Padre Thomas D. Williams: Novo livro examina a fidelidade de Deus e nossas dúvidas


11.10.2009 - ROMA- O maior problema que os católicos enfrentam hoje é a crise de confiança em Deus, afirma do padre Thomas D. Williams, LC, autor do livro Can God Be Trusted? Finding Faith in Trouble Times, recém-lançado nos Estados Unidos.

“O mundo de hoje está cheio de traição”, ele afirma em seu livro, “traição de pais, de amigos, de esposos, de sacerdotes, de instituições. Mas os maiores problemas começam quando damos início as questionamentos à fidelidade de Deus. Muitos hoje não estão convencidos de que Deus compre suas promessas, e esta desconfiança pode destruir nossa vida espiritual”.

Nesta entrevista, ZENIT pediu ao padre Williams, professor de teologia em Roma e comentarista do canal de televisão norte-americano CBS, que explique a natureza desta crise e as possíveis soluções que apresenta em seu livro.

–Por que publica um livro em que pergunta se Deus é fiel?

–Pe. Williams: Comecei este livro há três anos, quando me dei conta de como, frequentemente, em conversas espirituais, os problemas das pessoas voltam ao tema ‘confiança em Deus’. Parece-me que todos temos problemas com a confiança e que muitas de nossas dificuldades na vida espiritual estão de algum modo ligadas a uma falta de confiança em Deus.

Por outro lado, é admirável como a Bíblia –por exemplo, no livro dos Salmos– insiste novamente na importância da confiança em Deus, como núcleo de uma vida espiritual. Deus quer que se tenha confiança e quase nos implora que dependamos dele incondicionalmente. Não existe nada mais difícil, nem importante para a vida cristã.

Este livro quer responder a muitas pessoas que possuem dúvidas sobre a fidelidade de Deus. Eu o escrevi especialmente para aqueles que desejam verdadeiramente confiar em Deus, mas que, por alguma razão, têm problemas de confiança.

–Quais são alguns desses problemas?

–Pe. Williams: Para escrever este livro, reuni uma equipe de investigadores que me ajudaram a entrevistar centenas de pessoas nas ruas sobre a confiança em Deus. Queria me assegurar de que não estava apenas projetando minhas próprias experiências e pensamentos, como também respondia as dúvidas, as dificuldades e as perguntas que as pessoas possuem atualmente.

As respostas a estas entrevistas me iluminaram muito e me ajudaram a compreender uma série de atitudes, desde pessoas cuja confiança em Deus parecia inabalável até outras que simplesmente acreditam que Deus não é confiável.

Muitas respostas, a grande maioria, caíram no meio de dois extremos e expressaram um profundo desejo de confiança em Deus, contudo, muitas dificuldades para colocá-la em prática.

–Por exemplo?

–Pe. Williams: Às vezes estas dificuldades vêm de uma série de traições geradas na infância. Custa para as pessoas que se sentem enganadas por seus pais, por exemplo, confiar em Deus (que se apresenta como Pai).

Outros experimentaram as traições de sacerdotes, que ferem profundamente suas relações com Deus e com a Igreja. Alguns vão ao ponto de culpar a si mesmos, pois acreditam que não são dignos da fidelidade dos outros. E quando há este sofrimento nas relações interpessoais, é difícil que não haja influência na relação com Deus.

Já outros se sentem traídos por Deus. Em nossas pesquisas, muitas pessoas afirmaram ter dado plena confiança a Deus, mas disseram que ele falhou. Confiaram nele, mas ele não ofereceu nada. Esta tende de ser uma das experiências mais dolorosas da vida e tínhamos que tratá-la no livro.

–Que diz a uma pessoa que se sente traída por Deus?

–Pe. Williams: O que não pode fazer é pregar. Ninguém quer escutar que está equivocado, que não é justo com Deus ou que pode imaginar o problema. Não seria correto nem construtivo.

Tento falar mais com um companheiro de viagem do que como um professor. Todos já tivemos de enfrentar situações semelhantes a estas e temos de ajudar uns aos outros para superar os obstáculos da fé e da confiança.

O primeiro passo para recuperar a confiança pode vir da compreensão de que Deus não é indiferente a nosso sofrimento. Não é apático, nem distante, nem despreocupado. Na verdade, ele “sente nossa dor” inclusive mais profundamente que nós mesmos. Não foi esta a mensagem da cruz, em que Jesus Cristo escolheu padecer conosco?

–Há caminhos para superar nossa desconfiança?

–Pe. Williams: Acredito que existam muitos. Dedico dois capítulos do livro a um tema que considero fundamental: o ajuste de nossas expectativas sobre Deus. Estou convencido de que muitas vezes (nem sempre), nossas experiências de traição procedam de um mal-entendimento fundamental: esperamos que Deus cumpra as promessas que nunca fez, ao invés de aproveitar plenamente as promessas que nos fez. Todos temos necessidade de comentar nossas expectativas sobre Deus. Quem é Deus para mim? O que Ele me prometeu? O que posso esperar Dele que nunca foi oferecido?

Por exemplo, Jesus Cristo jamais prometeu que, se o seguíssemos tudo seria mais fácil em nossas vidas. Não prometeu segurança no emprego, nem liquidez econômica, nem saúde perfeita, nem casamentos ideais nem muitas outras coisas que de fato gostaríamos. O fato é que, aos seguidores, Jesus Cristo prometeu uma parte de sua cruz todos os dias.

–Temos de redimensionar nossas expectativas para um nível mais racional? Esperar menos para não nos decepcionar?

–Pe. Williams: Não, não. É exatamente o oposto! As coisas que normalmente esperamos de Deus (e sobre as quais nos chateamos quando não recebemos) são os bens temporários e não eternos.

Dói-nos não tê-los, mas este mesmo pode ser um caminho a um coração mais puro e com prioridades mais claras. Deus não nos promete menos que isso, e sim muito mais.

Basta ver algumas das coisas maravilhosas que Jesus Cristo nos promete: promete dizer-nos sempre a verdade. Promete nos amar sempre, incondicionalmente. Promete-nos tudo o que necessitamos para chegar ao céu. Promete que nunca nos exigirá mais do que podemos oferecer. Promete estar sempre conosco e nunca nos deixar sozinhos. Promete dar sentido e valor a todos nossos sacrifícios, lutas, provas e trabalhos. Promete ser nosso prêmio eterno.

Estas coisas não são menos importantes que a seguridade no emprego! São maiores, mais importantes! Deus é o único que pode oferecer tais promessas e cumpri-las.

–Alguns dizem que a confiança de Deus é somente uma desculpa para pessoas preguiçosas que não querem assumir suas próprias responsabilidades. O que pensa disso?

–Pe. Williams: Se trata de uma queixa típica e compreensível, e sim, tento responder em meu livro. Confiança e responsabilidade não se excluem mutuamente, pois se complementam. O segredo está em identificar bem qual é nossa parte e qual parte corresponde a Deus. A virtude da humildade nos ajuda a dar-nos conta de que dependemos de Deus para muitas coisas. Não podemos caminhar sós pela vida; necessitamos da amizade de Deus em cada momento. Mas este reconhecimento sincero de nossa dependência de Deus não nos deveria levar à abdicação de nossas responsabilidades.

Deus nos criou livres, capazes de compromissos e capazes de dominar nossos projetos. No final das contas, não se trata de “ou Deus ou eu”, mas ele nos convida a partilhar de uma responsabilidade com ele. Recorde que Jesus não só compara seus seguidores aos pássaros do céu e lírios do campos. Também nos compara ao administrador fiel, que sabe como distribuir a comida aos servos no momento oportuno. (Lucas 12, 42). Compara-nos aos servidores encomendados com os bens do dono, para administrá-los e “negociar” com eles (Lucas19,13). Lembra seus discípulos que os trabalhadores são poucos e pede-lhes para orar ao Dono da colheita que envie operários para sua messe (Lucas 10,2). Jesus Cristo quer que confiemos, mas também que lance-mos as mãos e trabalhemos.

–Este livro está destinado a reforçar a confiança das pessoas em Deus?

–Pe. Williams: Sim. Todos passamos por momentos difíceis e às vezes o que mais necessitamos é de que alguém nos direcione e nos recorde que Deus é fiel, que a confiança é possível e que, pesar de nossos sofrimentos mais profundos, e inclusive nossos remorsos, somo amados!

Fonte: www.zenit.org


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