Mortificação: loucura para os que se perdem


31.01.2010 - Escândalo para o mundo. É o que representa a notícia que saiu há alguns dias n’O Globo: Papa João Paulo II se flagelava frequentemente, diz livro. “Em seu armário, em meio a suas vestimentas, um tipo especial de cinto ficava pendurado num cabide, e ele o usava como açoite”. Pronto. Está armado o festival de críticas: “O Papa era sadomasoquista”, “Como essas pessoas são fanáticas…”, “Olha a que ponto chegou João Paulo II”. Para o nosso mundo, a mortificação, assim como a Cruz, é escândalo. A analogia que deve ser feita com a passagem do Evangelho não deve ser interpretada como mera casualidade: “A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é força divina” (1 Cor 1, 18).

O mundo moderno é perfeitamente hedonista. Eleva os prazeres acima de todo e qualquer valor. Essa mentalidade é o início da perdição do homem, porque a partir do momento em que ele submete a razão às suas paixões, desce ao nível dos animais. Com efeito, o homem tem um distintivo. Ele, diferentemente dos outros animais, possui um diferencial, que é a razão. Mas, quando despreza a sua razão e passa a valorizar as paixões da sua carne, passa também a se perder, passa a esquecer e rejeitar o Bem eterno e imutável que o criou. O hedonismo consiste em valorizar os prazeres da carne, aquilo que é próprio de todos os animais, em detrimento da própria sabedoria, da própria razão. Esse pensamento – que guia o mundo moderno – conduz o homem ao que Pio XII chama de “vícios mais vergonhosos da humanidade” (Sacra Virginitas, 50).

Nesse contexto, o cenário moderno é, no mínimo, interessante. Quando lemos uma notícia dessas, ficamos escandalizados. Como uma pessoa pode desvalorizar os prazeres da carne dessa maneira, chegando ao ponto do açoitamento? É uma pergunta interessante, que deve ser respondida à luz do pensamento cristão. Primeiro, o autor sagrado pergunta: “Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?” (Mc 8, 36) De fato, aquele que se deixa dominar pelas concupiscências nessa vida e se apega de modo desordenado às criaturas perde a vida eterna. O raciocínio cristão é: O que vale mais? Se sacrificar nessa vida ou perecer eternamente na outra?

“O que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á” (Mc 8, 35), diz Jesus Cristo. Mas o mundo despreza sua Palavra. E, no contexto do mundo moderno, nós notamos esse desprezo, nós observamos o culto exacerbado ao hedonismo e aos prazeres da carne. Afinal, a reação das pessoas quanto à notícia da Cruz é de escândalo. Mas, a reação das mesmas quando é anunciada a notícia da prostituição e da barbárie sexual é de conformidade, de aceitação, de aprovação. Nesse sentido, estamos diante de um sinal de contradição. Enquanto o mundo prega o prazer carnal, o sexo deliberado e a total substituição da razão pelas paixões, Jesus Cristo mostra-nos um caminho diferente: o caminho da mortificação, da penitência, da abstinência, do desprezo pelos conceitos desse mundo efêmero.

“É preciso vigiar primeiramente os movimentos das paixões e dos sentidos, e dominá-los com uma vida voluntariamente austera e com a mortificação corporal, para os submeter à reta razão e à lei divina: “Os que são de Cristo crucificaram a sua própria carne com os vícios e concupiscências” (Gl 5, 24). O apóstolo das gentes confessa de si mesmo: “Castigo o meu corpo e reduzo-o à escravidão, para que não suceda que, tendo pregado aos outros, eu mesmo venha a ser réprobo” (1 Cor 9, 27). Todos os santos e santas assim vigiaram os seus sentidos e reprimiram-lhes os movimentos, às vezes muito violentamente, segundo as palavras do divino Mestre: “Digo-vos que todo o que olhar para uma mulher, cobiçando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração. E se o teu olho direito te serve de escândalo, arranca-o e lança-o para longe de ti, porque é melhor para ti que se perca um dos teus membros, do que ser o teu corpo lançado no inferno” (Mt 5, 28-29). Essa recomendação mostra bem que nosso Redentor exige antes de tudo que não consintamos nunca no pecado, nem por pensamento, e que com a maior energia cortemos em nós tudo o que poderia, mesmo levemente, manchar esta virtude belíssima. Nesta matéria, nenhuma vigilância nem severidade é excessiva. E se má saúde ou outras razões não nos permitem pesadas austeridades corporais, nunca elas nos dispensam da vigilância e da mortificação interior.”

(Papa Pio XII, Sacra Virginitas, n. 51; 25 de março de 1954)

Castidade: para preservá-la os santos se utilizaram de métodos severos de mortificação. As pessoas que escolheram trilhar pelo caminho de Cristo, pelo caminho da Cruz, não devem ser menosprezadas ou criticadas. Elas estão em busca de algo mais sublime. Elas não querem viver a perversão sexual, elas não querem se rebaixar aos “vícios mais vergonhosos da humanidade”. Elas preferem se flagelar, sim, porque é melhor se flagelar do que ser, pelo apego desordenado aos bens materiais, uma pessoa eternamente frustrada.

É importante lembrar que a castidade é importantíssima para a nossa salvação. E “nenhuma vigilância nem severidade é excessiva” quando tratamos desse tema. De fato, não queremos perecer, não queremos viver eternamente na tristeza e na solidão. O Senhor nos convida, nesse sentido, a aceitarmos a sua Vontade, a sua Vontade de amor, mas também de sacrifício, de alegria e de felicidade, mas também de abstinência. Essa, com efeito, é sinal de verdadeira fidelidade. E é isso o que o Senhor quer de todos nós.

Rezemos pelo servo do Senhor, o Papa João Paulo II e por sua canonização. Rezemos também para que o mundo compreenda o amor e a Verdade que estão embutidos no Evangelho de Cristo; e para que, compreendendo, possam amar os seus valiosos ensinamentos. Hoje é dia de São João Bosco, o santo que lutou de maneira incansável pela castidade nos jovens. Peçamos a Dom Bosco que possa ajudar a juventude na luta pelo pudor. E que ela possa encontrar, no fim de sua vida, o rosto misericordioso de Cristo ressuscitado.

Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com


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