Papa Bento XVI: A negação de Deus devasta também a criação


12.01.2010 - A Igreja está aberta a todos, porque, em Deus, existe para os outros. Por isso compartilha intensamente a sorte da humanidade, que, neste ano há pouco iniciado, aparece ainda marcada pela crise dramática que atingiu a economia mundial, provocando uma instabilidade social grave e generalizada. Na encíclica Caritas in veritate, convidei a procurar as raízes profundas desta situação: em última análise, encontram-se numa mentalidade egoísta e materialista corrente, esquecida dos limites inerentes a toda a criatura. Hoje queria sublinhar que esta mentalidade ameaça igualmente a criação. Provavelmente cada um de nós poderia citar um exemplo dos danos que a mesma provoca ao ambiente nos quatro ângulos da terra. Cito um, dentre muitos outros, na história recente da Europa: há vinte anos, quando caiu o muro de Berlim e quando desabaram os regimes materialistas e ateus que durante vários decênios tinham dominado uma parte deste continente, não se pôde porventura medir as feridas profundas que um sistema econômico sem referências assentes na verdade do homem infligira não só à dignidade e liberdade das pessoas e dos povos, mas também à natureza, com a poluição do solo, das águas e do ar? A negação de Deus desfigura a liberdade da pessoa humana, mas devasta também a criação. Daqui resulta que a salvaguarda da criação não visa tanto responder a uma exigência estética, como sobretudo a uma exigência moral, porque a natureza exprime um desígnio de amor e de verdade que nos precede e que vem de Deus.

(…)

Mas convém que esta atenção e este empenho pelo ambiente apareçam devidamente ordenados no conjunto dos grandes desafios que se colocam à humanidade. Se se quer construir uma paz verdadeira, como se poderia separar ou mesmo contrapor a proteção do ambiente e a da vida humana, incluindo a vida antes de nascer? É no respeito da pessoa humana por ela mesma que se manifesta o seu sentido da responsabilidade pela criação. Porque, como ensina São Tomás de Aquino, o homem representa o que há de mais nobre no universo (cf. Summa Theologiae, I, q. 29, a. 3). Além disso, como recordei na recente Cimeira Mundial da FAO sobre a Segurança Alimentar, «a terra é capaz de alimentar suficientemente todos os seus habitantes» (Discurso de 16 de Novembro de 2009, n. 2), desde que o egoísmo não leve ao açambarcamento por alguns dos bens destinados a todos.

Papa Bento XVI, Discurso ao corpo diplomático
11 de janeiro de 2010

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/


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