Papa Bento XVI: A missão do sucessor de Pedro


04.10.2009 -

Trecho da Homilia do Papa Bento XVI
na Basílica de São João de Latrão

7 de maio de 2005

Fonte: Vaticano

(…)

Mas esta sinfonia é dotada também de uma estrutura bem definida: aos sucessores dos Apóstolos, isto é, aos Bispos, compete a responsabilidade pública de fazer com que a rede deste testemunho permaneça no tempo. No sacramento da ordenação episcopal são-lhe conferidos o poder e a graça necessárias para este serviço. Nesta rede de testemunhas, compete ao Sucessor de Pedro uma tarefa especial. Foi Pedro quem expressou primeiro, em nome dos apóstolos, a profissão de fé: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16). Esta é a tarefa de todos os Sucessores de Pedro: ser a guia na profissão de fé em Cristo, o Filho do Deus vivo. A Cátedra de Roma é, em primeiro lugar, a Cátedra deste credo. Do alto desta Cátedra o Bispo de Roma deve repetir constantemente: Dominus Jesus “Jesus é o Senhor”, como escreveu Paulo nas suas cartas aos Romanos (10, 9) e aos Coríntios (1 Cor 12, 3).

Aos Coríntios, com particular ênfase, disse: “Embora haja pretensos deuses, quer no céu quer na terra… para nós, contudo, um só é Deus, o Pai…; e um só é o Senhor Jesus Cristo, por meio do qual tudo existe e mediante o qual nós existimos” (1 Cor 8, 5-6). A Cátedra de Pedro obriga todos os que dela são titulares a dizer como já fez Pedro num momento de crise dos discípulos quando muitos queriam afastar-se: “A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Por isso nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus” (Jo 6, 68-69). Aquele que se senta na Cátedra de Pedro deve recordar as palavras que o Senhor disse a Simão Pedro durante a Última Ceia: “… e tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos…” (Lc 22, 32).

Aquele que é titular do ministério petrino deve ter a consciência de que é um homem frágil e débil como são frágeis e débeis as suas próprias forças constantemente necessitado de purificação e de conversão. Mas ele também pode ter a consciência de que do Senhor lhe vem a força para confirmar os seus irmãos na fé e mantê-los unidos na confissão de Cristo crucificado e ressuscitado. Na primeira carta de São Paulo aos Coríntios, encontramos a narração mais antiga que possuímos da ressurreição. Paulo recolheu-a fielmente das testemunhas. Esta narração fala primeiro da morte do Senhor pelos nossos pecados, da sua sepultura, da sua ressurreição, ao terceiro dia, e depois diz: “apareceu a Cefas e depois aos Doze” (1 Cor 15, 5). Assim, mais uma vez, é resumido o significado do mandato conferido a Pedro até ao fim dos tempos: ser testemunha de Cristo ressuscitado.

O Bispo de Roma senta-se na Cátedra para dar testemunho de Cristo. É o símbolo da potestas docendi, aquele poder de ensinar que faz parte essencial do mandato de ligar e desligar conferido pelo Senhor a Pedro e, depois dele, aos Doze. Na Igreja, a Sagrada Escritura, cuja compreensão aumenta sob a inspiração do Espírito Santo, e o ministério da interpretação autêntica, conferido aos apóstolos, pertencem um ao outro de modo indissolúvel. Onde a Sagrada Escritura é separada da voz viva da Igreja, torna-se vítima das controvérsias dos peritos. Sem dúvida, tudo o que eles têm para nos dizer é importante e precioso; o trabalho dos sábios é para nós um grande contributo para poder compreender aquele processo vivo com o qual a Escritura cresceu e para compreender a sua riqueza histórica. Mas a ciência sozinha não nos pode fornecer uma interpretação definitiva e vinculante; não é capaz de nos fornecer, na interpretação, aquela certeza com a qual podemos viver e pela qual podemos até morrer. Por isso é necessário um mandato maior, que não pode surgir unicamente das capacidades humanas. Por isso é necessária a voz da Igreja viva, daquela Igreja confiada a Pedro e ao colégio dos apóstolos até ao fim dos tempos.

Este poder de ensinamento assusta muitos homens dentro e fora da Igreja. Perguntam-se se ela não ameaça a liberdade de consciência, se não é uma soberba em oposição à liberdade de pensamento. Não é assim. O poder conferido por Cristo a Pedro e aos seus sucessores é, em sentido absoluto, um mandato para servir. O poder de ensinar, na Igreja, obriga a um compromisso ao serviço da obediência à fé. O Papa não é um soberano absoluto, cujo pensar e querer são leis. Ao contrário: o ministério do Papa é garantia da obediência a Cristo e à Sua Palavra. Ele não deve proclamar as próprias ideias, mas vincular-se constantemente a si e à Igreja à obediência à Palavra de Deus, tanto perante todas as tentativas de adaptação e de adulteração, como diante de qualquer oportunismo.

O Papa João Paulo II fez isto quando, perante todas as tentativas, aparentemente benévolas para com o homem, perante as erradas interpretações da liberdade, realçou de maneira inequivocável a inviolabilidade do ser humano, a inviolabilidade da vida humana desde a concepção até à morte natural. A liberdade de matar não é uma liberdade, mas é uma tirania que reduz o ser humano à escravidão. O Papa tem a consciência de que está, nas suas grandes decisões, ligado à grande comunidade da fé de todos os tempos, às interpretações vinculantes que cresceram ao longo do caminho peregrinante da Igreja. Assim, o seu poder não é superior, mas está ao serviço da Palavra de Deus, e sobre ele recai a responsabilidade de fazer com que esta Palavra continue a estar presente na sua grandeza e a ressoar na sua pureza, de modo que não seja fragmentada pelas contínuas mudanças das modas.

A Cátedra é repetimos mais uma vez símbolo do poder de ensinamento, que é um poder de obediência e de serviço, para que a Palavra de Deus a verdade! possa resplandecer entre nós, indicando-nos o caminho da vida. Mas, falando da Cátedra do Bispo de Roma, como não recordar as palavras que Santo Inácio de Antioquia escreveu aos Romanos? Pedro, vindo de Antioquia, a sua primeira sede, dirigiu-se para Roma, sua sede definitiva. Uma sede que se tornou definitiva através do martírio com o qual ligou para sempre a sua sucessão em Roma. Inácio, por seu lado, permanecendo Bispo de Antioquia, estava destinado ao martírio que teria que sofrer em Roma. Na sua carta aos Romanos refere-se à Igreja de Roma como “[à]quela que preside no amor”, expressão muito significativa. Não sabemos com certeza o que Inácio pensava exatamente quando usou estas palavras. Mas na Igreja antiga, a palavra amor, agape, referia-se ao mistério da Eucaristia. Neste mistério o amor de Cristo torna-se sempre tangível entre nós. Nele, Ele oferece-se sempre de novo. Nele, Ele deixa que trespassem o seu coração sempre de novo; nele, Ele mantém a sua promessa, a promessa que, da Cruz, teria arrebatado tudo a si. Na Eucaristia, nós próprios aprendemos o amor de Cristo. Foi graças a este centro e coração, graças à Eucaristia, que os santos viveram, levando o amor de Deus ao mundo de maneiras e formas sempre novas. Graças à Eucaristia a Igreja renasce sempre de novo! A Igreja mais não é do que aquela rede a comunidade eucarística! na qual todos, recebendo o mesmo Senhor, nos tornamos um só corpo e abraçamos o mundo inteiro. Presidir na doutrina e presidir no amor, no final, devem ser uma só coisa: toda a doutrina da Igreja, no final, conduz ao amor. E a Eucaristia, enquanto amor presente de Jesus Cristo, é o critério de qualquer doutrina. Do amor dependem a Lei e os Profetas (Mt 22, 40). O amor é o cumprimento da lei, escrevia São Paulo aos Romanos (13, 10).

(…)

Papa Bento XVI

Homilia, 7-05-05

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/


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