“O mundo sob a tirania do pecado”
São João Crisóstomo
Porque, na verdade, não penses que a situação do mundo é agora melhor que a de uma cidade sob o domínio de um tirano, mas muito pior. Não um homem, mas algum demônio maligno se apoderou como um tirano feroz de toda a terra e invadiu com toda a sua hoste as almas dos homens, e dali, como de uma cidadela, dita a todo o mundo suas ordens abomináveis e sacrílegas: Desfaz casamentos, saqueia riquezas, executa mortes iníquas e, o que é muito mais grave, separa do trato com Deus a alma que com Ele se desposara e a entrega a seus guardas impuros e a obriga que se una a eles.
E estes, uma vez que se tenham apoderado de uma destas almas, têm com ela trato tão vergonhoso e insolente qual se pode supor de demônios perversos, que ardente e furiosamente desejam nossa perdição e desonra. Despem-na de todas as vestes da virtude, e cobrem-na com os farrapos dos vícios, imundos, despedaçados e fedorentos que a deixam mais feia que a própria nudez e, depois de enchê-la com toda a sua impureza diabólica, ainda não se dão por satisfeitos em suas insolências contra ela.
E é assim que não conhecem saciedade neste sacrílego e adúltero convívio, senão o modo de agir de bêbados que quanto mais bebem mais ficam sedentos, assim estes, quanto mais abusam da alma, tanto mais se enfurecem e com mais violência e ferocidade saltam sobre ela, rasgando-a e mordendo-a por todas as partes, inoculando seu próprio veneno e não a abandonando, enfim, até vê-la convertida em demônio como eles separada do corpo.
Pois, que tirania, que prisão, que destruição, que escravidão, que guerra, que naufrágio, que fome pode ser mais dura que semelhante estado? E quem será tão cruel e feroz, quem tão tolo, quem tão desumano, tão alheio à dor e à compaixão que, o quanto estiver em suas mãos, não queira livrar uma alma assim ultrajada e maltratada daquela sacrílega fúria e insolência, mas que consinta vê-la sofrer tudo isso? Mas se o consentimento for de uma alma feroz e de pedra, onde colocaremos, dize-me, os que não só o consentem, mas os que cometem crimes muito maiores que este?
E é a quem tem coragem de se lançar no meio dos perigos e não se importam de meter a mão na cara da fera, sem considerar o mal cheiro e o perigo, para arrancar da garganta do demônio as almas que já tinham devorado; a estes, digo, não só não os louvam nem aprovam, mas os expulsam de todas as partes e lhes declaram a guerra.
São João Crisóstomo
“Contra os impugnadores da vida monástica”, disc. 1, c. 10
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São João Crisóstomo,
rogai por nós
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/