“Quanto é difícil salvar-se no mundo”
São João Crisóstomo
Então – me dirás – é verdade que se perdem e naufragam os que habitam as cidades e teremos que deixá-las e despovoá-las para irmos ao deserto e habitar os cumes das montanhas? E és tu quem isto ordenas e esta lei impões?
- Pelo contrário. Como já disse, melhor seria o oposto, e faço votos a Deus que gozemos de tanta paz e seja arrancada a tirania destes males pela raiz, que não só não tenham necessidade os que habitam as cidades de tomar de assalto as montanhas, mas que mesmo os que moram nos desertos, e, como desterrados por longo tempo, voltem a sua própria cidade. Porém o que iremos fazer! Eu temo que, ao empenhar-nos em devolvê-los a sua pátria, em lugar de entregá-los a esta, os coloquemos nas mãos dos malignos demônios e, querendo livrá-los da solidão e do desterro, os façamos perder sua filosofia e tranqüilidade.
E se puseres diante de mim a multidão dos que vivem nas cidades e se crês deste modo comover-me e espantar-me, pois não me importarei em condenar pouco menos que toda a face da terra, eu lançarei mão da sentença do Cristo e com ela farei frente a tua objeção. Para que não venhas a cometer tamanha temeridade como te opores ao voto de quem um dia há de nos julgar. O que disse, pois, Cristo?
“Estreita é a porta e apertado é o caminho que leva à vida e poucos são os que o encontram” (Mt 7, 14).
E se são poucos os que acham o caminho, muito menos são os que têm força para chegar até o término do mesmo. Com efeito, nem todos os que a princípio entram por ele, se mantêm firmes até o fim. Uns naufragam no começo, outros pelo meio, outros na própria boca do porto. E em outra ocasião disse o Senhor que “muitos são os chamados e pouco os escolhidos” (Mt 20, 16).
Pois bem, quando é o próprio Cristo quem afirma que a maior parte se perde e limita a salvação a uns poucos, porque tu te revoltas contra mim? É como se contando a ti o que aconteceu no tempo de Noé, te admirasses que todos tivessem perecido e só dois ou três homens escapassem de tão grande castigo, esperando deste modo tapar-me a boca, como se eu não houvesse de me atrever a condenar tanta gente.
São João Crisóstomo
“Contra os impugnadores da vida monástica”, disc. 1, c. 11
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São João Crisóstomo,
rogai por nós!
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com