09.11.2009 - “A morte e a vida estão no poder da língua, aqueles que a escolhem comerão do seu fruto”. (Provérbios 18,21).
Na Bíblia Sagrada, nossa língua é chamada de “mundo de iniqüidade... que contamina o corpo inteiro... Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus” (Tg 3, 6 . 9).
Na Palavra de Deus encontramos diversas instruções e exortações em relação ao uso da língua. Por exemplo:
“Desvia de ti a falsidade da boca e afasta de ti a perversidade dos lábios” (Pr 4,24). Uma tradução livre do texto seria: “Não permitas que tua boca fale qualquer inverdade; que teus lábios pronunciem difamação ou engano”. Tudo o que é inverdade, tudo o que torce a verdade e tudo o que engana é mentira. O mais difícil para nós realmente é obedecer com a língua, não é mesmo? Uma pesquisa entre jovens alemães a partir de 14 anos revelou que as pessoas engendram alguma mentira a cada oito minutos: “São aproximadamente 200 inverdades durante o dia” (Topic, 04/2002).
A Sagrada Escritura declara com muita propriedade: “a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim” (Tg 3,8-10).
Uma história ilustra todo o poder do que falamos ou deixamos de falar: Um homem riquíssimo tinha convidado muitas pessoas para uma festa. Encarregou seu cozinheiro-chefe de comprar os melhores alimentos. Este foi ao mercado e comprou línguas – somente línguas e nada mais. Apresentou-as como primeiro prato, segundo prato, etc., servindo somente línguas aos hospedes. Os convidados elogiaram a composição da refeição e a idéia original do cozinheiro.
Mas, aos poucos começaram a ficar saturado de tanto comer línguas. O anfitrião se irritou e mandou chamar o cozinheiro: “Não mandei que você comprasse o que há de melhor no comércio?” Ele respondeu: “Existe algo melhor do que línguas? Ela é o vínculo na vida social, a chave para todas as ciências, o órgão que proclama a verdade e a razão. Graças ao poder da língua, edificam-se cidades e as pessoas tornam letradas e cultas”. “É verdade”, concordou o dono da casa. E mais uma vez encarregou o cozinheiro de preparar outro banquete para o dia seguinte, com a ressalva de comprar o que de pior houvesse na feira. Novamente este comprou línguas, somente línguas. Preparou-as das mais variadas maneiras para o banquete. Já que os convidados eram os mesmos, enojaram-se rapidamente do cardápio. O anfitrião sentiu-se ridicularizado e envergonhado, e gritou com chefe da cozinha: “Não mandei que você comprasse o que há de mais ruim? O que você está pensando? Por que serviu línguas outra vez?” Ele respondeu: “A língua também é o que há de pior no mundo, a mãe de todas as contendas e discórdias, a fonte de todos os processos judiciais, das diferenças de opinião e o instrumento que incita à guerra e à destruição. Ela é o órgão que propaga enganos e difamações. Pessoas são levadas ao mal, cidades são destruídas e vidas são aniquiladas pelo poder da língua”.
Para o verdadeiro cristão, longe e bem distante está a mentira, a fofoca, a calúnia, a contenda e a língua hipócrita.
(Ler o Salmo 15,1-3).
O PERIGO DE UMA LÍNGUA SEM FREIOS
Escreve o missionário suíço Norbert Lieth: “Uma língua que não está sob o domínio do Espírito Santo anula qualquer ministério espiritual: “Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganado o próprio coração, a sua religião é vã” (Tg 1,26)”. Como ilustração, vejamos mais um relato.
Um Senhor idoso foi solicitado a conversar com um jovem de sua comunidade que havia roubado a seu chefe e estava na prisão. “Parece que eu conheço de algum lugar”, disse o homem ao jovem, “você não me é estranho”. “Com certeza”, respondeu o prisioneiro, “já faz mais de dez anos, mas parece que foi ontem, pois lembro-me claramente de nosso encontro. O senhor é o culpado de eu me encontrar nesta prisão”. – “Mas como?”, surpreendeu-se o visitante. “Em toda minha vida não lhe fiz mal algum!” – “Não propositalmente; mas certa vez eu vinha com meu pai de uma evangelização, quando encontramos com o senhor no caminho. Meu coração estava profundamente tocado pela pregação que ouviria e eu queria voltar para derramá-lo diante do evangelista. Mas aí ouvi o senhor ridicularizando o pregador, dizendo que ele era inculto e não sabia pregar direito. Essas palavras despertaram em mim um desprezo pela pregação que acabará de ouvir, e a partir de então parei de buscar a salvação da minha alma. Comecei a andar em más companhias e hoje estou aqui na prisão”.
A língua é um poder tanto para vitória como para derrota. Ela pode levar ao céu como para o inferno. Só existe um meio eficaz para que ela não seja usada para destruição, que é o um poder maior do que ela: “A CRUZ DE CRISTO”. (1 Cor 1,18). Para que ela não seja passaporte para perdição, tem que ser pregada e bem crucificada na Cruz de Cristo.
Certa vez o senhor Jesus disse que os homens prestarão contas de qualquer palavra frívola que tiveram falado (Mt 12,36). Portanto, tudo o que falamos fica registrado no céu.
LÍNGUA ABENÇOADA
Quando o profeta Isaías viu a glória de Deus, ficou imediatamente consciente de seus lábios impuros: “No ano da morte de rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque o homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de lábios impuros, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Is 6,1-5).
O rei Davi também sabia o mal que pode ser causado por palavras ditas impensadamente. Por isso, orou: “Põe guarda, Senhor, à minha boca, vigia a porta dos meus lábios. Não permitas que meu coração se incline para o mal...” (Sl 141,3-4).
Devemos orar muito para que o nosso pensamento e as nossas palavras sejam guiadas pela unção do Espírito Santo.
Com a graça de Cristo e o amor do bom Deus usemos a nossa boca para falar bem, edificar, abençoar e proclamar a Boa Nova ao nosso semelhante.
Tenhamos sempre em nossa mente essas ricas e poderosas palavras: “Uma resposta branda aplaca a ira, uma palavra firme atiça a cólera”. “A língua dos sábios cura” (Pr 12,18;15,1).
“A língua dos sábios torna o conhecimento agradável” (Pr 15,2).
“Abençoai os que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis” (Rm 12,14).
Procure sempre alimentar a sua alma com palavras positivas, fortalecedoras e santas. Sua língua pela fé é um paraíso de louvores angelicais.
Você é uma pessoa abençoada, seu lugar é abençoado e as suas palavras são abençoadoras.
Você tem a espada do Espírito Santo, que é a Palavra de Deus. (Ef 6,17). Tudo isso faz você uma pessoa linda, maravilhosa, vitoriosa e delicada. Daí, pessoa como você pode melhorar o mundo com a sua língua tomada e domada de delicadeza.
Delicadeza
Roseana Murray, uma das mais talentosas poetisas de nossa geração, escreveu "O Manual da delicadeza - De A a Z". A seguir alguns de seus versos:
“A alma é invisível
um anjo é invisível
o vento é invisível
o pensamento é invisível
e no entanto
com delicadeza
se pode enxergar a alma
se pode adivinhar um anjo
se pode sentir o vento
se pode mudar o mundo
com alguns pensamentos”.
“Você será lembrado por aquilo que fez de bem aos outros. Por tanto, não se preocupe em gravar suas palavras no mármore, e sim nos corações”, escreveu o Príncipe dos Predadores ingleses Charles Spurgeon.
“Trate todo mundo com delicadeza, mesmo aquelas que são rudes com você. E faça isso não porque é uma pessoa gentil, mas porque a vida fica mais agradável.” (Anônimo).
CONCLUSÃO
Para uma pessoa abençoada e de alma delicada suas palavras falam profundamente ao coração. Sentimos gozo, alegria e o sentido da vida nas palavras carinhosas de pessoas iluminadas pela graça celestial.
Como é gostoso, delicioso e fantástico ouvir pessoas com palavras de fé, de esperança, de amor e de libertação. Estamos carente e muito carente de pessoas amorosas, delicadas e deliciosas.
A pessoa de língua ungida fala de Cristo, fala de bênção, da salvação, fala do céu...
A língua do bem é a língua da delicadeza é a língua dos anjos que é o modelo divino para a nossa. A língua regida pela espiritualidade cristã é a língua do coração místico em louvor, honra e glória a Santíssima Trindade.
Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
E-mail: [email protected]
Fonte:
Chamada da Meia-Noite, Outubro de 2009, pp. 14 e 15.
O Manual da delicadeza – De A a Z, Roseana Murray , Editora FTD.