15.10.2009 - Em grande medida graças ao filme “A lista de Schindler”, muitos sabem algo acerca de Oskar Schindler, o industrial alemão que salvou 1.200 judeus na Segunda Guerra Mundial.
No entanto, durante a guerra, houve em toda Europa outras histórias não contadas de atos similares de heroísmo, muitos deles na Itália. Ainda que nem sempre da dimensão do ato de Schindler, foram atitudes notáveis, repletas de valor.
Agora, um novo livro revela a verdadeira magnitude da quantidade de italianos comuns, muitos deles sacerdotes e religiosas, que ajudaram a salvar judeus do Holocausto.
Com o título It happened in Italy (“Aconteceu na Itália”), a autora, Elizabeth Bettina, uma novaiorquina ítalo-americana, recolhe fascinantes testemunhos dos sobreviventes cujas vidas foram salvas por italianos de toda condição.
Sua busca começou quando, durante as viagens de verão a casa de sua avó, em uma aldeia remota no campo no sul da Itália, viu uma foto de um rabino em uma igreja.
Inteirou-se de que certo número de judeus de fora da Itália tinha vivido na região e, tendo crescido junto a muitos judeus americanos em Nova Iorque, senti natural curiosidade pela história. Mais tarde, descobriu que o povoado foi local de um campo de internação de judeus durante a guerra, um dos muitos que houve na Itália.
Depois de receber o alento de um amigo, decidiu aprofundar em descobrir por que tantas vidas judias salvaram-se na Itália – até 32 mil de uma população de 39 mil, segundo alguns historiadores.
É interessante observar que a taxa de sobrevivência dos judeus que viviam na Itália durante a guerra é uma das mais altas da Europa, e que entre os italianos mais heróicos estava Giovanni Palatucci, que se estima que salvou 5.000 vidas judias. Mas diferentemente de Schindler, que sobreviveu à guerra, Palatucci morreu em Dachar, aos 36 anos.
Ajudar os vizinhos
Bettina destaca que nem todos os italianos arriscaram suas vidas para salvar seus vizinhos judeus, mas que a extensão do heroísmo, no entanto, foi impressionante. “Não posso dizer quantas vezes ouvi: ‘todo povoado sabia que éramos judeus, mas ninguém nos denunciou’”, conta.
A política da Itália durante a guerra foi que aos judeus nascidos no país se permitisse permanecer em seus lares, enquanto que fossem internados em acampamentos os que tivessem chegado antes da guerra. Os acampamentos, no entanto, foram em grande parte muito humanos: o livro mostra judeus vestidos informalmente, sorrindo e tocando instrumentos musicais. Mas quando a Alemanha invadiu o país, suas vidas estiveram em perigo real.
Alguns foram deportados a campos de concentração junto com seus parentes que viviam nesse tempo em outras partes da Europa. “Houve algumas coisas más, e eu as reconheço no livro”, disse Bettina. “Ou alguém te traía, ou não te ajudava...”. Mas acrescenta que há “muitas razões do porquê tantos sobreviveram na Itália, e a conclusão é que alguém os ajudou”.
Ela explica que quem salvou judeus colocando-se em risco de morte (pois eram fuzilados caso descobertos, de acordo com os sobreviventes) divide-se em cinco grupos: o primeiro, o italiano comum e simples que se negava a denunciá-los às autoridades. O segundo, o do oficial de polícia que avisava um dia antes de uma ação policial, dando-lhes tempo de fuga. O terceiro, o da pessoa que trabalhava para as autoridades civis e fornecia documentos de identidade falsos. O quarto era o sacerdote local ou uma religiosa que lhes dava refúgio ou os ajudava expedindo um certificado de batismo falso.
“Tinham uma ordem oficial a esse respeito? Não sei”, disse, quando questionada se talvez o Papa Pio XII tivesse ordenado salvar os vizinhos judeus. “Mas muitas pessoas que entrevistei me disseram que havia um sacerdote ou uma religiosa envolvida em ajudá-las”. Por último, estavam as pessoas que trabalhavam nos campos de internação, e que faziam a vida o mais humana possível para eles (os internos eram livres para fazer o que quisessem, pelo que muitos nunca chegaram a saber que estes campos existiam).
O livro é também o resultado de incontáveis coincidências: muitas pessoas de maneira providencial entravam em contato com Bettina e lhe contavam notáveis histórias repletas de agradecimento aos italianos que as salvaram.
Uma série de coincidências posteriores também lhe permitiu trazer um grupo de sobreviventes ao Vaticano para ter uma audiência especial com o Papa.
Bettina diz que seu livro poderia se converter em um filme, ainda que ela insista em que nunca foi sua intenção. Seu objetivo era mostrar que existem pessoas boas que atuam de modo correto e transmitir um ensinamento importante: “alguns não eram indiferentes”, disse.
(Edward Pentin)
Fonte: www.zenit.org