A destruição do pecado – Santo Irineu de Lião


06.10.2009 -

[Publico abaixo trecho da obra Demonstração da Pregação Apostólica, de Santo Irineu de Lião (séc. II). São palavras importantíssimas para o constante aumento da nossa fé. No trecho abaixo ele fala especialmente sobre a destruição do pecado que Jesus efetuou por meio da morte de Cruz. Mister faz-se observar a honra que os Padres da Igreja já tributavam à Santíssima Virgem Maria e também a já correta interpretação que tinham das Palavras de Deus. Possamos ouvir atentamente as palavras desse grande escritor cristão e compreender que a correta interpretação da Bíblia passa pelo Magistério da Igreja Católica. Boa leitura!]

Santo Irineu de Lião

Fonte: Patrística Brasil

31. Uniu, pois, o homem com Deus e operou a comunhão entre Deus e o homem, porque não poderíamos, em absoluto, obter participação alguma na incorruptibilidade se não houvesse vindo [o Verbo] habitar entre nós. Pois se a incorruptibilidade tivesse permanecido invisível e oculta, não nos seria de nenhuma utilidade. Fez-se, pois, visível a fim de que integralmente [isto é, em corpo e alma] recebêssemos uma participação desta incorruptibilidade. E porque todos nós estamos envoltos na criação originária de Adão e estamos vinculados à morte por causa da sua desobediência, era conveniente e justo que, por obra da obediência de quem se fez homem por nós, fossem quebradas as [cadeias] da morte. E porque a morte reinava sobre a carne, era preciso que fosse abolida por meio da carne e que o homem fosse libertado de sua opressão. “E o Verbo se fez carne” (Jo 1, 14) para destruir, por meio da carne, o pecado – que, por obra da carne, havia adquirido o poder, o direito de propriedade e domínio – para que não mais existisse entre nós. Por essa razão, nosso Senhor tomou uma corporeidade idêntica à da primeira criatura, para lutar em favor dos primogênitos e vencer em Adão, já que Adão havia nos ferido [de morte].

32. Pois bem: de onde provém a essência da primeira criatura? Da vontade e da Sabedoria de Deus e da terra virgem. “Porque Deus ainda não havia enviado chuva sobre a terra” – diz a Escritura – “antes que o homem fosse plasmado e antes que o homem estivesse ali para cultivá-la” (Gn 2, 5). Desta terra, pois, todavia virgem, Deus tomou o barro e moldou o homem, princípio do gênero humano. Para dar, pois, cumprimento a esse homem, assumiu o Senhor a mesma disposição sua de corporeidade, que nasceu de uma Virgem por vontade e pela Sabedoria de Deus, para manifestar também Ele a identidade de sua corporeidade com a de Adão, e para que se cumprisse o que no princípio havia escrito: “o homem é imagem e semelhança de Deus”.

33. E assim como pela obra de uma virgem desobediente foi o homem ferido e, precipitado, morreu, assim também, reanimado o homem por obra de uma Virgem, que obedeceu a Palavra de Deus, recebeu Ele, no homem novamente reavivado, por meio da vida, a Vida. Pois o Senhor veio buscar a ovelha perdida, isto é, o homem que havia se perdido. De onde não fez o Senhor outra carne senão daquela mesma que trouxe origem a Adão e dela conservou a semelhança. Porque era conveniente e justo que Adão fosse recapitulado em Cristo, a fim de que fosse precipitado e submergido o que é mortal na imortalidade, e que Eva fosse recapitulada em Maria, a fim de que uma Virgem, chamada a ser advogada de uma virgem [Eva], descesse e destruísse a desobediência virginal através da obediência virginal. O pecado cometido por causa da árvore foi anulado pela obediência cumprida na árvore, obediência a Deus pela qual o Filho do homem foi elevado na árvore, abolindo a ciência do mal e aportando e presenteando com a ciência do bem. O mal é desobedecer a Deus; o bem, ao contrário, é obedecer [a Ele].

34. O Verbo, preanunciando por meio do profeta Isaías os acontecimentos futuros – são profetas porque anunciam o que irá acontecer – se expressa assim: “Eu não me rebelo, nem me contradigo. Ofereci minhas costas aos açoites e minha face às bofetadas; não furtarei meu rosto à afronta das cuspidas” (Is 50, 5-6). Assim, pois, pela obediência a que se submeteu até a morte, pendurado no madeiro, destruiu a desobediência antiga cometida na árvore. E como o próprio Verbo onipotente de Deus, em sua condição invisível, está entre nós estendido por todo este universo [visível] e abraça sua largura e sua extensão e sua altura e sua profundidade – pois por intermédio do Verbo de Deus foram dispostas e governadas aqui todas as coisas -, a crucificação [visível] do Filho de Deus teve também lugar nessas [dimensões, antecipadas invisivelmente] na forma da cruz traçada [por Ele] no universo. Ao surgir visivelmente, manifestou a participação deste universo [sensível] em sua crucificação [invisível], a fim de revelar, graças à sua forma visível, sua ação [misteriosa e oculta] sobre o visível, a saber, como é Ele quem ilumina a altura – isto é, o celeste – e contém a profundidade – as regiões subterrâneas – e se estende ao largo, do Oriente até o Ocaso, e governa, como comandante, a região norte e a extensão da Média, e convoca todas as partes e os dispersos para conhecer ao Pai.

35. Realizou-se, assim, a promessa feita por Deus a Abraão, segundo a qual sua descendência seria como as estrelas do céu. Cristo cumpriu a promessa nascendo de uma Virgem, da estirpe de Abraão, e convertendo em estrelas do mundo os crentes n’Ele e justificando os gentios com Abraão por meio da mesma fé. “Abraão creu no Senhor e foi reputado por justo” (Gn 15, 6). Do mesmo modo, também nós somos justificados em virtude da fé em Deus, porque o justo viverá pela fé. A promessa de Abraão não foi feita pelo cumprimento da lei, mas pela fé. De fato, Abraão foi justificado pela fé: “a lei não foi estabelecida para o justo” (1 Tm 1, 9). De igual forma, também nós não somos justificados pela lei, mas sim pela fé, que foi recebida pelo testemunho da lei e dos profetas, e que nos apresenta o Verbo de Deus.

36. E cumpriu o que foi prometido a Davi, pois Deus havia se comprometido a suscitar do fruto de seu seio um Rei eterno, cujo reino não teria fim. Este Rei é Cristo, Filho de Deus, feito filho do homem, isto é, nascido, como fruto, da Virgem descendente de Davi; e se a promessa foi do fruto de seu seio – a saber, um rebento da concepção característica da mulher, e não fruto do homem nem dos rins, como é característico do varão – era para anunciar o que era de único e próprio na produção deste fruto de um seio virginal procedente de Davi, que reina na casa de Davi pelos séculos e cujo reino não conhecerá fim.

37. Em tais condições, pois, realizava magnificamente nossa salvação, mantinha as promessas feitas aos patriarcas e abolia a antiga desobediência. O Filho de Deus se fez filho de Davi e filho de Abraão. Para cumprir as promessas e recapitulá-las em Si mesmo, com o fim de restituir-nos à vida, o Verbo de Deus se fez carne pelo ministério da Virgem, a fim de desatar a morte e vivificar o homem, porque nós estávamos presos pelo pecado e destinados a nascer através do regime do pecado e a cair sob o império da morte.

Santo Irineu de Lião

Demonstração da Pregação Apostólica”, 31-37

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/


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