20.01.2010 - 52. Além disso, segundo a lição dos santos padres e doutores da Igreja, libertamo-nos mais facilmente dos atrativos do pecado e das seduções das paixões, fugindo com todas as forças, do que atacando de frente. Segundo são Jerônimo, para conservar a pureza, a fuga vale mais do que a luta aberta: “Fujo, para não ser vencido”, dizia de si mesmo. Essa fuga consiste em nos afastarmos com diligência das ocasiões do pecado, e sobretudo em elevarmos nosso espírito para as realidades divinas durante as tentações, fixando-o naquele a quem consagramos a nossa virgindade: “Olhai para a beleza do vosso amante Esposo”, recomenda santo Agostinho.
53. Mas essa fuga e vigilância, para não nos expormos as ocasiões de pecado, parece que não são hoje compreendidas por todos, apesar de os santos as terem considerado sempre o melhor meio de luta nesta matéria. Pensam de fato alguns que os cristãos, e especialmente os sacerdotes, já não devem ser uns separados do mundo como outrora, mas devem pelo contrário estar presentes ao mundo e, por conseguinte, arrostar o perigo e pôr à prova a sua castidade, para assim se patentear se têm ou não suficiente força para resistir. Vejam, portanto, tudo os jovens clérigos, para se habituarem a encarar tudo sem perturbação e para se imunizarem assim contra toda a espécie de tentações. Desse modo, facilmente lhes permitem fixar sem resguardo tudo o que lhes cai debaixo dos olhos, freqüentar cinemas, mesmo para ver películas proibidas pelos censores eclesiásticos, percorrer toda a espécie de ilustrações, mesmo que sejam obscenas, e ler até os romances que estão no Índex ou que proíbe o direito natural. Concedem-lhes tudo isso sob pretexto de que hoje grande parte das pessoas alimenta o espírito com esses espetáculos e publicações, e que é preciso que aqueles a quem hão de ajudar, lhes compreendam a maneira de pensar e sentir. É fácil de ver a falsidade e o perigo de tal maneira de formar o clero e de o preparar para a santidade da sua missão: pois “quem ama o perigo nele perecerá” (Eclo 3, 27). A recomendação de santo Agostinho não perdeu nada da sua oportunidade: “Não digais que tendes almas puras se tendes olhos impuros, porque os olhos impuros são mensageiros dum coração impuro”.
54. Esse funesto método baseia-se numa confusão grave. É verdade que nosso Senhor disse dos apóstolos: “Enviei-os ao mundo” (Jo 17, 18), mas acabara de dizer: “Eles não são do mundo, como eu também não sou do mundo” (Jo 17, 16) e tinha rogado ao Pai: “Não te peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17, 15). Segundo esses princípios, a Igreja tomou prudentes medidas para preservar os padres que vivem no meio do mundo, das tentações que os rodeiam: essas normas têm por sim defender-lhes a santidade de vida das preocupações e prazeres próprios dos leigos.
55. Com maior razão ainda, é necessário separar os jovens clérigos da agitação do século, para os formar na vida espiritual e na perfeição sacerdotal ou religiosa, antes de os lançar no combate. Por isso, devem eles ficar por longo tempo no seminário ou nas casas de noviciado e formação, e receber educação apurada, aprendendo pouco a pouco e, com prudência, a tomar contato com os problemas do nosso tempo (…). Qual é o jardineiro que expõe às intempéries plantas escolhidas, mas ainda tenras, sob o pretexto de as experimentar? Ora, os seminaristas e os religiosos em formação são plantas novas e delicadas, que precisam de proteção e só progressivamente se vão habituando a resistir e a lutar.
Pio XII, Sacra Virginitas, 52-55
25 de março de 1954
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/