Papa: “no seminário, compreendi que Cristo era mais forte que a tirania”


20.01.2010 - O discurso proferido ao receber a cidadania honorária da cidade de Freising, na Alemanha

CIDADE DO VATICANO – A desolação deixada pelo nazismo, o desejo de renascer no pós-guerra e a certeza de que a tirania pode ser vencida por Cristo: foram estes os sentimentos ligados aos anos de formação no seminário, lembrados com emoção por Bento XVI ao receber, em 16 de janeiro passado, o título de cidadão honorário da cidade de Freising, Alemanha.

Durante o encontro com a delegação da cidade alemã no Vaticano, o Papa falou de sua profunda ligação com essa cidade, a qual se insere na arquidiocese bávara, por ele dirigida no período de 1977 a 1982, até ser nomeado, por João Paulo II, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Esta ligação especial também se expressa na decisão, por Joseph Razinger, de inserir, primeiramente no brasão episcopal e mais tarde no brasão pontifício, os símbolos do “Muro de Freising”.

Em seu discurso improvisado, o Papa lembrou quando, a 3 de fevereiro de 1946, o seminário de Freising reabriu suas portas, após longo período desativado, para um grupo de jovens aspirantes ao sacerdócio.

Parte da casa havia sido transformada num hospital militar para prisioneiros de guerra, mas, apesar das falta de conforto, havia “uma certa euforia”, contou Bento XVI.

Apesar das dificuldades, o Papa disse que “estavam felizes, não apenas porque finalmente haviam se livrado das ameaças da guerra e do domínio nazista, mas também porque eram livres, e, principalmente, porque seguiam no caminho que sentiam ser chamados”.

“Sabíamos que Cristo era mais forte que a tirania, o poder, a ideologia nazista e seus mecanismos de opressão. Sabíamos que o tempo e o futuro pertenciam a Cristo, e sabíamos que Ele havia nos chamado e que precisava de nós.”

Mais tarde, vieram os anos na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, da qual Bento XVI se tornaria docente de teologia.

Bento XVI lembrou ainda do dia de sua ordenação sacerdotal, juntamente com o irmão Georg, celebrada na catedral de Freising, a 29 de junho 1951, e das sensações experimentadas ao deitar-se no chão diante do altar, durante as invocações dos santos.

“Quando estava ali, deitado, plenamente consciente de minha miséria, pensei: serei de fato capaz de tudo isso”?

Com a imposição das mãos do ancião cardeal Faulhaber, porém, conscientizou-se de que "era o Senhor que colocava Suas mãos" sobre ele, e que Ele estaria junto, e que Seu amor protegeria e acompanharia.

O pontífice recordou também as torres que se elevam de Domberg e as colinas sobre as quais se ergue a catedral, que "indicam uma altitude diferente daquela que podemos alcançar num avião; indicam a verdadeira altitude, a de Deus”.

No início da audiência, conforme relatado pelo “L'Osservatore Romano", o prefeito de Freising, Thalhammer Dieter, saudou Bento XVI em nome dos presentes, citando Thomas Mann, o qual disse certa vez que “um habitante de Freising não é apenas aquele que ali nasceu. Habitantes de Freising são todos aqueles que, por suas vidas e suas obras, estão ligados a ela e por ela nutrem estima e apreço”.

Neste sentido, continuou, “o Papa é um habitante de Freising”. O prefeito informou, então, que para comemorar o a atribuição da cidadania honorária a Bento XVI, uma estátua de bronze seria colocada na catedral da cidade.

Fonte: www.zenit.org


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