30.10.2009 - Considera que a polêmica sobre Galileu já foi superada
CIDADE DO VATICANO.- Bento XVI propôs hoje uma nova relação de colaboração entre fé e ciência, em particular a astronomia, superando assim a polêmica provocada durante séculos pelo caso de Galileu Galilei.
Segundo o Papa, a astronomia permitiu e continua permitindo, com suas descobertas, que compreendamos melhor o universo; por outro lado, a fé permite que o cientista descubra as maravilhas da criação.
O pontífice chegou a esta conclusão ao receber hoje um grupo de astrônomos do mundo inteiro que participam de um encontro promovido pelo Observatório Astronômico Vaticano por ocasião do Ano Internacional da Astronomia.
Este Ano Internacional foi convocado pela UNESCO, em comemoração dos 400 anos da invenção do telescópio de Galileu.
A reunião coincide com a inauguração das novas instalações do Observatório Vaticano, dirigido pelo astrônomo e sacerdote jesuíta argentino José Gabriel Funes, em Castel Gandolfo, a cerca de 30 km de Roma.
“Como sabeis, a história do Observatório está vinculada de forma muito real à figura de Galileu, às controversas sobre sua investigação e à tentativa da Igreja de chegar a uma compreensão correta e frutífera da relação entre ciência e religião”, reconheceu o Papa em seu discurso pronunciado em inglês.
Por este motivo, aproveitou o encontro para expressar sua gratidão “não somente pelos cuidadosos estudos que esclareceram o contexto histórico preciso da condenação de Galileu, mas também pelos esforços de todos aqueles comprometidos com o diálogo permanente e a reflexão sobre a complementaridade da fé e da razão, a serviço de uma compreensão integral do homem e do seu lugar no universo”.
O caso de Galileu pôde ser esclarecido graças à comissão de estudo criada por João Paulo II do dia 3 de julho de 1981 até 31 de outubro de 1992, ano do 350º aniversário da morte de Galileu.
O cardeal Paul Poupard, presidente emérito do Conselho Pontifício para a Cultura, coordenou as investigações do começo ao fim, descobrindo como houve erros evidentes no processo, mas ao mesmo tempo constatou que houve manipulações, em muitos livros de história, para dar uma imagem da Igreja como “inimiga da ciência”, segundo esclareceu o próprio purpurado francês à Zenit (cf. “Galileu e Vaticano: caso nunca arquivado”).
Bento XVI constatou diante dos astrônomos que “a cosmologia moderna nos demonstrou que nem a terra que pisamos nem nós somos o centro do nosso universo, composto por bilhões de galáxias, cada uma delas com miríades de estrelas e planetas”.
“No entanto, ao procurar responder ao desafio deste ano – o de elevar os olhos ao céu para redescobrir nosso lugar no universo –, como não ser seduzidos pela maravilha expressada pelo salmista há tanto tempo, quando se perguntava ‘Quando vejo o céu, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que fixaste, que é o homem, para dele te lembrares, e um filho de Adão, para vires visitá-lo?’ (Salmo 8, 4-5)?”
O pontífice confessou sua esperança em que “o assombro e exaltação que estão destinados a ser os frutos deste Ano Internacional da Astronomia levem, muito além da contemplação das maravilhas da criação, à contemplação do Criador e do amor, que é o motivo subjacente da criação”.
As celebrações do Ano Internacional da Astronomia estão acontecendo entre os dias 30 e 31 de outubro. As comemorações incluem uma conferência do Prof. John Huchra, do Centro Harvard-Smithsonian para a Astrofísica e presidente da Sociedade Astronômica Americana.
O programa inclui uma visita à Torre dos Ventos, no Vaticano, construída em 1582, um dos primeiros observatórios astronômicos da história, construído por ocasião da reforma do Calendário Gregoriano.
Os astrônomos podem visitar também os Arquivos Secretos vaticanos e a exposição “Astrum 2009” nos Museus Vaticanos, que apresenta 130 peças históricas, incluídos manuscritos originais de Galileu.
Fonte: www.zenit.org