07.01.2010 - “Ag. Conseqüentemente, de modo algum poderias negar a existência de uma verdade imutável que contém em si todas as coisas mutáveis e verdadeiras. E não as poderias considerar como sendo tua ou como exclusivamente minha, nem de ninguém. Pelo contrário, apresenta-se ela e oferece-se universalmente a todos os que são capazes de contemplar realidades invariavelmente verdadeiras. É ela semelhante a uma luz admiravelmente secreta e pública ao mesmo tempo. Ora, a respeito de algo que pertence assim universalmente a todos os que raciocinam e compreendem, poder-se-ia dizer que pertence como própria à natureza particular de alguém?”
(Santo Agostinho, O livre-arbítrio, livro 2, 1ª parte, capítulo 12, 33; pg. 116-117, Paulus, 2ª edição, 1995)
Diante da realidade filosófica imposta pelo mundo moderno, que vê o relativismo como a única saída para as discussões sobre moral e sabedoria, a Santa Igreja vem nos ensinar que Deus, Verdade eterna, pode sim ser conhecido por todos os homens através da razão; e que, ao contrário do que dizem os subjetivistas, a verdade não está submetida aos conceitos de particulares. “Deus (…) – ensina o Concílio Vaticano I – pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas” (Sessão III, cap. 2, 1785).
A fé é, sem nenhuma sombra de dúvida, importante na nossa relação com Deus. É essencial, pois, nós, de fato, nunca vimos Deus. Mas as diversas manifestações de sua misericórdia durante a história da humanidade são claros exemplos de sua existência. “Havendo Deus outrora falado aos pais pelos profetas, muitas vezes e de muitos modos, ultimamente, nestes dias, falou-nos pelo Filho” (Hb 1, 1s). É na revelação de Cristo que a misericórdia de Deus e a Sua revelação ganha um sentido especial: a nossa fé agora é guiada pelo testemunho de pessoas que conviveram com o Filho de Deus e viram serem realizadas todas as profecias acerca do Messias num homem de Nazaré chamado Jesus.
Contudo, não é só no testemunho apostólico que baseamos a nossa fé em Deus. Ela está guiada também pela filosofia. Essa, por sua vez, nos convida a olhar para a Sabedoria e para a Verdade como a realidade divina presente em nosso meio. E, ao contrário do que defendem os filósofos contemporâneos, esses dois valores dos quais falamos não são relativos, ou seja, não estão submetidos à opinião de um ou de outro. Afirmar, por exemplo, que o ser humano tem autonomia inclusive para tirar a vida de outra pessoa seria compactuar com uma injustiça, seria ir contra a moral, uma moral que é acessível a todos os homens através da razão, do raciocínio.
Mas, o que impossibilita o homem de encontrar a Deus, eterna Sabedoria e suma Verdade? Só é feliz aquele que põe a razão acima de todas as suas concupiscências; aquele que valoriza o que é eterno e imutável, em detrimento das coisas passageiras e sujeitas à mudança. Conclui-se, portanto, que o que impede o homem de enxergar a Verdade e a Deus é justamente essa tendência de pôr os vícios e as paixões acima da razão, coisa que Deus deu a todo ser humano, sem exceção. Obscurecida a razão pelo egoísmo, o homem se torna incapaz de olhar para a Verdade e de encontrar a Sabedoria.
A verdade “apresenta-se (…) e oferece-se universalmente a todos os que são capazes de contemplar realidades invariavelmente verdadeiras”. Mas, para que o homem possa compreender e conhecer essa Verdade, eterna e imutável, precisa se despir do egoísmo e da arrogância de pensar que tudo sabe.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/