Padre Paulo Ricardo: Defender a fé é ser fiel ao cristianismo de 2000 anos


Adicionado ao site www.rainhamaria.com.br  - em 06.02.2010 -

 

“Eu não estou defendendo idéias do século XVIII ou XIX; eu estou defendendo o cristianismo de 2000 anos. É evidente que o mundo liberal não quer o cristianismo porque, afinal das contas, quer que o cristianismo morra. Não só que os padres de batina morram; quer que o cristianismo acabe. Só que acontece que o cristianismo é duro de matar, meu filho… É duro de matar porque nós… Nós já aprendemos uma coisa muito importante: (…) a Igreja já aprendeu, com seus erros do passado, que a fé não é uma coisa pela qual nos matamos, mas algo pelo qual nós morremos. Eu não estou disposto a matar você, mas estou disposto a morrer para defender a minha fé, isso sim.” - Padre Paulo Ricardo

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As belíssimas palavras do pe. Paulo Ricardo, proferidas há uma semana no programa Escola da Fé, apresentado pelo prof. Felipe Aquino, estão disponíveis no áudio e no vídeo acima. É, sem dúvida, uma declaração comovente e emocionante. Diante da pergunta de um espectador, que promove ofensivas à Igreja Católica e aos seus clérigos conservadores, padre Paulo reage mostrando que, de fato, o trabalho dele pela doutrina da Igreja é de conformidade com o Papa. Pede, inclusive, em determinado momento, que deixem que ele seja padre e concorde com o Santo Padre, pede o direito de ser católico.

Na situação atual do clero católico, as palavras do sacerdote são motivadoras. Quando olhamos para a maneira com que os ritos litúrgicos são desprezados, para o modo com que são tratados os ensinamentos do Sagrado Magistério da Igreja, para o escárnio com que as pessoas – muitas dessas fazendo parte do próprio clero – sem usam para falar dos sacramentos da fé católica, ficamos abatidos, desanimados. Mas, diante da perseguição e do desprezo, diante da zombaria, Jesus nos conforta: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). As palavras de padre Paulo Ricardo também são de certa forma consolo para todos os católicos nesse momento de crise e dificuldades na Igreja. Em meio ao habitual silêncio de muitos sacerdotes e bispos, agradecemos imensamente a Nosso Senhor que suscite pessoas compromissadas com o Evangelho e com as exortações da Santa Sé.

Gostaria de comentar aqui essas importantes palavras do pe. Paulo Ricardo para os nossos dias. De fato, o trabalho árduo de secularização que a nossa sociedade vem sofrendo interfere significativamente na nossa cultura. Os resultados de todo esse processo de paganização não são nada motivadores, de fato. O que observamos nos católicos – não só de nosso país, mas do mundo inteiro – é uma tendência individualista, a construção de uma nova moral, que tem seus alicerces no coração de cada pessoa. A Verdade não é mais uma para todos; é uma para cada pessoa, afinal, cada um tem seu conceito de verdade. Vai-se constituindo um relativismo moral que nada considera como certo e acaba por destruir todas as bases da moral cristã, que expõe ao homem a realidade de uma verdade objetiva.

Ora, mas qual o problema dessa idéia de que cada homem promove sua própria de pensar, forma essa que está alicerçada – como foi anteriormente afirmado – na moralidade individual? A questão é simples: nós, herdeiros do pecado original, temos algo que nos “puxa” para o pecado. Santo Agostinho expõe brilhantemente esse assunto n’O Livre-Arbítrio. A partir do momento em que o homem deixa que as suas paixões lhe dominem, ele desconsidera a razão, passa a se utilizar do egoísmo para buscar a verdade. Egoísmo. Eis a palavra. O homem se considera autor da verdade. E como está influenciado pelo pecado, não pode garantir de modo algum que sua verdade seja de fato autêntica. Então, sabendo que não pode provar racionalmente sua “moralidade” passa a afirmar o relativismo: não é preciso ter discussões; cada um constrói seu próprio conceito de verdade.

Quão absurda é essa afirmação! Quão insana e imbecil é essa mentalidade! Quão arrogante é o homem: achar que pode moldar a verdade a seu bel-prazer. Com efeito, essa idéia é prejudicial sobretudo à fé do católico. A partir do momento em que ele passa a afirmar que não há verdade – ou que a verdade seja subjetiva – então ele passa a negar aquilo que Jesus Cristo disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6); e ainda: “É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo” (Jo 18, 37). Ora, se não há verdade objetiva, se não há verdade absoluta, a fé em Cristo se torna praticamente impossível.

Outra característica da Verdade que é constantemente afirmada pela doutrina católica, e que não pode de modo algum ser negada sem que se cometa um grave erro contra a fé, é que a doutrina da fé é imutável:

“Não se abram os vossos ouvidos para que se introduzam neles perniciosas idéias, não se conceda esperança alguma de voltar a tratar nada das antigas constituições; porque – e é coisa que deve ser repetida constantemente – o que, por mãos apostólicas, com assentimento da Igreja Universal, mereceu ser banido da pregação evangélica, não pode cobrar vigor para nascer; nem pode voltar à vinha do Senhor o que consta ter sido destinado ao fogo eterno.”

(São Simplício Papa (468-483), Da imutabilidade da doutrina cristã, Denzinger, Manual de credos e definições, 160)

É disso que o padre Paulo Ricardo fala quando comenta que está “defendendo o cristianismo de 2000 anos”. O mundo moderno quer mudanças na Igreja: quer que ela de certo modo se adapte à ideologia do mundo atual. É certo que a Igreja deve sempre estar adaptando o modo como se anuncia o Evangelho. É, sem sombra de dúvidas, uma forma bastante eficaz de cumprir aquele mandato de Jesus: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). No entanto, isso de modo algum significa mudar o cerne da mensagem cristã, ou seja, aquilo que Jesus ensinou aos apóstolos. É preciso que o que Cristo pregou há dois mil anos atrás seja preservado na sua integridade mais pura. Ao mesmo tempo em que o Mestre disse que devíamos pregar o Evangelho, também observou: “Ensinai-as [as nações] a observar tudo o que vos prescrevi” (Mt 28, 20). Ora, a Igreja, responsável por guardar o depósito de fé, não pode de modo algum prescrever novas idéias, novos dogmas; Ela é fiel à doutrina de Cristo! E é isso que motivou São Paulo a olhar para a Igreja como uma realidade “santa e irrepreensível” (Ef 5, 27).

E talvez seja isso que cause repugnância no mundo. Enquanto os tempos vão mudando constantemente e a cultura vai se transformando de época em época, a Igreja, anunciadora da Verdade imutável, conserva. E eis aqui o grande segredo para que possamos seguir a doutrina católica em sua pureza: devemos estar sempre conservando. Não queremos mudar nem alterar as fórmulas da nossa fé! Não queremos uma nova religião, ou um cristianismo self-service, em que eu escolho aquilo que me agrada e descarto o que me é inconveniente. Queremos viver a totalidade e a integridade da fé que Cristo pregou e prega através do Seu Corpo, que é a Igreja.

E para estarmos em comunhão com a fé de 2000 anos da Igreja, devemos fazer aquilo que pe. Paulo Ricardo salientou muito bem: obedecer ao Santo Padre. A obediência ao Papa é a garantia da unidade. Porque o Espírito Santo assiste o Sumo Pontífice. É inacreditável que, em vinte séculos de Igreja, mais de 250 papas ocuparam o trono da Igreja Católica e NENHUM proferiu um discurso ex catedra que contradissesse um decreto dos seus antecessores. Nenhum! É que a Igreja procura conservar. Veja bem: ela quer salvar almas, ela quer convidar as pessoas a se salvarem. Mas antes disso, há o anúncio da Verdade! E foi isso que o Papa destacou na sua recente encíclica Caritas in Veritate: “Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade.” (n. 3)

Por fim, o padre Paulo Ricardo aponta: “[A] fé não é uma coisa pela qual nos matamos, mas algo pelo qual nós morremos.” A história da Igreja é a prova concreta dessa afirmação. Durante todos os tempos a Igreja sempre teve fiéis corajosos que, por amor à Verdade de Cristo, preferiram a morte a abandonarem suas convicções. E esse fato está estreitamente ligado com a transcendência da nossa fé, afinal “se é só para essa vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima” (1 Cor 15, 19). Isso faz o apóstolo declarar: “[P]ara mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fp 1, 21). Para os materialistas, a morte é o fim da vida; para os cristãos, é o começo da Justiça, o começo de uma vida de glória.

Não, nós não pomos nossa esperança nesse mundo. Somos cidadãos do Céu e sabemos que estamos nesse mundo somente de passagem. Olhamos para o martírio como uma forma de honrar plenamente a nossa fé. O cristianismo, nesse sentido, é magnífico. É fascinante. Todas as ideologias mundanas morrem aqui. Contudo, a doutrina do amor e da caridade (cf. 1 Cor 13, 8 ) permanece.

É essa a recompensa da nossa fidelidade: a vida. O que vem do mundo está destinado ao fracasso, mas aquilo que vem de Deus nos conserva para a vida eterna. Olhemos para Jesus, para a Virgem Maria e todos os santos e mártires. Que, olhando para a fidelidade deles, possamos também nós ser fiéis à doutrina da Igreja, contra a qual “as portas do inferno não prevalecerão” (Mt 16, 18).

Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!

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Leia também: A suprema ousadia de concordar com o Papa, do blog Erguei-vos, Senhor

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/.


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