26.01.2010 - “Concordo que o mal e o sofrimento propõem um sério desafio intelectual e moral para os cristãos. (É interessante que, no Hinduísmo e no Budismo, não existe esse problema. Os hindus acreditam que seu sofrimento nesta vida é a conseqüência dos seus atos em uma vida passada. O Budismo acredita que o sofrimento é o produto do desejo egocêntrico e pode ser superado por meio de uma dissolução do “eu” que nutre esses desejos.) Quando coisas terríveis acontecem, parece que elas são mais facilmente explicadas pela ausência de Deus do que por sua presença. Mas o que poucos perceberam é que o mal e o sofrimento também propõem um terrível desafio para os ateus. A razão é que o sofrimento não é simplesmente um problema intelectual e moral; é também um problema emocional. O sofrimento não destrói mentes; ele destrói corações. Quando adoeço, não quero uma teoria para explicar o fato, quero algo que me deixará melhor. O ateísmo talvez tenha uma explicação melhor para o mal e o sofrimento, mas não oferece consolo. Entretanto, o teísmo (…) oferece uma forma melhor para se lidar com as conseqüências do mal e do sofrimento.”
(Dinesh D’Souza, A Verdade sobre o Cristianismo, 7ª parte, capítulo 24; pg. 307-308, Thomas Nelson Brasil, Rio de Janeiro, 2008)
O mistério do sofrimento é, de certo modo, atraente para a exploração dos ateus, quando sobrevêm ao crente alguma dificuldade ou algum mal. Se Deus é verdadeiramente onipotente e bondoso, por que permite que seus filhos sofram? O ideal seria começar a olhar para o sentido do sofrimento. À luz do pensamento cristão, somos convidados a olhar para o mal como uma fonte da qual podemos, com a graça de Deus, extrair bens valiosos. Mas, essa mesma proposta – de olhar para o sentido do sofrimento – parece impossível de ser respondida pelos ateus militantes a menos que queiram deixar a visão de mundo darwinista de lado. De acordo com essa, por exemplo, a dor pela morte de alguém ou o sofrimento por causa de uma tragédia seriam vãos, uma vez que a morte de pessoas é simplesmente a tragédia da extinção de alguns animais, e qualquer tentativa de confortar ou consolar o abatido seria descartada. Enfim, o ateísmo critica o Deus cristão, mas se vê obrigado, à medida que constata que o mal, de fato, “destrói corações”, a aceitar que conforto espiritual e consolação são, nesse momento de dificuldade, necessários.
Mas, alegarão os ateus, é bem melhor mostrar ao homem a verdade do que crer em fábulas e contos de fadas. O fato é que essa tentativa de comparar o Deus cristão com contos e fábulas é bem idiota: nunca ouvi nenhuma história em que era necessária uma fada para a criação do Universo ou onde as explicações filosóficas para se crer na existência do unicórnio fossem fortes o bastante para que qualquer pessoa sensata nisso acreditasse. Além disso, quem pode provar que a realidade não é verdadeiramente essa proposta pelo cristianismo? A ciência é laica. Não tem religião. Isso significa que ela também não professa o ateísmo. Fé e razão não são extremos opostos inconciliáveis, como propõem certos darwinistas. Fé e razão são bens vindos do mesmo Deus e, portanto, perfeitamente conciliáveis.
Atenhamo-nos, entretanto, ao problema do mal. É, sem nenhuma dúvida, complexo. A novidade do cristianismo é que, ao dar uma finalidade ao sofrimento humano, mostra um Deus que se compadece da situação do homem: Ele vem sofrer conosco. O símbolo dessa realidade é a Cruz. Lá está Cristo, no alto do Calvário. O homem se vê impossibilitado de alcançar a própria salvação. Ele, por si mesmo, não tem méritos. É, como diz a Escritura, pó. E, diante da situação espiritual em que se vê, não há nenhuma esperança de vida.
Se o homem não pode caminhar até Deus, então Deus caminha até o homem. O Filho do Homem se faz carne. Diante do problema do mal, a Escritura não o mostra debatendo com os doutores da Lei ou tentando mostrar ao homem que, de fato, o sofrimento é uma porta que abrimos para a plena realização da vontade de Deus em nossa vida. Ele aceita ser crucificado. É humilhado, ao máximo. Sofre, ao extremo. Sofre para nos remir e também para nos motivar na cruz das nossas dificuldades. Que sentido há em tudo isso? Um Deus que se faz homem? Um Deus que sofre por causa dos pecados do homem? Eis a misteriosa e magnânima Misericórdia de Deus, que o povo de Israel canta solenemente: “Louvai o Senhor, porque ele é bom. Porque eterna é a sua misericórdia.” (Sl 106, 1).
Cantamos a Misericórdia eterna de Deus ao mesmo tempo em que vivenciamos as finitas realidades da dor, do sofrimento e da morte. “Onde está, ó morte, a tua vitória?” (1 Cor 15, 55). A vitória de Cristo se dá na ressurreição. Assim, se com Ele sofremos, também com Ele triunfaremos. Se com Ele morremos, também com Ele teremos ressurreição. Demos graças, por fim, ao Senhor, “vós, que na hora da angústia me reconfortastes” (Sl 4, 2). Peçamos à Virgem Santíssima que nos dê a graça de contemplar a Misericórdia e a bondade do Altíssimo. Não sejamos indiferentes à Redenção.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/