03.12.2009 - Especialista fala das dificuldades e riscos dos membros das minorias religiosas
Por Michaela Koller
BRUXELAS.- Wahied Wahdat-Hagh, especialista em Irã, nesta entrevista a ZENIT, adverte do perigo que os milhares de cristãos no Irã correm por causa da legislação sobre apostasia. Ele explica que membros das minorias religiosas são cidadãos de segunda classe na teocracia do Irã.
Pesquisador político, Wahdat-Hagh trabalha para a Fundação Europeia para a Democracia em Bruxelas e investiga o islamismo no mundo desde 2005.
–Quando o embaixador do Irã no Vaticano, Akbat Naseri, apresentou suas credenciais, Bento XVI advertiu que o país deveria respeitar o direito dos cristãos à liberdade religiosa. Qual é o estatuto legal dos cristãos no Irã?
–Wahdat-Hagh: Temos de distinguir entre os cristãos étnicos tradicionais do Irã e os novos movimentos cristãos que vieram para o país. As Igrejas armênia e assíria mais ou menos se adaptaram, apesar de que seus membros não podem viver da forma que escolheram. Seus membros sofrem discriminação sistemática nas áreas da educação e trabalho. As mulheres devem por lei usar o véu. Os cristãos e membros de outras religiões reconhecidas, tais como judaísmo e zoroastrismo, são considerados "dhimmis". Os dhimmis são de fato cidadãos de segunda classe e não têm os mesmos direitos que os xiitas. Ademais, os cristãos são considerados "kafar", ou pagãos. Só os que aceitam o Alcorão como última revelação de Deus são crentes. Os pagãos são considerados “impuros”.
–Que sucede com as minorias que não têm o status de "dhimmi"?
–Wahdat-Hagh: Entre elas inclui-se os bahais, que são ilegais. A vida de um cristão segundo a lei iraniana vale menos que a de um muçulmano, como se pode observar nos pagamentos de compensação por um acidente de trânsito. A própria legislação considera a vida de um bahai como absolutamente sem valor, devido à crença bahai em uma revelação de Deus que apareceu depois da vida de Maomé. Além disso, os bahai creem na igualdade dos sexos e no mandamento de promover a paz mundial. Também rejeitam totalmente a violência política. Estes são temas tabu no Islã totalitário fundamentalista e a doutrina estatal iraniana é um reflexo disso.
–O Papa também aludiu à longa tradição do catolicismo no Irã. Há diferenças no modo em que as restrições da liberdade religiosa afetam as diferentes igrejas cristãs?
–Wahdat-Hagh: Os iranianos que vivem de verdade perigosamente são aqueles que se converteram ao cristianismo recentemente e se uniram ao sempre crescente movimento "Home Church". Algumas fontes indicam que estas igrejas domésticas se tornaram mais fortes que a Igreja Católica no Irã. Os convertidos são vistos como apóstatas e correm o risco de execução. No Islã não se permite a um muçulmano se converter a outra religião: implica a pena de morte. Uma nova lei de apostasia será aprovada antes do fim do ano. A vida de centenas de milhares de pessoas está em perigo.
–O Papa disse que a liberdade de fé, consciência e credo são a fonte de todas as demais liberdades. Que significa isso especificamente para o Irã?
–Wahdat-Hagh: O que o Papa disse é verdade e é ainda um grande problema no Islã. Os muçulmanos liberais dizem que não há compulsão no Islã, mas, segundo a lei, nenhum muçulmanos pode deixar a fé islâmica porque o Alcorão é considerado a última palavra de Deus. Para o Irã, isso significa que não há liberdade de fé ou consciência, e por consequinte todas as outras liberdades são inexistentes. Portanto, não pode haver direitos da mulher na República Islâmica, assim como não há liberdade de imprensa, e se tolhe também o direito de congregar-se e forma associações. Mas sobretudo não se concede o direito à vida aos apóstatas. A existência da liberdade de fé, consciência e credo foi proibida no Irã desde o momento em que tudo se baseia na lei islâmica.
–Muitos observadores associam as maiores violações dos direitos humanos com o regime do presidente Mahmoud Admadinejad. Como outros gerenciariam o direito à liberdade religiosa?
–Wahdat-Hagh: Quando Mousavi foi primeiro ministro, nos anos 80, toda a oposição secular foi absolutamente eliminada. Então costumava advertir contra a cooperação com os Estados Unidos e a Europa. O movimento para a reforma social e a liberdade que agora Mousavi usa como um escudo se radicalizou. Hoje Mousavi segue citando a autoridade do totalitário ideólogo e líder revolucionário aiatolá Jomeini. Alguns dizem que ele mudou. O futuro revelará se dará marcha ré à ditadura totalitária da República Islâmica.
–O Papa também fala da cooperação internacional desde uma visão para alcançar a paz global. Que teria de acontecer para que o Irã aceitasse de modo crível este convite?
–Wahdat-Hagh: A questão é o que o Irã deve fazer para tornar possível a cooperação internacional para a paz global. Não é suficiente para ideólogos como Jatami falar do diálogo de civilizações. O Irã tem de superar a ideologia totalitária do jomeinismo e conceder liberdades elementares a seus cidadãos. Um Irã democrático pode também trabalhar de modo crível pela paz global. A sociedade civil iraniana tem potencial para isso.
Fonte: www.zenit.org