07.11.2009 - “Procurai viver sempre no silêncio e na esperança”. Santa Teresa de Ávila - Mística e Doutora da Igreja.
Vivemos em uma sociedade pós-moderna, onde reina o hedonismo, o narcisismo, o relativismo, subjetivismo e o consumismo. Os valores cristãos estão sendo detonados.
Na sociedade pós-moderna com seu pluralismo, os elementos sadios estão paulatinamente deteriorando.
A nossa sociedade está bastante doente devido à primazia que se dá ao monstro do barulho. Vivemos em uma zoada danada que nos leva a neurose.
O sistema pensou e continua pensando e trabalhando para eliminar a riqueza da solidão, do silêncio, da meditação e da oração.
A nossa sociedade alienada e manipulada tem medo da solidão. Quando se fala de solidão, é entendido por muito como doença psicológica ou algo muito esquisito.
A solidão é uma prática da rica espiritualidade cristã. Nessa dimensão encontramos a cura para a alma e o corpo, o profundo conhecimento de nós mesmos, do próximo e a intimidade ardente com o Senhor Deus.
A solidão mística esta marcando abissalmente o ser humano faminto de Deus em nossa era.
Já dizia o renomado teólogo Alemão Karl Rahner: “O homem espiritual de amanhã será um místico ou não será mais”.
SOLIDÃO POSITIVA E NEGATIVA
As duas alcançam pessoas de todas as idades, raças, camadas sociais e religiões.
A negativa é a fuga da realidade. É a ignorância dos acontecimentos de si mesmo e de tudo que está ao seu redor.
A solidão negativa é um sentimento muito denso, que pode se tornar bastante cruel. Provoca uma sensação de vazio, de isolamento, de esquecimento, de humilhação, de estar fora do convívio de outras pessoas. A pessoa se sente assustadas e vulneráveis a outras mazelas.
A solidão contragosto que causa angústia, melancolia e é persistente, deve-se procurar ajuda de um profissional.
Pessoas que sofrem por causa da solidão, precisam de alguém que seja sensível as suas emoções e seus problemas.
As dificuldades, particularidades e as condições caracterizam diferentes efeitos em cada pessoa.
Não é fácil conviver com os sentimentos agudos da solidão. Devemos ter paciência, conhecimento, amor e esperança e buscar a cura.
A SOLIDÃO POSITIVA
Viver na solidão, não significa viver solitário. Alguém pode está no meio de uma multidão e se sentir sozinho. Tem pessoas que convivem em família, com amigos no trabalho, na comunidade, no entanto, se sentem solitários e infelizes.
Há uma vocação especial para o silêncio e a solidão. Que o diga os “Monges Cartuxos”. Estes monges têm o mistério do silêncio e da solidão.
A solidão, consciente, vocacional e espiritual é a fonte abissal da felicidade aqui e eterna.
Claro, quando eu falo da solidão, do silêncio, da meditação, da oração, falo de uma filosofia monástica da tradição cristã.
É óbvio, que essa riqueza da espiritualidade monástica não fica restrita somente aos monges.
Tão grande que é que tem poder de alimentar o mundo inteiro.
Realmente, como esse tesouro ainda é pouco descoberto. Quem já fez retiro do silêncio? Quem já fez uma experiência de solidão com o Deus do amor?
A solidão é transcendental. Temos muito a descobri-la. O tempo é eterno e a solidão comunitária com Deus também. Aqui está toda alegria, desejo e o prazer da alma.
Diz São João da Cruz: “Para se progredir, o que mais se necessita é saber calar diante de Deus... a linguagem que ele melhor ouve é a do silêncio de amor”.
A solidão faz parte da intelectualidade da mística cristã. Entender a solidão como abissal comunhão da Santíssima Trindade, a companhia dos anjos, dos santos e consigo mesmo. Para o místico, o deserto, o silêncio e a solidão é uma vocação por excelência. É uma vida alegre e de feliz realização. A sua missão é de um soldado da infantaria do exército de Deus numa guerra infernal, de cuja batalha é a intercessão pela libertação total do gênero humano. A sua missão é impar!
Totalmente oposto a esse contexto é a busca de companhia dos outros, conviver com uma multidão e viver tristemente solitário e infeliz. Essa é atitude boçal da nossa sociedade materialista, depressiva e embrutecida.
CONCLUSÃO
A nossa sociedade precisa aprender a terapia do silêncio.
Necessita da prática curativa da solidão.
Muitas desgraças e mortes são causadas devido o muito falar e barulhar.
A nossa sociedade vive a patologia da zoada e da arenga.
Quem tem consciência dessas mazelas, procura se salvar na colossal dimensão da glória cristã da solidão.
“Jesus subiu ao monte, a fim de orar a sós. Ao chegar a tarde, estava ali, sozinho” (Mt 14,23).
Parece paradoxal. Ficarmos sozinhos com a Santíssima Trindade, os anjos e os santos? Eis aqui o mistério da mística do silêncio.
Nessa espiritualidade, o estar sozinho é estar super acompanhado.
A pessoa pode estar sozinha por tempo indeterminado e amar ardentemente o que faz sem se sentir solitária em nenhum momento de sua vida.
É esse amor ao silêncio que se torna mais eloqüente do que qualquer sermão de um erudito.
É na solidão que encontramos tudo. O Calvário e o Túmulo vazio. Alguém anda ao nosso lado silenciosamente fazendo arder o nosso coração...
Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
E-mail: [email protected]