Em Maria, é-nos dada a graça que por Eva tínhamos perdido


21.12.2009 - “Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso. Nós vos louvamos, bendizemos e glorificamos pelo mistério da Virgem Maria, Mãe de Deus. Do antigo adversário nos veio a desgraça, mas do seio virginal da Filha de Sião germinou aquele que nos alimenta com o pão do céu e garante para todo o gênero humano a salvação e a paz. Em Maria, é-nos dada de novo a graça que por Eva tínhamos perdido. Em Maria, mãe de todos os seres humanos, a maternidade, livre do pecado e da morte, se abre para uma nova vida. Se grande era a nossa culpa, bem maior se apresenta a divina misericórdia em Jesus Cristo, nosso Salvador. Por isso, enquanto esperamos sua chegada, unidos aos anjos e a todos os santos, cheios de esperança e alegria, nós vos louvamos (…).”

(Prefácio, Missal Romano, p. 477, apud Folheto “Deus Conosco” de 20/12/09)

O mistério que celebramos nesse Natal que se aproxima é sobretudo um mistério de amor. São João alude a esse extraordinário amor com que Deus vem ao nosso encontro no Evangelho: “De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer (…) tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Com efeito, éramos pecadores e não éramos de nenhum modo dignos da graça de Deus. Em Cristo somos dignos e nos tornamos aptos a entrar no Reino de Deus. Jesus devolve à humanidade aquilo que tanto faltava para que se perpetuasse o amor: a graça. É ela que nos move a praticar o bem, as virtudes da Palavra de Deus.

E Maria é peça fundamental de toda essa história. Ela, que é Tabernáculo vivo, não hesitou em dizer sim quando o chamado de Deus em sua vida se fez presente. Diante da proposição do anjo Gabriel Maria se espanta, mas deixa bem claro que a vontade de Deus é um bem primordial: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

Maria foi mulher de . O Evangelho da Santa Missa desse domingo, quarto do advento, alude à saudação de Isabel: “Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!” (Lc 1, 45). Diante da fala do anjo Gabriel, Maria, espantada, poderia muito bem ter duvidado de tudo aquilo que ele lha disse. Mas, não, Maria teve fé nas palavras do Senhor. É um modelo para a sociedade moderna. Diante do crescente progresso tecnológico e científico que se é observado e diante do uso cada vez mais enfático da razão para se reafirmar verdades, o Evangelho é apresentado como um desafio. Uma virgem que dá à luz. Sim. Maria teve fé. E, de fato, como deixou bem claro Isabel, tudo que o anjo disse a ela se cumpriu e ela se tornou a mãe do Salvador.

Maria foi mulher de contradição. Na Palavra de Deus temos duas leituras fundamentais para compreendermos a situação da humanidade. A primeira narrativa, contida no livro do Gênesis, narra a tentação da serpente e o terrível consentimento de Eva. O gênero humano está destituído da graça de Deus e privado de Sua glória. Por outro lado, no Evangelho de São Lucas, temos a narração da anunciação, uma das mais belas passagens bíblicas, o momento em que uma simples mulher de Nazaré, aquela que viria a pisar na cabeça da serpente, com seu “sim”, aceita participar do plano de redenção de toda a humanidade. Não fosse a resposta afirmativa de Nossa Senhora a graça não poderia ser devolvida ao povo de Deus e permaneceríamos na escuridão do pecado e da miséria espiritual.

Nesse sentido, cantamos no dia da Páscoa: “Ó pecado de Adão, indispensável, pois o Cristo o dissolve em seu amor. Ó culpa tão feliz que há merecido a Graça de um tão Grande Redentor!” Como reagir àquela freqüente pergunta de muitos céticos: Por que Deus não impediu que Adão e Eva pecassem? Conforme canta o Salmo 33, “muitos males se abatem sobre o justo, mas o Senhor de todos eles os liberta.” O que isso quer dizer? Deus não impede que soframos. Ele deseja que, por meio do sofrimento, possamos colher frutos para a nossa salvação. Do mesmo modo é no caso do pecado de Adão e Eva. A desobediência de Eva mereceu a feliz e santa presença de uma Virgem Imaculada, que rompeu os laços do homem com a podridão do pecado, assim como a transgressão de Adão mereceu a Graça de um tão Grande Redentor.

Sim, conforme deixa clara a Oração Eucarística da Santa Missa de hoje, queremos louvar e bendizer ao Senhor pela graça de ter-nos mandado Seu Filho Jesus, para a redenção e salvação da humanidade. E queremos louvá-Lo pela presença indispensável de Maria nessa obra de amor. Que a Virgem Santíssima, Mãe humilde e obediente, nos ajude sempre a compreendermos e penetrarmos mais e mais no abismo de amor que é a sabedoria divina.

Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/


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