04.02.2010 - Papa Bento XVI
Audiência Geral – sobre São Domingos de Gusmão
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“Inflamado do zelo de Deus e de ardor sobrenatural, por sua caridade sem fim e pelo fervor do espírito veemente, tu te consagraste todo inteiro, com o voto de pobreza perpétua, à observância apostólica e à pregação evangélica”. É precisamente este traço fundamental do testemunho de Domingos que é preciso sublinhar: ele falava sempre com Deus e de Deus. Na vida dos santos, o amor pelo Senhor e pelo próximo, a busca da glória de Deus e da salvação das almas caminham sempre juntos.
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Ordenado sacerdote, foi eleito cônego do capítulo da catedral da sua diocese de origem, Osma. Ainda que esta nomeação pudesse representar para ele algum motivo de prestígio na Igreja e na sociedade, ele não a interpretou como um privilégio pessoal nem como o começo de uma brilhante carreira eclesiástica, mas como um serviço a ser realizado com dedicação e humildade. Não seria talvez uma tentação a da carreira, do poder, uma tentação da qual nem sequer estão imunes aqueles que têm um papel de animação e de governo na Igreja? Recordei isso há alguns meses, durante a consagração de alguns bispos: “Não procuremos o poder, o prestígio e a estima para nós mesmos. (…) Sabemos como as coisas na sociedade civil e, com frequência, também na Igreja sofrem pelo fato de que muitos deles, aos quais foi conferida uma responsabilidade, trabalham para si mesmos e não para a comunidade” (Homilia. Capela Papal para a ordenação de cinco novos bispos, 12 de setembro de 2009).
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Este grande santo nos recorda que, no coração da Igreja, deve arder sempre um fogo missionário, que conduz incessantemente a levar o primeiro anúncio do Evangelho e, onde for necessário, a uma nova evangelização: é Cristo, de fato, o bem mais precioso que os homens e as mulheres de todas as épocas e lugares têm o direito de conhecer e amar! E é consolador ver como, também na Igreja de hoje, são tantos – pastores e fiéis leigos, membros de antigas ordens religiosas e de novos movimentos eclesiais – que, com alegria, gastam sua vida por este ideal supremo: anunciar e dar testemunho do Evangelho.
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Domingos, com um gesto valente, quis que seus seguidores adquirissem uma sólida formação teológica e não hesitou em enviá-los às universidades da época, ainda que muitos eclesiásticos olhassem com desconfiança para estas instituições culturais. As Constituições da Ordem dos Pregadores dão muita importância ao estudo como preparação para o apostolado. Domingos quis que seus frades se dedicassem a ele sem reservas, com diligência e piedade; um estudo fundado na alma de cada saber teológico, isto é, na Sagrada Escritura, e respeitoso diante das perguntas apresentadas pela razão. O desenvolvimento da cultura impõe àqueles que realizam o ministério da Palavra, nos diversos níveis, uma boa preparação.
Portanto, exorto todos, pastores e leigos, a cultivarem esta “dimensão cultural” da fé, para que a beleza da vida cristã possa ser mais bem compreendida e a fé possa ser verdadeiramente nutrida, reforçada e também defendida. Neste Ano Sacerdotal, convido os seminaristas e sacerdotes a estimarem o valor espiritual do estudo. A qualidade do ministério sacerdotal depende também da generosidade com que a pessoa se aplica ao estudo das verdades reveladas.
Domingos, que quis fundar uma ordem religiosa de pregadores-teólogos, recorda-nos que a teologia tem uma dimensão espiritual e pastoral, que enriquece a alma e a vida. Os sacerdotes, os consagrados e também todos os fiéis podem encontrar uma profunda “alegria interior” ao contemplar a beleza da verdade que vem de Deus, verdade sempre atual e sempre viva. O lema dos Frades Pregadores – contemplata aliis tradere – nos ajuda a descobrir, além disso, um desejo pastoral no estudo contemplativo destas verdades, pela exigência de comunicar aos demais o fruto da própria contemplação.
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Domingos foi canonizado em 1234 e é ele mesmo que, com sua santidade, nos indica dois meios fundamentais para que a ação apostólica seja penetrante. Antes de tudo, a devoção mariana, que ele cultivou com ternura e que deixou como herança preciosa aos seus filhos espirituais, os quais, na história da Igreja, tiveram o grande mérito de difundir a oração do santo rosário, tão querida pelo povo cristão e tão repleta de valores evangélicos, uma verdadeira escola de fé e de piedade. Em segundo lugar, Domingos, que se encarregou de alguns mosteiros femininos na França e em Roma, acreditou profundamente na oração de intercessão pelo êxito do trabalho apostólico. Somente no Paraíso compreenderemos quanto a oração das religiosas de clausura acompanhou eficazmente a ação apostólica! A cada uma delas dirijo meu pensamento agradecido e carinhoso.
Queridos irmãos e irmãs: que a vida de Domingos de Gusmão nos leve a ser ferventes na oração, valentes na vivência da fé, profundamente enamorados de Jesus Cristo. Por sua intercessão, peçamos a Deus que enriqueça sempre a Igreja com autênticos pregadores do Evangelho.
Papa Bento XVI, Audiência Geral
3 de fevereiro de 2010
Fonte: Zenit