21.11.2009 -
Papa João Paulo II
O sopro da vida divina, o Espírito Santo, exprime-se e faz-se ouvir, da forma mais simples e comum, na oração. É belo e salutar pensar que, onde quer que no mundo se reze, aí está presente o Espírito Santo sopro vital da oração. É belo e salutar reconhecer que, se a oração se encontra difundida por todo o universo, igualmente difundida é a presença e a ação do Espírito Santo, que «insufla» a oração no coração do homem em toda a gama incomensurável das mais diversas situações e das condições, umas vezes favoráveis, outras vezes contrárias à vida espiritual e religiosa. Em muitos casos, sob a ação do Espírito, a oração sobe do coração do homem, apesar das proibições e das perseguições, e mesmo malgrado as proclamações oficiais, afirmando o caráter a-religioso ou até ateu na vida pública! A oração continua a ser sempre a voz de todos os que aparentemente não têm voz; e nesta voz ecoa, sem cessar, aquele «forte clamor» atribuído a Cristo pela Epístola aos Hebreus (cf. Hb 5, 7). A oração é também a revelação do abismo que é o coração do homem: uma profundidade que vem de Deus e que somente Deus pode preencher, precisamente pelo Espírito Santo! Lemos em São Lucas: «Se vós, portanto, embora sendo maus, sabeis oferecer coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celeste dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem!» (Lc 11, 13).
O Espírito Santo é o Dom, que vem ao coração do homem ao mesmo tempo que a oração. Na oração Ele manifesta-se, antes de mais e acima de tudo, como o Dom, que «vem em auxílio da nossa fraqueza». É o magnífico pensamento desenvolvido por São Paulo na Epístola aos Romanos, quando escreve: «Nós nem sequer sabemos o que devemos pedir como nos convém; mas o próprio Espírito Santo intercede por nós, com gemidos inexprimíveis» (Rm 8, 26). Assim o mesmo Espírito Santo não só nos leva a rezar, mas também nos guia «de dentro» na oração, suprindo à nossa insuficiência e remediando a nossa incapacidade de rezar: está presente na nossa oração e confere-lhe a dimensão divina (cf. Orígenes, De orctione, 2). «Aquele que perscruta os corações (Deus) sabe quais são os desejos do Espírito, porque Ele intercede pelos santos em conformidade com Deus» (Rm 8, 27). A oração, por obra do Espírito Santo, torna-se a expressão cada vez mais amadurecida do homem novo que, através dela, participa na vida divina.
A nossa época difícil tem particular necessidade da oração. Se no decorrer da história, ontem como hoje, homens e mulheres em grande número deram testemunho da importância da oração — consagrando-se ao louvor de Deus e à vida de oração, sobretudo nos mosteiros, com grande proveito para a Igreja — nestes últimos anos vai crescendo também o número das pessoas que, em movimentos e grupos cada vez mais desenvolvidos, põem a oração em primeiro lugar e nela procuram a renovação da vida espiritual. Trata-se de um sintoma significativo e consolador, uma vez que desta experiência tem derivado uma contribuição real para a retomada da oração entre os fiéis, os quais, desse modo, foram ajudados a melhor considerarem o Espírito Santo como Aquele que suscita nos corações uma profunda aspiração à santidade.
Em muitas pessoas e em muitas comunidades amadurece a consciência de que, mesmo com todo o progresso vertiginoso da civilização técnico-científica e não obstante as reais conquistas e as metas alcançadas, o homem está ameaçado, a humanidade está ameaçada. Diante deste perigo, e mais ainda ao experimentar a inquietude perante uma real decadência espiritual do homem, pessoas individualmente e comunidades inteiras, como que guiados por um sentido interior da fé, buscam a força capaz de erguer de novo o homem, de o salvar de si mesmo, dos seus próprios erros e das ilusões que tornam nocivas, muitas vezes, as suas próprias conquistas. E assim descobrem a oração, na qual se manifesta o «Espírito que vem em auxílio da nossa fraqueza». Deste modo, os tempos em que vivemos aproximam do Espírito Santo muitas pessoas, que retornam à oração. E eu confio que todas possam encontrar no ensino da presente Encíclica alimento para a sua vida interior e consigam fortalecer, sob a ação do Espírito Santo, o seu empenho de oração, em consonância com a Igreja e com o seu Magistério.
Papa João Paulo II, Dominum et Vivificantem, n. 65
18 de maio de 1986
Fonte: Santa Sé