santa Virgem Maria não pode fazer descer seu divino Filho na hóstia. Ainda que vocês tivessem duzentos anjos, eles não poderiam absorvê-lo. Um sacerdote pode fazer isso... O sacerdote é algo de grande”.
O queridíssimo Papa João Paulo II tinha um elevado conceito pelos sacerdotes e um zelo todo especial aos sacerdotes. Anualmente, por ocasião da Quinta-feira Santa, publicava uma “Carta a todos os sacerdotes da Igreja”. Para cada ano, escolhia um tema especial. Sua primeira carta, de 08 de Abril de 1979,começava assim: “ Nos inícios de meu novo ministério na Igreja, sinto profundamente a necessidade de me dirigir a vós, (...), sacerdotes, que sois meus irmãos em virtude do sacramento da ordem”.
João Paulo II escreveu de forma abissal sobre a dignidade do sacerdote: “O sacerdócio exige particular integridade de vida e serviço; tal integridade conduz muito bem com nossa identidade e a sacerdotal”. Nela se exprimem a grandeza da nossa dignidade e a “disponibilidade” que lhe é própria: a prontidão humana para aceitar os dons do Espírito Santo e distribuir ao outros o frutos do amor e da paz (...). (Carta n.4).

MINISTÉRIO E PERFIL DO SACERDOTE

“No serviço eclesial do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente à sua Igreja enquanto Cabeça de seu Corpo, Pastor de seu rebanho, Sumo Sacerdote do sacrifício redentor, Mestre da Verdade. A Igreja expressa dizendo que o sacerdote, em virtude do sacramento da ordem, age “in persona Chrristi Capitis” (na pessoa de Cristo Cabeça” (Catecismo da Igreja Católica n.1545).
“Os sacerdotes são consagrados para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento” (CIC n. 1564).
“O perfil do sacerdote configurado pelo amor tem traço que assinalamos: homem de Deus (com experiências viva de Deus) e homem dos homens (com entranhas de misericórdia), humilde (é sacramento de Cristo) e forte (“Sei em que acreditei” [1Tm1,12], receptivo (é sacerdote em Cristo) e ativo (é para os demais e vai atrás da ovelha perdida), colaborador (não é pastor independente) e protagonista (tem responsabilidade própria), em permanente relação (a conotação relacional pertence á sua identidade) e em alteridade (atua em nome de Cristo e da Igreja), sensível ás diferentes situações das ovelhas e firme na resposta (é o pastor), confiante (propenso a crê nas pessoas) e realista, transparente (não pratica a duplicidade) e fiel ao que lhe foi confiado, frágil (em sua vida) e seguro (dá segurança em seu ministério: “Teu bastão e teu cajado me dão segurança” (Sl 23, 4), é de cada um (assim o percebem aqueles com eles falam) e é para todos, vive a Cruz e a Ressurreição (é pessoa pascal)”. “Fica á consideração de todos que a pessoa do sacerdote, vista na chave do amor, é uma figura singular; implica uma dose de mistério – que existe – e que se torna atraente de perto, é a perspectiva mais objetiva para contemplar a pessoa. Objetiva para contemplar a pessoa. O sacerdote ou é amor ou não é nada”, afirma o reverendíssimo padre Saturnino Gamarra, escritor e sacerdote diocesano em Vitória, Espanha.
Santa Teresinha do Menino Jesus que era uma ardente intercessora dos sacerdotes dizia: “Enfim encontrei minha vocação na Igreja... no coração da Igreja serei o amor, assim serei tudo”.

Conclusão

Realmente, o fundamento para viver verdadeiramente o ministério sacerdotal é o amor, e esse amor se vive pela graça maravilhosa de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O amor é tudo para uma alma fazer a vontade de Deus. Já foi dito por São Paulo Apóstolo: “O amor de Deus esta derramando em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
É pela misericórdia do bom Deus que respondemos em atos concretos o nosso chamado ao santo sacerdócio.
O nosso sacerdócio é o nosso fiel sentido da vida feliz escolhido por Deus. A misericórdia do Pai Eterno nos coroou com a nossa vontade livre em prol de um desejo maior do que nossa razão. Só Deus sabe o melhor com segurança e duradoura alegria para seus filhos: hoje, amanhã e sempre!
“Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto e desse do Pai das luzes” (Tg 1,16).
Como é ínclito esse dom precioso do nosso santo sacerdócio. Receber essa dádiva perfeita por graça de um Pai que é todo santo, amor e Justiça em um ministério que é incomensurável!


Pe. Inácio José do Vale
Professor de História da Igreja
Pregador de Retiro Espiritual
Especialista em Ciência Social da Religião
E-mail: [email protected]


Fonte

Revista Beneditina, Julho/ agosto de 2009, pp.15 e16.
Pepe, Enrico. Mártires e santos do calendário romano, São Paulo: Editora Ave–Maria, 2008, p.24.

 


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