25.01.2010 - Fui interpelado nos últimos dias por alguns céticos quanto às proposições cristãs que são feitas sobre Deus. Diante da catástrofe natural que ocorreu no Haiti e de tantos dilemas que são visíveis em nossa sociedade, a pergunta se relaciona com o sofrimento: por que Deus onipotente, sendo sumamente Bom, não impede que o sofrimento sobrevenha às pessoas?
Já havia respondido a essa pergunta, citando Santo Agostinho. Ele dizia sabiamente: “Deus onipotente, sendo sumamente bom, não deixaria mal algum em sua obra, se não fosse tão poderoso e bom que pudesse tirar até do mal o bem”. É importante, nesse contexto, dar sentido ao sofrimento. Se ele é indiscutivelmente um mal devemos fazer o possível para que tiremos dele um bem. Mas, a pergunta que se faz é mais profunda: Por que, ao invés de permitir, Deus não impede logo que soframos? Na pergunta está escondida uma tentativa perversa: de culpar a Deus pelos males da humanidade.
Mas o fato é que a morte, o sofrimento e demais desgraças só vieram ao mundo por causa do pecado do homem. São Paulo inclusive alude ao pecado como aquele do qual a conseqüência é a morte (cf. Rm 6, 23). E o pecado é justamente uma ação da liberdade do homem. A rejeição do bem e conseqüentemente escolha do mal, do pecado, é um ato cometido pelo homem. Deus não é culpado pelas escolhas livres do homem. Muito pelo contrário: Ele exorta o homem a buscá-Lo e a se apegar unicamente à Sua Vontade. Quando o homem peca, no entanto, sobrevêm-lhe as desgraças e as “mortes”. Ora, o mau uso da liberdade é, nesse sentido, a causa de diversos males. No entanto, mesmo desses males pode ser extraído um bem e me impressiona muito a Bondade e a Misericórdia de Deus nesse sentido. O mal é inevitável por causa do pecado; mas é aproveitável graças à Providência Divina.
Agora imaginemos a cena: um bandido que decide matar uma refém. Decide; e mata. Quem a matou? O bandido, logicamente. Mas parece que teve uma pessoa que estava assistindo ao ocorrido e não quis salvar a pessoa. Essa pessoa – acusam os ateus – é Deus. Se Deus é tão bom e onipotente, por que permitiu essa tremenda “injustiça”?
A Providência Divina simplesmente não funciona assim. Deus não desvincula as conseqüências dos atos humanos das suas decisões. O homem decidiu matar a refém. Decidiu, criou coragem e cometeu o crime. É claro que Deus poderia intervir. Só não intervém porque interferir seria negar que os atos humanos têm as suas respectivas conseqüências e que, mesmo que alguém queira praticar o mal, há um Deus que impede que isso aconteça e, portanto, as conseqüências do mau uso da sua liberdade não existiriam. Se Deus interferisse, Ele estaria negando a liberdade humana e o conceito de que as suas escolhas geram determinados efeitos.
O fato é que Deus tudo pode. Pode, inclusive, tirar do mal um bem. É preciso, pois esperar na Providência Divina que governa todo o Universo e confiar a Ele todas as nossas dores e sofrimentos, pois, se Deus permitiu que ela nos sobreviessem é porque Ele tem um plano de salvação maior.
Interessante até observar a oração do Pai-Nosso. Ela diz: “Livrai-nos do mal”, e não dos males. Por quê? Responde o Catecismo de São Pio X: “Dizemos: livrai-nos do mal, e não: dos males, por que não devemos desejar ser isentos de todos os males desta vida, mas só daqueles que são nocivos à nossa alma, e por isso pedimos a libertação do mal em geral, isto é, de tudo aquilo que Deus vê que para nós é mal” (n. 318). Devemos pedir a Deus que nos livre do mal absoluto. Todos os males que Deus permite que aconteça a nós, na verdade, podem ser de proveito para nossa alma.
Peçamos, por fim, a Deus que nos livre do mal e possa nos ajudar a mantermo-nos fiéis à Sua Vontade e à Sua Misericórdia, que governam o Universo.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/