[E as reflexões de Santo Afonso sobre o sacerdócio continuam... Dessa vez ele fala sobre o alto posto ocupado pelo padre como ministro do Sacramento da Eucaristia e principalmente da Confissão. Importantíssimo para esse Ano Sacerdotal. A todos os padres e também para os leigos que desejam conhecer sempre um pouco mais sobre a dignidade do sacerdócio. Boa leitura!]
O alto posto ocupado pelo padre
Santo Afonso de Ligório
A excelência da dignidade sacerdotal mede-se também pelo alto posto que o padre ocupa. No sínodo de Chartres, celebrado em 1550, é chamado “a morada dos santos”. Dá-se aos padres o título de vigários de Jesus Cristo, e assim os chama Sto. Agostinho, porque fazem as suas vezes na terra. Tal é também a linguagem empregada por S. Carlos Borromeu no sínodo de Milão: Somos nós os embaixadores de Jesus Cristo; é Deus quem pela nossa boca vos exorta. Foi o que o próprio Apóstolo declarou.
Subindo ao Céu, o divino Redentor deixou os sacerdotes para serem na terra os mediadores entre Deus e os homens, particularmente ao altar, como diz S. Lourenço Justiniano: “Deve o padre aproximar-se do altar como o próprio Jesus Cristo”. S. Cipriano diz: “O padre ocupa verdadeiramente o lugar e desempenha o ofício do Salvador; e S. Crisóstomo: Quando virdes o sacerdote a oferecer o sacrifício, vêde a mão de Jesus Cristo estendida dum modo invisível”.
Ocupa também o padre o lugar do Salvador, quando remite os pecados, dizendo: Ego te absolvo. O grande poder que o Padre eterno deu o seu divino Filho, comunica-o Jesus Cristo aos padres, De suo vestiens sacerdotes, segundo a expressão de Tertuliano.
Para perdoar um pecado, é necessário o poder do Altíssimo, como a Igreja o faz ouvir nas suas orações.
Tinham pois razão os judeus, quando, ao verem que Jesus Cristo perdoava os pecados ao paralítico, disseram: “Quem senão Deus pode perdoar os pecados?” Mas esta graça que só Deus pode fazer pela sua onipotência, o padre a pode também dispensar por estas palavras: Ego te absolvo a peccatis tuis; porque a forma, ou, se o quiserem, as palavras da forma, pronunciadas pelo padre nos sacramentos, operam imediatamente o que significam.
Qual seria o nosso espanto, se víssemos um homem que, mediante algumas palavras, tinha a virtude de tornar branca a pele dum negro! O padre faz mais, quando diz: Eu te absolvo, — porque no mesmo instante demuda em amigo um inimigo de Deus, e um escravo do inferno num herdeiro do Céu.
O cardeal Hugues põe na boca do Senhor estas palavras, que representa dirigidas a um sacerdote ao absolver um pecador: Eu fiz o céu e a terra, mas dou-te o poder para fazeres uma criação mais nobre e melhor: duma alma manchada pelo pecado, faze uma alma nova (Faze uma alma nova, quer dizer, faze que uma alma pecadora e escrava de Lúcifer se torne minha filha). Mandei à terra que produza os seus frutos; dou-te um poder melhor, o de produzires frutos nas almas.
Privada da graça, é a alma como uma árvore seca, que não pode produzir nenhum fruto; mas, recobrando a graça pelo ministério do padre, produz frutos de vida eterna. Santo Agostinho ajunta que a justificação dum pecador é uma obra maior que a de criar o céu e a terra. O Senhor diz a Jó: Tendes vós um braço como o de Deus, e uma voz trovejante como a sua? Ora, quem é que tem um braço semelhante ao de Deus e como Deus faz trovejar a sua voz? É o padre que, dando a absolvição, se serve do braço e da voz do próprio Deus, para livrar do inferno as almas.
Lemos em Sto. Ambrósio que o padre, quando absolve, opera o mesmo que faz o Espírito Santo, quando justifica as almas. Eis por que o divino Redentor, ao conferir aos padres o poder de absolver, lhes deu o seu Espírito: Soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo: aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos. Deu-lhes o seu Espírito que santifica as almas, e estabeleceu-os cooperadores seus, conforme a expressão do Apóstolo. E S. Gregório ajunta: “Receberam o poder judicial supremo, para em nome de Deus remitirem ou reterem os pecados aos outros”. Razão tem pois S. Clemente de chamar ao padre um Deus na terra. Davi disse: Veio Deus à assembléia dos deuses. Segundo a explicação de Sto. Agostinho, os deuses de que fala são os sacerdotes. E eis o que diz Inocêncio III: “Os padres se chamam deuses, por causa da dignidade do seu ofício”.
Santo Afonso de Ligório
“A Selva”, 1ª parte, A dignidade do Padre, V
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/