21.01.2010 - A Secretaria da Saúde da Bahia e o Inga (Instituto de Gestão das Águas e Clima) notificaram nesta quinta-feira (21) a Prefeitura de Caetité e a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) para suspenderem imediatamente o consumo de água em três pontos onde foi detectada a presença de radioatividade acima do permitido pelo Ministério da Saúde. Dos três locais contaminados, um é utilizado para abastecimento de moradores: um poço no povoado de Barreiro abastece cerca de 15 famílias desde 2007.
O índice de radioatividade alfa encontrado foi 0,3 bg/litro, quando o padrão é 0,1 bg/litro, de acordo com a portaria 518 do Ministério da Saúde. Segundo os dois órgãos, a prefeitura deve garantir o abastecimento alternativo de água para as famílias. A suspensão foi determinada pelo diretor geral do Inga, Julio Rocha, logo após o recebimento dos resultados da última análise de coleta de amostra de água realizada pelo órgão na região de Caetité, que fica no sudoeste da Bahia, no início de dezembro do ano passado.
De acordo com Rocha, os outros dois pontos onde foram encontrados índices elevados de radioatividade estão localizados na área interna da INB e a água é utilizada para fins industriais: o poço 1, com índice de 4,07 de radioatividade alfa e de 4,05 para radioatividade beta (o padrão para radioatividade beta é 1,0 bg/l); e o tanque de acumulação Joaquim Ramiro, com 0,23 alfa.
A radioatividade alfa é "menos agressiva" do que a beta. Em geral, as partículas alfa não conseguem ultrapassar as camadas externas das células mortas, mas podem provocar lesões graves caso entrem no organismo através de ferimentos, por exemplo. A beta é capaz de ingressar nos tecidos, ocasionando danos à pele. A longo prazo, as pessoas que ingeriram água contaminada podem desenvolver câncer.
O diretor de regulação do Inga, Luiz Henrique Pinheiro, disse que o poço 1 não terá a sua autorização para uso da água renovada por causa do resultado dos testes. "O que preocupa é que este poço usado pela indústria contamina o aquífero", afirmou.
Relatório vai apontar responsável
Na próxima semana, o Inga deve receber o segundo resultado das análises, que vão indicar qual o elemento responsável pela radiação. "Estas análises irão identificar se a radiação é natural, já que o solo da região é rico em urânio, ou se as atividades da INB podem estar contaminando as águas dos poços e mananciais. Os resultados avaliam de forma precisa a qualidade das águas que estão na unidade e no entorno da INB, e quais são os elementos radioativos nas águas coletadas. O Ibama será comunicado destes resultados para que tome providências em relação ao licenciamento ambiental da INB, que poderá ser suspenso", acrescentou Julio Rocha.
Nesta quinta-feira, técnicos da Cerb (Companhia de Engenharia Ambiental da Bahia) iniciaram em Caetité o cadastro de moradores de diversos povoados que não utilizam a água tratada pela Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento).
Esta não foi a primeira vez que análises constataram radioatividade na água de Caetité. Em novembro do ano passado, o Inga determinou a suspensão do consumo de água em seis pontos analisados no município e em outras duas cidades: Lagoa Real e Livramento de Nossa Senhora.
A Prefeitura de Caetité informou que vai fornecer água às famílias do povoado de Barreiro e a INB aguarda a notificação para se pronunciar. No final do ano passado, a empresa encaminhou ao Inga um relatório informando que tinha adotado "ações corretivas e medidas preventivas" para evitar novas contaminações.
Fonte: UOL notícias
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Lembrando...
Pesquisadores detectaram substâncias perigosas na água potável nas cidades brasileiras
27.05.2009 - Atenção: tem café na sua água. Café e mais: resíduos de colesterol, hormônios sexuais, produtos industriais e uma infinidade de substâncias microscópicas que passam pelo sistema de tratamento das cidades brasileiras. Isso não quer dizer que a água seja imprópria para o consumo. Segundo todos os padrões internacionais de potabilidade, a água que chega às torneiras dos brasileiros é limpa e está pronta para beber. O problema é que, até hoje, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não avaliou os riscos para a saúde desses resíduos.
O alerta sobre a presença desses compostos vem de cientistas no Brasil e no exterior e tem sido feito há cerca de dez anos. As companhias de saneamento, no entanto, afirmam que não podem fazer nada enquanto não existir uma legislação sobre o assunto. Essas empresas seguem recomendações do Ministério da Saúde, que, por sua vez, segue as orientações da Organização Mundial de Saúde.
Os pesquisadores da OMS ainda estão investigando o assunto. Segundo a assessoria de imprensa do órgão em Brasília, não existem informações sobre o tema no Brasil. Por enquanto nem ao menos se sabe se essas substâncias fazem ou não mal à saúde e em que concentrações poderia morar o perigo.
"Os cientistas começaram a pesquisar e a detectar pequenas quantidades de substâncias perigosas na água que sai da torneira, aquela que já passou por todo o sistema de tratamento e está pronta para o consumo da população”, explicou o chefe do departamento de desenvolvimento técnico e inovação da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Américo Sampaio, ao G1.
“Temos [esses] estudos, mas não temos um padrão”, afirma ele. “A água que entregamos na casa das pessoas obedece todos os padrões nacionais e internacionais de potabilidade. Ela é pronta para beber. Mas não temos ainda uma legislação sobre essas substâncias e sem ela não podemos fazer nada a respeito”, explica Sampaio.
Entenda
Toda vez que você toma uma medicação, parte dela é absorvida pelo seu organismo e parte é expelida, através da urina e das fezes. Isso não desaparece magicamente no ar. Vai até o sistema de esgoto, passa pelo tratamento e é liberado no ambiente. Depois, é capturado novamente pelo sistema de tratamento de água, passa por tudo e volta para a torneira da sua casa. Ou seja, parte (uma parte muito reduzida, é claro) do remédio para dor de cabeça que você tomou hoje pode voltar para sua torneira daqui alguns dias.
É preciso explicar que estamos falando de uma parte muito reduzida, mas muito reduzida mesmo, do remédio, café e afins. “Estamos falando de uma concentração muito pequena”, explica o professor Ivanildo Hespanhol, diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra) da Universidade de São Paulo (USP). Mas não faz mal? Aí é que fica a interrogação.
É uma concentração muito pequena, mas que está aumentando ano a ano, graças ao crescimento da população brasileira. E enquanto a Organização Mundial de Saúde não tiver o que os cientistas chamam de “padrão de potabilidade de fármacos” – ou seja, uma definição do que seria considerada uma quantidade segura de remédios na água – as companhias não sabem como agir.
“Nós estamos em um nível de pesquisa muito inicial sobre isso, ainda restrito às universidades”, explica Daniel Cerqueira, analista de controle de qualidade da Companhia de Saneamento de Minas Gerais, a Copasa. “Que ocorre essa contaminação, ocorre. Mas ainda não sabemos nem mesmo qual a metodologia mais adequada para investigar esse problema”, explica.
Carlos Eduardo Pierin, gerente de controle de qualidade da Sanepar, a Companhia de Saneamento do Paraná, concorda. “Seguimos a portaria do Ministério da Saúde. Se a OMS ainda não se manifestou, não temos nem como saber onde procurar. Precisamos de mais estudos e para isso contamos com o apoio das universidades. É assim que a coisa funciona”, diz Pierin.
A companhia do Rio Grande do Sul, Corsan, diz que não tem dados sobre o assunto, mas que está se preparando para mudanças futuras na legislação. "Não estamos alheios à possibilidade de presença destes na água e seguimos nos equipando para, em breve, desenvolvermos tecnologia para efetuar estas determinações", afirma o engenheiro da empresa, Ivan Lautert Oliveira.
É o mesmo que afirma o diretor de tecnologia da Sabesp, Marcelo Salles. "A Sabesp acompanha os estudos da comunidade científica nacional e internacional e cumpre os padrões da OMS", declara. "A empresa aguarda o resultado dos estudos que estão em andamento."
Estudos
As universidades estão atrás dos dados que as companhias precisam. O professor Wilson Jardim, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estuda a presença dessas substâncias tanto antes quanto depois do tratamento de água nas bacias que servem a cidade do interior paulista. Seu estudo encontrou resíduos de produtos industriais (dietilftalato, dibutilftalato e bisfenol A), de cafeína, de colesterol e de hormônios sexuais (estradiol, etinilestradiol e progesterona) na água tratada. O mesmo seria encontrado em outras cidades do país, acredita ele. “Fizemos o estudo em Campinas, porque estamos na Unicamp. Mas a mesma coisa poderia ser vista em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou qualquer outra cidade”, afirma Jardim. “O que você procurar, você acha”, diz o cientista.
A preocupação dos pesquisadores é maior quando falamos dos hormônios. Por exemplo, aqueles que existem em comprimidos anticoncepcionais, que são expelidos pelo organismo de mulheres e liberados na água todos os dias.
Por enquanto não se sabe se isso pode causar algum problema à saúde humana, mas os hormônios em excesso já estão alterando o desenvolvimento de espécies de plantas e animais nas represas. “Temos encontrado peixes e sapos hermafroditas nas represas de São Paulo e acreditamos que isso tenha a ver com o excesso de hormônio presente na água”, explica o professor Hespanhol, da USP.
Os hormônios que bebemos não são reconhecidos como “inimigos” pelo nosso organismo. Na verdade, ele acredita que as substâncias têm todo o direito de estarem ali. O excesso atrapalha o funcionamento de todo o corpo, podendo levar a problemas de fertilidade tanto em homens quanto em mulheres. Além disso, o excesso do hormônio feminino estrogênio, comum em muitos tratamentos médicos e contraceptivos, está ligado a um risco maior de desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como o de mama.
Tratamento
Se a má notícia é que não se sabe o quanto é preciso baixar o nível desses fármacos, a boa é que quando se souber, já será possível retirá-los da água. De acordo com Sampaio, da Sabesp, o primeiro passo para reduzir essa contaminação é melhorar o tratamento de água e esgoto que já está em operação. O professor Wilson Jardim, concorda. “A curto prazo devemos atualizar a tecnologia das estações de tratamento para limpar da melhor maneira possível o esgoto bruto que recebemos, e, assim, reduzir ao máximo a presença dessas substâncias”, afirma o cientista.
O segundo é mais complexo e exige uma mudança “política”, para o pesquisador da Unicamp. “O Brasil precisa começar a tratar, de fato, o esgoto. Nosso saneamento básico é extremamente deficiente. Chega a ser vexatório o que se investe em saneamento no nosso país”, diz o pesquisador.
Ivanildo Hespanhol, da USP, tem uma proposta para modernizar o tratamento de água brasileiro. No Cirra, sua equipe desenvolve membranas que prometem melhorar a qualidade da água, com o mesmo custo e ocupando menos espaço. “Se a gente substituísse o sistema atual pelo de membranas, ele ocuparia uma área de um quarto da original. Isso é extremamente importante em grandes centros urbanos, que precisam de espaço”, explica o pesquisador.
Para retirar os hormônios, os remédios e outros compostos orgânicos da água, a saída seria o uso de carvão ativado. “Nós temos a tecnologia e as companhias de saneamento precisam começar a aplicar”, afirma Hespanhol.
Fósforo
Se os fármacos assustam na água tratada, na água não-tratada o inimigo é o fósforo. Essa substância é um contaminante importante que é liberado no sistema de esgoto pelas fezes humanas. Uma vez na água, ele age como um “supernutriente” para microorganismos e algas na água. Não é a toa que o fósforo é um dos componentes dos fertilizantes agrícolas. “Sol, calor, luz e fósforo é o paraíso das algas”, explica Américo Sampaio.
O que sobra após o tratamento do esgoto é liberado nas águas. Se ocorrer em excesso, as algas se multiplicam perigosamente, entupindo canos nas represas e, no caso das algas chamadas de “cianofíceas”, que são tóxicas, colocando em risco a saúde humana.
A lei brasileira exige que as companhias de saneamento monitorem o nível de fósforo em todas as suas represas e rios. Mas embora existam métodos para retirar essa substância da água, as companhias de saneamento do país não os utilizam. “O Brasil faz apenas as etapas primária e secundária de tratamento de esgoto, que retiram o lixo sólido e as partículas solúveis [respectivamente]. A etapa terciária, que elimina o fósforo, praticamente não existe”, explica Iara Chao, que trabalha na Sabesp e desenvolveu uma nova forma de retirar essa substância da água, em seu mestrado feito na Universidade de São Paulo.
Nessa nova técnica, a cientista usa o lodo que é acumulado e jogado fora após o tratamento de esgoto. Esse lodo é rico em sulfato de alumínio, que reage com o fósforo e permite que ele seja retirado. “É um resíduo que é liberado no meio ambiente e que pode ajudar a eliminar o fósforo nas represas. Com esse método, a gente resolve dois problemas: remove o fósforo e recicla o lodo”, afirma Chao.
Fonte: G1