Artigo do Padre José do Vale O Desmonte Familiar


12.12.2009 - A família é a mais antiga e mais importante das grandes ordens da criação. Ela foi idealizada e instituída pelo próprio Deus. A sua sobrevivência está cada vez mais difícil e desafiadora. Os valores éticos e morais são pisoteados com muita naturalidade. O mundo que cerca a família – homem e mulher, casamento, fidelidade, monogamia, divórcio, aborto, etc. – tornou-se perigoso, escorregadio, sem limites, sem respeito, sem grandes perspectivas. Há maus exemplos, perigos de todos os lados e muitas famílias em ruínas e escombros morais.
Famílias incompletas: este é o maior resultado da desvalorização dos valores morais. As pesquisas mostram que, enquanto os casamentos aumentam 3,5% ao ano, as separações crescem mais de 15%.

Nossa sociedade incentiva cada vez mais o sexo pré-conjugal, levando os relacionamentos passageiros. Isto aumenta a infidelidade e gera mais separações.
As pessoas de nosso tempo vivem em busca do prazer e da felicidade. Para isso precisam suprir necessidades físicas e emocionais. Relacionar-se com alguém supre tais carências. Mas no momento em que os problemas aparecem, tudo o que levou o casal a se unir acaba. Vem a separação e as pessoas começam novamente a busca por aquele que os faça feliz. Assim, vão se envolvendo em relacionamentos passageiros, onde os casamentos são feitos e desfeitos, deixando um rastro de famílias fragmentadas.
Mas estes não são os valores que Deus nos deu para família e o matrimônio. Em (Gn 2,18-25) temos a primeira menção clara na Bíblia sobre a união de um homem e uma mulher com o objetivo de formarem uma família.
Deus disse: “Não é bom que o homem viva sozinho. Vou fazer para ele alguém que o ajude como se fosse a sua outra metade.” (Gn 2,18) Ser “outra metade” significa muito mais do que apenas “ajudar”. É um completar as necessidades do outro e não as de si mesmo. Se Deus faz parte dessa união, então as necessidades espirituais também serão supridas.
Daí, homem e mulher, unidos por Deus, se tornam uma só pessoa, numa só fé, debaixo das bênçãos de um único Senhor.
Quando um casal se separa, não é apenas o matrimônio que termina, e sim, toda a família. Homem e mulher ficam incompletos em todos os sentidos, pois casamento é mais que união. Casamento é a mistura de duas vidas, que se tornam apenas uma, e que, por mais que se tente nunca se conseguirá desunir por completo.
Homem e mulher não foram feitos para viveram sozinhos, e nem para ficarem casando e descasando ao mero acaso ou por conveniência (6º Mandamento). “O casamento, conforme criado por Deus é para que o homem e a mulher digam: “Agora sim” Esta é a carne da minha carne e osso dos meus ossos.” (Gn 2,23). Por isso o apóstolo Paulo diz em Ef 5,28: “O Homem deve amar a sua esposa assim como ama o seu próprio corpo. O homem que ama a sua esposa ama a si mesmo”.

É no matrimônio que Deus quer que os filhos sejam gerados. Marido, mulher e filhos formarão uma família completa, para sempre. Assim, os filhos crescerão num lar com os valores que vem da Palavra de Deus e terão em casa o melhor exemplo para formar a sua futura família, pois “Família e matrimônio são instituições de Deus sem as quais o ser humano perde o rumo e o sentido de sua existência” (Paulo P. Weirich)

O FUTURO DA IGREJA

Uma pesquisa nos Estados Unidos que revelou que 1 em cada 5 adolescentes disse que sua maior preocupação é “não passar tempo suficiente com os pais”. Outra pesquisa nos EUA mostrou que, quando o marido e a esposa trabalham, eles conversam um com outro em média de apenas 12 minutos por dia.
A qualidade das relações na sociedade passa pelas relações matrimoniais e entre pais e filhos. Este assunto é muito importante para Deus. Três dos Dez mandamentos se relacionam diretamente com a vida em família: “Respeite o pai e a mãe, para que você viva muito tempo na terra que estou lhe dando.” (Ex 20,12) “Não cometa adultério” (v. 14) e “Não cobice a casa de outro homem. Não cobice a sua mulher” (v.17). Temos na Escrituras muitas diretivas especificas que expressam as expectativas do Senhor Deus sobre o casamento, sobre as relações entre pais e filhos, sobre a vida em família. O que Jesus Cristo deixou dito serve como orientação nos relacionamentos individuais, sociais e familiares. Quando Jesus disse “Amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês” (MT 7.12), e “Assim como eu os amei, amem também uns aos outros” (Jo 13.34), certamente pensou nas relações familiares, ou seja, no lar.
É plausível para Igreja apoiar o plano de Deus para família e ao mesmo tempo ser uma comunidade que mostra compreensão, prove compaixão e promove os lares que necessitam reconstruir a vida em família para que a sociedade seja reconstruída igualmente. “O futuro da Igreja e da humanidade depende da família” afirmou o Papa João Paulo II.

FAMÍLIA BENDITA E FAMÍLIA MALDITA

“Bênção sobre a cabeça do justo, mas a boca dos ímpios encobre a violência. A memória do justo é bendita, o nome dos ímpios apodrece. O justo que se comporta honestamente: Felizes seus filhos depois dele”. (Pr 10,6. 7; 20. 7).

Faz algum tempo, uma revista da cidade de Nova York publicou um estudo realizado sobre as famílias norte-americanas. De um lado estava o lar de Maximiliano Jukes, homem incrédulo, casado com uma jovem tão irreligiosa quanto ele. Até o momento que se completou o referido estudo, observou-se que seus descendentes foram 1206, dos quais 300 morreram cedo; 100 foram encarcerados por vários delitos; 109 se entregaram ao vicio e a imoralidade; 102 puseram-se a beber; toda essa família custou ao estado de Nova York 1.100.000 de dólares.
Por outro lado, examinou-se a família de Jonathan Edwards, (grande teólogo) homem cristão, que se uniu em matrimônio com uma mulher também cristã. Seus descendentes foram 729, dos quais 300 foram pregadores; 13 foram reitores de universidades; 6 autores de bons livros; 3 deputados, e um vice presidente da nação. Essa família não custou um dólar sequer ao estado.

A grande diferença em ambas as famílias não se deu por mero acaso. Enquanto a primeira colheu os resultados da depreciação da fé, a segunda desfrutou prosperidade e beneficiou a sociedade como fruto de uma fé devidamente inculcada e praticada. O marcante contraste entre as duas referidas famílias ilustra o inegável poder da fé em Deus como uma força espiritual que eleva e enobrece os lares onde ela é cultivada com sabedoria.
Uma das causas do descalabro mundo que tanto nos aflige, e que começa por lares mal estabelecidos, é precisamente a ausência de fé cristã no coração do homem e no coração da sociedade: O lar. E como conseqüência de tal materialismo descrença, insensibilidade espiritual e incredulidade, o mal prolifera em toda parte e se desenvolve sem controle. Quer dizer, a decadência típica de nossa civilização obedece a um abandono geral dos valores permanentes que promanam de Deus e da fé nele.
Se a fé cristã fosse cultivada em todos os lares, não existiria rebeldia por parte dos filhos, nem delinqüência juvenil, nem afeição às drogas, nem prostituição, nem tampouco os males característicos dos nossos dias.
“Ensina a criança o caminho que deve andar, e mesmo quando for velho não se desviará dele” (Pr 22,6).

“Crianças não nascem criminosas. Nenhuma criança vem má ao mundo. Se têm problemas, precisam de cuidados, não de uma Colônia Penal. 80% dos seres humanos são concebidos por acaso”.
Auguste Le Breton (1913-1999) - Escritor Francês

Só existe uma única forma para construir uma família sadia em todos os sentidos: no fundamento da Palavra de Deus e de conhecimentos psicológicos na vida matrimonial.

 


Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de Historia da Igreja
Pregador de Retiros Espirituais
E-mail: [email protected]


Fonte

Caderno do Pem, volume 23, coordenado por Adilson Shünke e editado por Dieter Joel Jagnow. Porto Alegre: Concórdia, 2007.
Anderson, Neil T. Quebrando Correntes, São Paulo: Mundo Cristão, 1994.
Proteção espiritual para seus filhos, São Paulo: Editora Quadrangular, 1996.


 


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