18.08.2009 - Audiência do Papa João Paulo II, no dia 19 de agosto de 1998
1. O apóstolo Paulo, no oitavo capítulo da Carta aos Romanos, explicando a ação do Espírito Santo que nos torna filhos do Pai em Jesus Cristo (cf. 8, 14-16), introduz o tema do caminho do mundo rumo ao seu cumprimento, segundo o desígnio divino. Com efeito, o Espírito Santo, como já explicamos nas catequeses precedentes, está presente e continua a operar na criação e na história da salvação. Poderíamos dizer que Ele envolve o cosmos com amor e misericórdia de Deus e, assim, dirige a história da humanidade para a sua meta definitiva.
O cosmos é criado por Deus como habitação do homem e teatro da sua aventura de liberdade. Em diálogo com a graça, cada ser humano é chamado a aceitar de maneira responsável o dom da filiação divina em Jesus Cristo. Por esta razão, o mundo criado adquire o seu verdadeiro significado no homem e para o homem. Este não pode, certamente, a seu bel prazer dispor do cosmos em que vive, mas com a sua inteligência e a sua vontade deve levar à plena realização a obra do Criador.
«O homem — ensina a Gaudium et spes — criado à imagem de Deus, recebeu o mandamento de dominar a terra com tudo o que ela contém e governar o mundo na justiça e na santidade e, reconhecendo Deus como Criador universal, orientar-se a si e ao universo para Ele; de maneira que, estando todas as coisas sujeitas ao homem, seja glorificado em toda a terra o nome de Deus» (n. 34).
2. Para que se realize o desígnio divino, o homem deve usar a sua liberdade em sintonia com a vontade de Deus e vencer a desordem introduzida pelo pecado na sua vida e no mundo. Este dúplice empreendimento não pode acontecer sem o dom do Espírito Santo. Ressaltam-no com vigor os profetas do Antigo Testamento. Assim o profeta Ezequiel: «Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um espírito novo: arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Dentro de vós porei o Meu espírito, fazendo com que sigais as Minhas leis e obedeçais os Meus preceitos… Sereis o Meu povo e Eu serei o vosso Deus» (36, 26-28).
Esta profunda renovação pessoal e comunitária esperada na «plenitude dos tempos» e realizada pelo Espírito Santo envolverá, em alguma medida, o cosmos inteiro. Escreve Isaías: «Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto se converterá em vergel… No deserto habitará o direito, e a justiça no vergel. A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre. O meu povo repousará em abrigos tranquilos» (32, 15-18).
3. Para o apóstolo Paulo esta promessa cumpre-se em Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado. De fato, Cristo redime e santifica, por meio do Espírito, aquele que acolhe na fé a sua Palavra de salvação, transforma-lhe o coração e, por consequência, as relações sociais.
Graças ao dom do Espírito Santo, o mundo dos homens torna-se «spatium verae fraternitatis», espaço de uma verdadeira fraternidade (cf. Gaudium et spes, 37). Essa transformação do agir do homem e das relações sociais exprime-se na vida eclesial, no empenho nas realidades temporais e no diálogo com todos os homens de boa vontade. Este testemunho torna-se sinal profético e princípio de fermentação da história rumo ao advento do Reino, na superação de tudo aquilo que impede a comunhão entre os homens.
4. Nesta novidade de vida na edificação da paz universal, por meio da justiça e do amor, é chamado a participar, de modo misterioso mas real, também o cosmos. Como ensina o apóstolo Paulo: «Porque a criação aguarda ansiosa a revelação dos filhos de Deus; se ela foi submetida à vaidade — não voluntariamente, mas por causa de quem a submeteu — foi com a esperança de ser, também ela, libertada da servidão da corrupção para participar, livremente, da glória dos filhos de Deus. Sabemos, com efeito, que toda a criação tem gemido e sofrido as dores de parto, até ao presente. E não só ela, mas também nós próprios, que possuímos as primícias do Espírito, gememos igualmente em nós mesmos, aguardando a filiação adotiva, a libertação do nosso corpo» (Rm 8, 19-23).
A criação, vivificada pela presença do Espírito criador, é chamada a tornar-se «morada da paz» para a inteira família humana. A criação realiza esta finalidade através da mediação da liberdade do homem, que Deus pôs como seu guardião. Se o homem se fecha egoisticamente em si mesmo, por uma falsa concepção da liberdade, fatalmente envolve nesta perversão a própria criação.
Ao contrário, através do dom do Espírito Santo que Jesus Cristo efunde em nós do seu lado dilacerado na Cruz, o homem adquire a verdadeira liberdade de filho no Filho. Ele pode, então, compreender o verdadeiro significado da criação e operar para que ela se torne «morada da paz».
Neste sentido, Paulo pode afirmar que a criação geme e aguarda a revelação dos filhos de Deus. Só se o homem com a luz do Espírito Santo se reconhece filho de Deus em Cristo e olha para a criação com sentimento de fraternidade, o cosmos inteiro é libertado e remido segundo o plano divino.
5. A consequência destas reflexões é deveras consoladora: o Espírito Santo é a verdadeira esperança do mundo. Ele não só opera no coração dos homens, no qual introduz aquela estupenda participação na relação filial que Jesus Cristo vive com o Pai, mas eleva e aperfeiçoa as atividades humanas no universo.
Estas — como ensina o Concílio Vaticano II — «devem ser purificadas e levadas à perfeição pela cruz e ressurreição de Cristo. Porque, remido por Cristo e tornado nova criatura no Espírito Santo, o homem pode e deve amar até as coisas criadas por Deus. Pois recebeu-as de Deus e considera-as e respeita-as como vindas da mão do Senhor. Dando por elas graças ao benfeitor e usando e aproveitando as criaturas em pobreza e liberdade de espírito, é introduzido no verdadeiro senhorio do mundo, como quem nada tem e tudo possui. “Todas as coisas são vossas; mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1 Cor 3, 22-23)» (Gaudium et spes, 37).
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Caríssimos Irmãos e Irmãs:
Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus (Rm 8,14). Com estas palavras, o Apóstolo Paulo introduz o tema do caminho da humanidade em direção ao cumprimento dos planos de Deus. Para que este desígnio divino se realize, o homem deve fazer uso da sua liberdade, conformando-a com a vontade de Deus. Trata-se de uma renovação pessoal e comunitária que, iniciada por Cristo morto e ressuscitado, redime e santifica o coração dos homens e as relações sociais. A criação, vivificada pela presença do Espírito criador, é chamada a tornar-se «morada da paz» (Is 32,18), para a inteira família humana.
Saúdo com muito afeto os peregrinos de língua portuguesa aqui presentes. A todos faço votos de paz e de prosperidades cristãs. (…) Grato pela vossa visita, desejo e peço a Deus que leveis deste encontro a consciência da dignidade da vossa vocação de cristãos, buscando, como filhos de Deus, a santidade no meio dos vossos afazeres diários. Com a minha Bênção Apostólica.
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/